tag:blogger.com,1999:blog-85001814424675733242024-02-21T16:37:11.772+00:00EcodalmaPara quem respira... nem que seja um pequeno sopro. Eu ainda respiro logo sonho...
Ainda que doa ao doer, doa mais ao doar: doa-te.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.comBlogger1001125tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-29355354585455117072015-09-26T20:43:00.003+01:002015-09-26T20:43:23.158+01:00<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF18pZEuqm7OA4GGj_lWT0TgvVODtckLllQoR6zpcAFrCZaE6CEPCuD1eQC-A_fxfhbojY2aCPhBB150ra9h87Dx74UO_E2NKVga1pHpWzW3-6BxW2m3DZ-O_CtlLolhwSxtcToa3liGY/s1600/Cartaz-Fica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF18pZEuqm7OA4GGj_lWT0TgvVODtckLllQoR6zpcAFrCZaE6CEPCuD1eQC-A_fxfhbojY2aCPhBB150ra9h87Dx74UO_E2NKVga1pHpWzW3-6BxW2m3DZ-O_CtlLolhwSxtcToa3liGY/s640/Cartaz-Fica.jpg" width="450" /></a></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-78236438460618329912015-09-26T20:40:00.002+01:002015-09-26T20:44:46.415+01:00"FICA", convite<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTs0FAbA8M2G6v5y4oLNPgs_73vuYlcoVxPiGKdicViSWl4SiBQiHrYbyCE-4egLJPsAYmZ_hW7eSAV9j3Lr89La9X2AZbRKprThEKYssFeKSs07be5Lzv8A8E3GL_gmHcfx_28mzGVdc/s1600/Convite-Fica.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="278" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTs0FAbA8M2G6v5y4oLNPgs_73vuYlcoVxPiGKdicViSWl4SiBQiHrYbyCE-4egLJPsAYmZ_hW7eSAV9j3Lr89La9X2AZbRKprThEKYssFeKSs07be5Lzv8A8E3GL_gmHcfx_28mzGVdc/s640/Convite-Fica.jpg" width="640" /></a></div>
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Boa tarde! </div>
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Venho, por este meio, convidá-lo (la) para o lançamento do meu mais recente livro, o romance "FICA" (com a chancela da Chiado Editora), que decorrerá na Biblioteca Municipal Raul Brandão em Guimarães, no dia 3 de Outubro, Sábado, pelas 11h da manhã. </div>
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Informo, de igual modo, que toda a minha obra artística, no ramo da escrita, estará em exposição na loja do Sr. Júlio Alfarrabista (na rua da Rainha, em Guimarães), nos dias 3 e 4 de Outubro, inserida no evento Noc-Noc Guimarães (grande exposição da obra de vários artistas nacionais e internacionais).</div>
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Peço a gentileza de encaminhar o convite em anexo a quem interessar. A entrada é livre.</div>
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Muito grata.</div>
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Conceição Sousa</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-85719960400087593442015-08-03T17:33:00.000+01:002015-08-03T17:33:00.429+01:00Carta a um companheiro errado<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_55bf967f90f4f5f77237897">
Carta a um companheiro errado, na esperança de que ainda haja tempo para mim:<br />
Amei-te com dedicação, amei-te porque quis, porque tive vontade e sentia-me feliz quando cuidava de tudo em redor para que pudesses sentir-te ainda mais feliz. Nunca esperei gratidão, sabes? Até sou daquele tipo de pessoa que fica sem jeito quando lhe é tecido um elogio ou quando alguém solta em palavras o que, a todos os momentos, os olhos já haviam dito " Sou-te tão grato...". Nunca, nunca, espere<span class="text_exposed_show">i gratidão, sabes? Amo, porque amo, porque sim, porque o oposto de amar ou o vazio de amar não encontra espaço em mim. Amei-te muito, durante longo tempo, e com sincera dedicação... mas não suporto a ingratidão, abomino essa má fé, essa linguagem do corpo de quem desdenha quem sempre lhe quis e lhe fez bem. Tudo morre dentro de mim quando me lanças o olhar envenenado de quem esperou mais ainda e remoeu o fio de nylon que faltava; de quem teceu no esquecimento agro o prazer rendilhado de décadas felinas no encalço de uma lingerie tão de afável negro quanto de condenável rubro. Tudo morre, morreu, dentro de mim, sabes? E é ingratidão, sim. Não tenho de continuar a amar-te, ouve...não tenho de continuar a amar-te. E tu não tens de continuar a olhar-me de um inferno ao qual faço questão de não pertencer. Vai, tu, mais o teu inferno, vai... mesmo que penses que o teu inferno sou eu e tudo o mais que tu ainda querias e que eu, porventura, não sabia que querias e não consegui te dar. Não amo para que me sejas grato, já to disse, mas também te implorei que não suporto essa fome de mais, esse rosto tolhido pelo fel do que ainda querias de mim, essa mágoa cega e ingrata de quem nunca perguntou "Estás bem?", de quem nunca respondeu ao amor com o peito aberto e o sorriso franco de um "Não te preocupes...eu estou aqui, atento a ti". E à ingratidão magoada, a minha única resposta é o silêncio resignado e a total falta de dedicação.</span><br />
