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quarta-feira, 18 de julho de 2012


Estrebuchar: é a minha área.

Recebo os choques, constantemente, como todos os outros,

mas ainda consigo estrebuchar.

Não me aninho, nem fujo ( só de vez em quando…) –

também não há p’ra onde fugir –

nem me finjo de morta.

Estrebucho.

Faço questão de ordenar ao meu corpo

(já cansado, já massacrado – como o de todos os outros)

que estrebuche:

 - Vá, diz-lhes! Diz-lhes que estamos vivos.

-  Vá, mostra-lhes! Mostra-lhes que não gostas.

 Lança-lhes o teu olhar húmido de ódio,

 e mostra-lhes que tens o direito inalienável a viver condignamente.

 É teu.

Pode ser que um dia os choques se cansem e se aninhem

(de quando em vez…) –

e não tenham p’ra onde fugir,

e se finjam de mortos.

Pode ser que, finalmente,

percebam o seu dever.



(Conceição Sousa)

sexta-feira, 6 de julho de 2012




sorrimos o cálice da porta entreaberta;

provámos o arrepio da noite que foge à janela que brada;

deslizámos na labareda do precipício rubro,

num abraço de asfalto a tocar a nudez da cascata;

sentimos – na partícula do que  se passou a ser,

no átomo do que se soube a saber, na faísca do que se rebentou a conhecer –

o embargo das vozes paridas e chamuscadas;

corremos por entre um emaranhado de fustigadas carnívoras,

de fisgadas traições sedentas de palco, de contidos bocejos no pasmo do onde…

e silenciámos o medo ao converter o espanto num beijo cavernoso:

ainda é escuro, sim; ainda é fresco, sim; ainda é húmido, sim –

e as feras mansas aguardam lá fora. escutam o nosso rugir…

assombram-se , e não entram. Hummmmm!



(Conceição Sousa in “podes ir, mas não sem antes voltar.”)

quarta-feira, 4 de julho de 2012



Contemplo,  ao longe,


como que numa película de um outro filme,


espaços


( aromas, cores, toques, sons, paladares…)


 e pessoas


(afectos, laços, carinhos, olhares , sorrisos…)


 de outrora –

as mesmas, exactamente as mesmas


(embora os corpos mais enrugados, mais envelhecidos, mais empedernidos,


 mais decaídos, mais ternurentos, mais silenciosos, mais apagados, mais tristes,


mais ausentes)


que trago comigo neste filme


de agora.


E até eu, naquele tempo longínquo,


já não me pareço eu,


mas um outro que atrás de mim minto:


um outro que imagino ter sido real


( e foi! – assim o dizem as fotografias, as folhas amarelecidas,

as letras esvanecidas, as fitas repletas de gente, de movimentos e sons


e ruídos de palpável : o simples trabalhar do rio na sua correnteza),


que, embora o tenha sido (real?), agora duvido lá ter sequer estado –


naquele tempo, naquele lugar, naquele amar. Estranho…


E não são as fotografias, as fitas, os pedaços embrulhados e rasgados de papel,


que me dizem lá ter estado, não! É mesmo esta ternura com que revejo esses


lugares, essas pessoas ( a minha de outrora também).


Sei que nem sempre foi bom, nem sempre foi sereno, nem sempre foi pacífico.


Sei que, na verdade,  foi sempre com raiva, com luta, com paixão, com ódio até!


(do bom, do que quer bem…)

Mas, agora , não são essas as pessoas que ficaram,


não são essas as pessoas que estão.


As que ficaram, as que estão, são as do abraçar, do amparar,


do guardar, do proteger,  do acarinhar, do beijar, do amar.


A ventania foi-se, o vendaval foi-se,  a monção foi-se.


Ficou a terra húmida serena das lágrimas felizes.


Ficou o rio sorridente da cascata tranquila.


Ficou o oceano sussurrante da casa que guarda,


do lar que preserva, do monte que acolhe, da ferida que conserva.

Ficou o amar. Pura e simplesmente o amar.


Porque todos os astros que se ergueram,


todos os movimentos que erraram, todas as tempestades intransponíveis


que se juntaram


(sei-o, agora),


eram o seio de Deus -


a segurar as suas partículas em colo firme e coeso,


a amamentar de vida as fendas por preencher, por acabar,


por esvaziar -,

eram o caminhante  por navegar, o horizonte por descobrir,


o avanço por antecipar,


eram tu ( só tu) a me chamar, origem: encaixar.


Desbobinar. Contemplo…



(Conceição Sousa)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Senses is she in the valley of shadows


 Touching her bones and mighty deep scars

 Aching the pains of the dead in the meadows

 Sewing the thread of life up till Mars

 Ashes in forests she finds all alone

 Home is a concept completely awaken

 Endeavours the spirit of a heart loan

 Light and magic are spread and mistaken

 Enchantment arises in a full Moon

 Neverending stories are coming soon

Characters mischievous enlighten the power

 Hosts are considered, in hotels remain

 Respectful leaders speak up in the tower

 Inflicting confidence the love they sustain

 So now she believes, and frightens her pain.

 
( by Conceição Sousa)
Upon shooting stars I look


 Wishing them to be quiet and still

 Wondering where is my Captain Hook

 Longing to say what I truly feel

 Disappointed I keep asking myself

 Whether my "being" is an awkward one

 Lately all seem to put me on a shelf

 Or accusing me of wrongly done

 The black hole opens before the existence

 Inviting her to jump into sleep

Temptation is huge and hard the surveillance

 Of fighting for justice...it's just a leap...

 
(by Conceição Sousa)