<span class="text_exposed_show"></span><br />
<span class="text_exposed_show">Conceição Sousa</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-42976574070355940532015-07-14T14:22:00.001+01:002015-07-14T14:34:18.149+01:00Humanismo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAp0uUpNZw_MLeFF95191BHPqmY1H0uOLv13GN06QOHBWr-KkBMJvMX3_u64G-gBhOgFqTRkZu82gLvQqwKoqAAs9S4xjy1PF8HQPxGe_bdbAHlfIcKtZNVtmWzm_4Vu_Z26C8HKuLCus/s1600/001_4.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAp0uUpNZw_MLeFF95191BHPqmY1H0uOLv13GN06QOHBWr-KkBMJvMX3_u64G-gBhOgFqTRkZu82gLvQqwKoqAAs9S4xjy1PF8HQPxGe_bdbAHlfIcKtZNVtmWzm_4Vu_Z26C8HKuLCus/s320/001_4.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Há um caminho que parte do mundo insiste em seguir. Um caminho que nos entrega ao ego, à ganância, ao poder e nos exclui da partilha, do que somos e do que conseguimos, com todos os outros. Há Homens que lutam pelo que todos somos, que percebem a fragilidade da vida e conseguem ser altruístas ao ponto de saber ceder nas próprias convicções para que todos possamos não ser ainda mais sacrificados. Actualmente, na Europa, temos um Schäuble, que representa o que chamo de "abocanhamento" de tudo o que é material, essa parte do mundo a que me referi, de quem até saliva por mais poder, e temos um <a class="profileLink" data-hovercard="/ajax/hovercard/page.php?id=12224403053" href="https://www.facebook.com/tsiprasalexis">Alexis Tsipras</a>, que pertence ao segundo tipo de Homens, os que não abdicam dos valores humanistas: do respeito por si mesmo e ao próximo, da bondade, do amor fraterno, da coragem, do desprendimento do supérfluo financeiro. Desde tempos muito antigos que uma parte do mundo só anseia dominar todo o mundo;desde tempos muito antigos que uma outra parte do mundo dói-se pelo sofrimento de todo o mundo e reage, rebela-se, com coragem, força, inteligência, por amor à vida, à sua e à de todos os que lhe são próximos. Essa parte corajosa do mundo começa sempre por ser pequena, começa por um, sempre por um, mas a força de um espírito - quando todos os outros sentem que já estão mortos, por isso mais vale lutarem por viver - contagia, e como qualquer contágio que se preze, é veloz e eficaz. Há-de haver mais sofrimento, mais pesar, mais mortes, mas a História ensina que quando damos as mãos e nos doemos pelo bem de todos, não há Schäuble que possa vencer a luta por uma vida digna no seio das comunidades. Se fosse um elemento do Eurogrupo,pensaria muito bem antes de decidir continuar com a política de austeridade direcionada a todo um povo, a vários povos. É uma questão de tempo para a sublevação dos povos. A História ensina. É tão óbvio o caminho, já trilhado antes, que aí vem que até dói. Sou mãe. Não consigo sentir alegria dentro de mim. Só uma vontade enorme de continuar a lutar para que possam os meus filhos um dia vir a viver com dignidade e alegria. A minha luta é esta, com as palavras. Sei que a sociedade é injusta, sei que uns vivem com mais, outros com menos, outros com nada. Por mim, viveríamos todos com as mesmas condições e, bem partilhado, ninguém passaria fome, ninguém morreria às portas dos hospitais, ninguém sentiria vontade de pôr uma corda ao pescoço. Quem me conhece, sabe que sou assim. O que consigo ganhar, partilho. E rodeio-me de pessoas, felizmente, que também sentem da mesma forma, por isso as partilhas também entram na minha casa. Entre nós, com esta história da austeridade, é pouco, mas vamos sobrevivendo. Conseguimos que ninguém tenha ficado sem casa, sem luz, sem água, sem gás, sem medicação, sem comida, sem carinho, sem companhia. Era tão mais fácil se este espírito existisse entre as gentes de um mesmo povo, entre povos. Reformulo: o espírito existe nos povos, não existe é nos seus líderes, que provavelmente os enganaram para conseguirem liderar. Era tão mais fácil se o poder estivesse realmente nas mãos dos povos. E está: é uma questão de tempo, e de muito sofrimento entretanto.<br />
<br />
Livros de Conceição SousaAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-73538012049375500102015-07-11T23:03:00.002+01:002015-07-11T23:03:15.229+01:00No fim não há o verboOfereço palavras, umas atrás das outras,<br /> nem sempre com gente perto,<br /> às vezes, muitas vezes, só para os meus dedos,<br /> os meus olhos, e um outro tempo, talvez...<br /> penso que é isto que nos distingue dos seres inanimados,<span class="text_exposed_show"><br /> esta vontade desesperada de comunicar.<br /> Talvez também eles se façam dela - e nós ainda não tenhamos <br /> descoberto o canal da sua recepção. Já que, entre nós, seres que desesperam por comunicar, raramente se assista à sua compreensão, raramente se escute um desespero diferente do nosso.<br /> Porque somos tão focados num só indivíduo?<br /> Porque desesperamos por comunicar e só escutamos o nosso próprio umbigo?<br /> Deus deu-nos o dom da palavra para que nos consigamos libertar do nosso ego,<br /> e só encontraremos o sentido da vida quando abraçarmos o nosso silêncio e soubermos escutar o silêncio do nosso irmão.<br /> No fim de tudo, não há o verbo: esse só atrapalha.<br /> Quem me escuta?<br /> Eu, ainda, não sei escutar ninguém.</span><br />
<span class="text_exposed_show"></span><br />
<span class="text_exposed_show">Conceição Sousa</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-60782980622845416152015-07-01T21:34:00.002+01:002015-07-01T21:34:56.189+01:00artesãQuero dizer que estou aqui, hoje, sempre tranquila no epicentro da tempestade. Só porque a vida é tão efémera que de nada nos vale perder um segundo que seja com um mau sentimento. No entanto, lutar, lutar sempre para que todos tenham, no que depender de nós, as melhores condições de vida. Haja um a precisar de pão que me terá ali na palma da sua mão. Se não precisar, terá na mesma. ( Verdade seja dita.) Caso a feche, num acto de soberba, não prenderá o meu caminho, antes o afastará para um outro destino. Sou artesã de um só gigantesco ninho.<br />
<br />
Conceição SousaAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-50032309062419200492015-07-01T21:31:00.002+01:002015-07-01T21:31:18.064+01:00É a rotina que o segura aos dias. O fogo perdeu-se algures nas costuras. A cola arrasta-se dos sapatos às veias, mas perde a força ao chegar ao coração. A vida existe para o acordar todas as manhãs, o aquecer nas bermas do entusiasmo e o adormecer do frenesim da dor. A vida escorraçou-o para os braços da morte mas o sopro não se resigna e consome, teimosamente, toda a aragem de mais uma madrugada. Se a sente é porque veio. Se veio é porque é dele. Se lhe pertence, há que fechar os olhos e amar. Amar é ser amado - mesmo que por uma breve aragem na madrugada.<br />
<br />
Conceição SousaAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-35514392874072199572015-07-01T21:24:00.004+01:002015-07-01T21:27:15.802+01:00AlívioÀs vezes, os sustos voltam, só para redefinirem prioridades. Este voltou e já foi. Alívio. A vida é bela. Tudo o resto é acessório e assaz de importante na sua insignificância. Há que saber sentir o tempo: com o corpo que é teu, a alma que te confidencia, o afecto de quem te presta atenção e a natureza dos dias e das noites que ama a tua natureza sem que o saibas. Consegues sentir? A grande paz? Sê feliz, nessa comunhão que te pertence e à qual te entregas. A maldade só te co<span class="text_exposed_show">nsome se tu lhe deres guarida e conversares intimamente com ela. Se a não deixares entrar, ela não se instala. Se insistir em segurar-te o braço e caminhar contigo, sorri-lhe e devolve em dobro todo o teu paciente amor. Olha que podes! Podes mesmo! Só tens de te focar no corpo que é teu, na alma que te confidencia, no afecto de quem te presta atenção e na natureza dos dias e das noites que ama a tua natureza sem que o saibas. Todos os teus sentidos andam distraídos. Se parares um pouco, fechares os olhos, escutares com redobrada atenção, uma subtil aragem eriçará a tua penugem e tu perceberás o calor da energia universal a amar-te. O arrepio é quando tu sentes e devolves todo o amor que te dão. E uns pingos de chuva, uma brisa a maresia ou até uma simples música podem desencadear essa partilha energética. Quem precisa da mesquinhez dos Homens?</span><br />
<span class="text_exposed_show"></span><br />
<span class="text_exposed_show">Conceição Sousa</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-57858483771775145582015-04-10T21:18:00.002+01:002015-06-25T18:09:20.581+01:00Quero escapar à friezaQuero escapar à frieza. O hábito entranha-se na alma como a humidade se agarra à esponja. O âmago enche-se de um líquido espesso e cresce ao ponto de uma saturação gelada. O familiar passa fome e tu comes da fome que te olha. O amigo sente frio e tu sentes do frio que te cerca. O vizinho perde a cor para a doença e tu perdes a dignidade quando olhas para o lado. O desempregado verte as lágrimas e tu vertes a ostentação de cada vez que te cruzas com ele no elevador quando vais<span class="text_exposed_hide">...</span><span class="text_exposed_show"> trabalhar. Entras na frutaria e alguém sofre por te ver entrar na frutaria e por saber que não pode comprar uma peça de fruta. Entras no hospital e alguém sofre por te ver entrar no hospital quando sabe que não pode amenizar a dor da sua doença porque não consegue pagar a taxa moderadora. Entras no teu emprego e alguém sofre por te ver entrar no teu emprego porque precisaria de ter um emprego , um modo de subsistência, e não há forma de o conseguir. <br /> Quero escapar à frieza, sentir nos afectos que vêm de longe a infância de um toque de humanidade. Quero espremer o meu coração e vê-lo derramar a humidade ingénua de quem não se esquece da origem e do comum. Somos sangue, todos sangue, todos rubro, todos com as mesmas necessidades básicas, o mesmo fôlego, o mesmo ímpeto, o mesmo calor, a mesma fome, a mesma sede, a mesma carência no encalço de um amparo, um simples conforto: uma palavra. ( um silêncio.)<br /> Quero manter-me humana. Quero ser digna de ter nascido humana. Quero ser digna de um dia morrer com este dever de humanidade cumprido. (Reg.)</span><br />
<span class="text_exposed_show"></span><br />
<span class="text_exposed_show">Conceição Sousa</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-21464631164731424732015-03-22T21:25:00.000+00:002015-03-22T21:25:14.149+00:00Não és assim tão importante.Não és assim tão importante... penso que já percebeste isso, não? Importante sou eu. Mas, admito, gosto deste sossego que me prende a ti, desta vontade de te sentir como quem agradece o alvorecer, ou abre os poros à fragrância vespertina, ou degusta o beijo fresco da madrugada no orvalho que nos ressuscita a pele. Não és assim tão importante, apenas na medida em que o é um habitat natural. Contigo, respiro. Contigo, sorrio. Contigo, amo. Contigo, vivo... mas sem ti, sem ter n<span class="text_exposed_show">oção de que é sempre contigo, mesmo pensando que sem ti. E não é assim com o sol, o vento, a lua,os órgãos internos, os ossos? E não é assim com as árvores, a água, a temperatura amena, os órgãos externos, a pele? E não é sempre assim, sem ter noção de que é sempre contigo,mesmo pensando que sem ti? Porque o que nos consubstancia, desde o ventre - o sangue! -, não abre as vísceras todos os dias para nos mostrar do que somos feitos, mas está sempre lá, é do que somos feitos e nem por isso lhe damos o visceral valor. Esquecemo-nos. Esquecemo-nos de que nada é garantido. E basta que um ínfimo nada falte para que tudo desabe. E tu és apenas um ínfimo nada que não pode, de maneira alguma, faltar,ouviste? Não podes - estás proíbido de -, faltar-me. Mas não és assim tão importante...</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-6364490420144505612015-02-21T15:17:00.003+00:002015-02-21T15:17:29.336+00:00FICA (romance)<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_54e8a09f02f1c8632487039">
Srs. Deputados do governo e oposição de faz-de-conta (já nem me dirijo aos outros acima na hierarquia porque não são de cá, da Terra, humanos, são uma espécie de alienígenas com tiques de pactos de agressividade), a redução do défice e o término da espiral recessiva (que os cidadãos não vivenciam), os vangloriosos resultados a que afirmais a boca cheia terdes chegado ( e que os cidadãos não sentem) são à custa de cortes unilaterais e arbitrários nos rendimentos do trabalho ( <span class="text_exposed_hide">...</span><span class="text_exposed_show">de agora e de outrora), são à custa do roubo diário da dignidade das famílias ( da felicidade das famílias), da possibilidade de honrarem os seus compromissos, a sua palavra, o seu fio condutor ( perdemos o Norte, sabeis disso?), são à custa de cada vez mais sem-abrigo, de cada vez mais negligência nos cuidados de saúde, na assistência à terceira-idade, são à custa do holocausto do desemprego, da fuga apocalíptica de muitos (aos milhares) da sua nação (uma que sentem como estranguladora, exploratória, implacável no desrespeito pela dignidade humana, gratuita nas injustiças, em pleno corredor da morte quanto à quebra do voto de confiança e dos alicerces da democracia – a tentar perceber como vai acontecer, injecção letal?), são à custa do contínuo assalto fiscal, das desculpas esfarrapadas burocráticas para comer um pouco mais da fome de quem já nada tem (e tudo serve, até um recibo que alguém esqueceu de guardar – vamos lá ver se o barro cola à parede…), são à custa da machadada certeira nas pernas curtas de muitos trabalhadores independentes ( que ilusão, meu Deus!) que, pese embora a honestidade de o declararem que o são ( nem sempre é assim – e esses têm mais sorte), trabalhadores necessitados de actividade lateral prioritária independente para sobrevivência ao flagelo da ditadura mascarada de democracia, são barbaramente bombardeados com mais assalto aos parcos rendimentos de circunstância que auferem ( “era para tapar aquele buraco, mas, meu amigo, cavei um mais fundo ainda”, dirão agora, com a corda ao pescoço).<br /> Srs. Deputados do governo e oposição de faz-de-conta (não quero crer que também sois daquela espécie alienígena, sem pingo de humanidade, só focada em pactos de agressividade), devo informá-los que esta é uma nação governada por elites vergonhosas, invejosas e temerárias, que encontram nas leis, lapidadas a dedo cirúrgico, a sabedoria e a manha necessárias à decapitação de qualquer tipo de prosperidade, seja a independente, seja a inteligente, seja a crente. Vão sacanear outros! <br /> Dedos erguidos, dedos bem erguidos, bem tesos para arremessar no papel toda a fúria reflexiva, instintiva e combativa. </span><br />
<span class="text_exposed_show"></span><br />
<div class="text_exposed_show">
Conceição Sousa in "FICA" (romance)</div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-46029374629618630062014-07-31T19:43:00.003+01:002014-07-31T19:43:33.909+01:00Frincha<div class="text_exposed_root text_exposed">
<span class="userContent" data-ft="{"tn":"K"}">- Nem sequer uma frincha para que pudesses sentir-me brisa, e ao teu tremor o lamento da vaga que não volta. Ser-te-ei assim tão desinteressante?<br /> - (...)<br /> - É sozinha que falo, a mesma da infância, e, às vezes, penso... embora percorra infinidades, e não consiga parar de percorrer infinidades, é no mesmo lugar que estou. Algo não soa. És tão distante... Queres a verdade? Mesmo a verdade? Distante <span class="text_exposed_hide">...</span><span class="text_exposed_show">é um adjetivo que inventei para te sentir um beijo que voa. Na verdade, és... eu ,a tapar um vazio.<br /> - (Estás completamente só.)<br /> - Obrigada por me lembrares. E tu és cruel. P'ra que me dizes se sabes que me faz chorar? Choras comigo, é? Até era... Deixa-me estar.<br /> </span></span></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed">
<span class="userContent" data-ft="{"tn":"K"}"><span class="text_exposed_show">Conceição Sousa</span></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-63015608861054297652014-06-10T17:02:00.001+01:002014-06-10T17:02:49.091+01:0015* Um cão, um gato talvez?<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_539720a4d0fc60476057261">
<span class="userContent" data-ft="{"tn":"K"}"><span class="text_exposed_show">
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">15*<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Um cão, gato talvez?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Calibri;">Não deveria ter nascido pessoa, deveria ter nascido animal doméstico, um
cão, um gato talvez, tenho este ímpeto de acarinhar, de estender a pata para te
afagar o rosto, para te sentir bem-vindo, e olho... olho um olhar infinito de
ternura, um olhar resiliente, precisado da tua voz, do teu sorriso, da tua
incomensurável atenção.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Calibri;">Não deveria ter nascido pessoa, um animal doméstico, sim, um cão, um gato
talvez, uma alma, igual a tantas outras, enclausurada num pedaço de carne que
queima, um infindável pedido de auxílio, um não pestanejar hirto a abraçar o
seu dono, a aguardar ininterruptamente o instante do calor, um cão, um gato
talvez, só porque nunca falo, só porque nunca verbalizo, só porque nunca digo
com as palavras - p'ra que preciso delas? -, só porque não me querem as pessoas
como eu quero que elas me queiram. Sou orelhas pontiagudas e olhar resiliente:
observo e aguardo - p'ra que preciso das palavras? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Calibri;">Um cão, um gato talvez, e muda de verbo talvez o mundo me quisesse, ou
acabasse comigo de vez.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Calibri;">A crueldade é ser pessoa, quando me sinto alma enclausurada no interior de
um animal doméstico, um que fala demais, e que tudo o que deseja é que lhe consintam
o instante de um afagar de rosto e de um cafuné. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><span style="font-family: Calibri;">E porque sou pessoa as pessoas complicam tanto...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br /><span style="font-family: Calibri;">
<br />
Conceição Sousa<o:p></o:p></span></span></div>
</span></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-65672373355786928662014-06-10T16:53:00.001+01:002014-06-10T16:53:37.452+01:00Acordo<span class="userContent"></span><br />
<span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_539727124b77c2084617867">
Acordo sempre bem para o dia. As cores da manhã celebram-me partilha de um ser maior, natureza dentro e em redor, todo não parte. Oro ao âmago de mim, de nós, envolvência do instante puro, só pelo instante infinito: este pincel de aurora, e<span class="text_exposed_show">ste aroma a chilrear, esta brisa amena e um ímpeto de eriçar. Partilha. E o amor que amo nos olhos que me são calor de ventre, e o amor que amo nos braços dos homens que me protegem de mim, e a família de que não abdico e que me leva ao colo no embalo do que lhes sou. E a fé que me encontrou e me sossega as dores na certeza de que também a morte é partilha: o nascimento de um novo ciclo neste infinito que faz questão de me mostrar :<br /> não há um que na vida ou na passagem a uma outra vida esteja só.<br /> A dor é para que reconheças o amor. Nem uma nem outro se explicam, mas existem, transformam.<br /> Por que não confias no tanto que não vês, em nós?<br /> Amo-nos. Ama-nos.<br /> Há. É. Sente.<br /> </span></div>
</span><br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-77889892081319281792014-06-01T20:23:00.004+01:002014-06-01T20:23:27.888+01:0013* Adivinha o que me excita?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEWcJE01JnOnI6kOWwict9DYpS4njQPegT7-t33gTCTcEKaDx25XqmWrd6LdudVokTsJC75rYNFb5_49OHsjflHukId5Unc5OChWYYm-7S3PmP6ytsN56x0WGh6GLKTK0HfIUKLA3wOJM/s1600/espa%C3%A7o+cr%C3%B3nica.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEWcJE01JnOnI6kOWwict9DYpS4njQPegT7-t33gTCTcEKaDx25XqmWrd6LdudVokTsJC75rYNFb5_49OHsjflHukId5Unc5OChWYYm-7S3PmP6ytsN56x0WGh6GLKTK0HfIUKLA3wOJM/s1600/espa%C3%A7o+cr%C3%B3nica.JPG" height="258" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">13* Adivinha o que me excita?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O que me
encanta em ti é essa forma tão linda de ser, o sentimento que contamina tudo o
que tocas, e até o que não tocas. Não é relevante a direção desse teu sentir, o
que me cativa é como sentes quando sentes e sempre que sentes. Vejo que suas
essa entrega inabalável; testemunho as rugas que carregas, cada vez mais fundas
e agras, sem, no entanto, te queixares de um ínfimo cansaço – e só um cego não
vê como te cansas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Suo contigo, sabes?
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Mas não me canso
como tu te cansas… É tão cómodo estar deitada nesta cama a carpir a existência,
a rebelar-me de ter nascido sem tampouco mover um polegar para garantir-me
pessoa, quanto mais<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>abrir os braços para
te abraçar pessoa? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">És tão lindo, sabias?
Ainda mais quando percebes o meu ócio ( Ó!, Cio!) e vens mesmo levantar os
lençóis e meter-te na cama comigo. Não merecia que o fizesses, entendes? Tão
desdobrado em acarinhar tudo e todos, em amparar meio mundo, e nunca te
esqueces de vir buscar este calor, aqui, nesta cama gelada, sujeito a saíres empedernido
e fatigado de sobremaneira. E sais mesmo, de todas as nossas urgentes vezes,
empedernido e fatigado. E mais lindo ainda. Um gelo que se liquefaz pele
sorvida. Um brilho no sorriso com que te apresentas – e que continua a celebrar
o instante em que nos vimos. Não desenlaças esses cálices ao alto e um tilintar
que sempre ecoa. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Danças-me um
século, diva?”, perguntas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“ Danço-te um
milénio, e talvez um pouco mais, génio”, respondo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">( Já te disse
que sou viciada na tua resiliência? Já te segredei que é isso que me excita? A
tua resiliência?) <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O meu ouvido
pregado na tua lapela, a tactear nos pés o ritmo de te saber vivo, um coração
maroto, esse teu, que me faz pisar-te porque pára por breves segundos e acelera
como se quisesse fugir uma eternidade. E eu confesso-te:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“ Assim não sei dançar, tudo o que faço é
tropeçar em ti, traste!”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“ Não faz mal,
pisa à vontade, sardinhas – o que carinhosamente me chamas, tenho muitas na
cara, e que culpa me assiste? –, o meu queixo agradece essa dentada de
coelhinha”, gracejas. A tua arte é gracejar, sabias. E és uma graça, a minha
graça.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“ Sardinhas ou coelhinha, qual preferes? Peixe
ou carne?”, provoco, a isca, sei que gostas de um deslize ordinário.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“ Eu quero é
comer, tanto me faz, tenho uma fome de ti!”, mordes, o teu segundo de
brejeirice, e eu adoro quando és brejeiro. Um gelo que se liquefaz pele
sorvida. Um brilho no sorriso com que te apresentas – e que continua a celebrar
o instante em que nos vimos. Braços enlaçados e cálices bem lá no alto. Não há
nada que quebre um celebrar assim.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“ Danças-me um
milénio, então, velhinha?”, fazes beicinho, ai, como me enlouqueces quando
fazes beicinho…<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Danço-te o
que tu quiseres e aguentares. Mas tens de me levantar bem lá no alto, quero
sentir-nos tocar no voo dos pássaros, consegues?” <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">E tu aceitas o
desafio. Mordes o sorriso. E elevas-me só para nós. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não te contei,
mas fiz-me melhor que eu mesma, supra superei-me, só para que pudesses ficar
mais um milénio encantado comigo, só p’ra que pudesses continuar a sentir-te
seduzido, só p’ra que saibas que não há melhor do que eu. E, quando te sentir
fugir de novo, aguarda-me, uma outra te surpreenderá, ainda melhor do que esta,
duvidas?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“ Danças-me um
milénio, então, velhinha?”, suplicas.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Que rede é esta que te apanhou e da qual não
queres sair? Vais ter mesmo de dançar um milénio e um pouco mais comigo. Essa
tua resiliência endoidece-me. E tu vens sempre buscar, aqui, a este ócio
debaixo dos lençóis, suado, pisado, tropeçado, morto, vens buscar a tua vida.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">E eu dou-ta,
meu amor, desde que me leves sempre nesse cálice de celebração, nesse brilho de
sorriso campeão <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>com que te apresentas –
e que continua a enlaçar o instante em que nos vimos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Danço-te um
milénio, e talvez um pouco mais… Não, não leves ainda os teus lábios, preciso
de senti-los um pouco mais.”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">( Já te disse
que sou viciada na tua resiliência? Já te segredei que é isso que me excita? A
tua resiliência?) <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Conceição
Sousa<o:p></o:p></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-63791643387300597222014-05-31T23:19:00.000+01:002014-05-31T23:19:15.463+01:0012* Insignificância
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">12* Insignificância<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há
objectos que existem para me lembrar da minha insignificância – é uma frase arrogante
de tão egocêntrica e despudorada, mas é assim mesmo, o objecto só existe em
função de mim, para que eu saiba o quão insignificante sou ( sou mesmo
importante não?). Há objectos que faço questão de ter bem perto ( tipo terapia
de choque, mordiscadela de acorda!, aferroada de “toma lá que é para não te
atirares aos cães!”) só para que nunca me esqueça da minha soberba
insignificância: sei. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
que não te perdoo, e não te perdoo mesmo, é que, caso não seja assim, tão
insignificante como queres que eu sinta que sou, caso seja exactamente o
extremo oposto, sofras dessa maneira tão parva, tão jumenta, tão linear de quem
não percebe nada do que anda cá a fazer, ó pessoa ida!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ora
diz-me lá se há alguma lógica no que se segue:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-family: Calibri;">Amas-me tão enervantemente que quando te enervas
dizes que me odeias. ( Em que é que ficamos?)<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-family: Calibri;">Amas-me tão obsessivamente que quando me queres
( e tudo o que tu queres é só querer-me) fazes este mundo e o outro para que
não te queira.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-family: Calibri;">Amas-me tão intrinsecamente que no exterior tudo
o que jogas é às escondidas: passas a vida a olhar-me, mas não convém que te
veja, não vá eu bater no muro “ um, dois, três, vi-te!” e ser a minha vez de
esconder. ( Tens medo de nunca mais me encontrar, é? Se não me encontro, não te
encontro, certo?)<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-family: Calibri;">Amas-me tão levianamente que quando me “f****” é
sempre a valer ( ai, e como vale!), é pena que te calhe <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o reverso da palavra, o mais ingrato, o que me
faz carpir o caminho do que se tem asco e perguntar “ Por que me queres tão
mal? Por ti mesmo sei que nunca quererias, seria o exactamente oposto: o bem-bom
da palavra, ora “f******”! ( fica-te! – que pensavas? –, fica-te e desiste desse
pau, mau jeito de amar.)<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 10pt 36pt; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18pt;">
<span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font-size-adjust: none; font-stretch: normal; font: 7pt/normal "Times New Roman";">
</span></span></span><span style="font-family: Calibri;">Amas-me tão ingenuamente que na inocência de te
ser doce perdes-te na confecção de uma geleia melosa e peganhenta, e o mais que
resulta <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é um lambuzar guloso que em nada
cola o genuíno amor que pensas que me tens.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 17.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Sossega, tu, que nem estás a ler isto… ora não sou eu insignificante? Como
dizia lá acima, há objectos ( e pessoas) que só trago comigo para que me
lembrem do quão insignificante estou neste pedaço de carne, que me embala num
berço a que chamam de tempo. E, garanto-te, o mais que me importa é o tom do abalo,
sussurro doce e lento, a inclinar as pálpebras na direção do escuro, janela
fechada para o mundo e aberta para os braços do que nos dá colo… <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 17.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Quando se é insignificante assim, há toda uma significância da vida que
nos irrompe pela alma adentro. Temos mesmo de fechar os olhos, induzir o sono,
porque a vida, de tão bela e extraordinária , cega-nos a vista. E a senti-la é
por um fiozinho de olhar, a experimentar meias-luas, porque é na neblina que a verdade
acontece, é no fosco que a realidade se consuma,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>é no mate, apanhado de duas malhas, sem
brilho, que o lance irrompe e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se desvenda:
sorriso e gratidão.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 17.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">De ti só quero mesmo é que me lembres que sou insignificante.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 17.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Há objectos bem duros que não podem, de modo algum, despencar da nossa
mão.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 17.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Catástrofe!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt 18pt; text-align: justify; text-indent: 17.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Conceição Sousa<o:p></o:p></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-74897900909125773812014-05-31T23:18:00.003+01:002014-05-31T23:18:22.757+01:0011*<span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_538a54ba494682601102056">
11* <br /> <br />“ Sou a toalha onde descansas os teus sonhos”, <br /> o indicador a atravessar a fala, <br /> “Envolve-me”, <br /> os lábios à procura do lugar onde o orvalho consinta um breve fôlego. <span class="text_exposed_show"><br /> “ É o teu rosto nos sulcos deste pano”,<br />a encosta que escorre, devagar, em tom de procissão,<br /> “ é o teu rosto que pregam e não sabem que só eu o trajo”,<br /> linguajar na subida para onde as águas vertem,<br /> “ linda mulher, que nunca quis ser minha e é tão dela”,<br /> a neblina a avisar que o calor se aproxima e que é hora dos poros encharcarem,<br />“linda mulher, que nunca quis ser minha e é tão dela” <br /> o grito cavernoso.<br />“ Faz de mim as rugas que te beijam o pé descalço”,<br />“ Faz de mim o arrepio que te devolve os olhos.”<br /> E ela não faz. <br /> E ele continua a trajá-la.<br /> E os ombros querem que não se façam e que não se queiram.<br /> Os ombros só querem que os deixem ser ombros. E que lhes permitam querer.<br /> Vens?<br /> Vou?<br /> <br /> Conceição Sousa</span><span class="text_exposed_hide"> </span></div>
</span><span class="userContentSecondary fcg"></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-62587191418843705102014-05-28T20:43:00.002+01:002014-05-28T20:43:20.621+01:0010* Já não dói<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzT9ncMX43_aPmUSLNvgOhNMs6yct9FurqzJMfKlRiQrxDswWvJKfdH5fmh1afN-L5Di-Y8hwRFGTfw5I3t7DSQkFzBJt0-zDfmp7yBtjrSzXQLLgJSkFpulTNy0cDu1cMxWMBaK94Q2A/s1600/espa%C3%A7o+cr%C3%B3nica.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzT9ncMX43_aPmUSLNvgOhNMs6yct9FurqzJMfKlRiQrxDswWvJKfdH5fmh1afN-L5Di-Y8hwRFGTfw5I3t7DSQkFzBJt0-zDfmp7yBtjrSzXQLLgJSkFpulTNy0cDu1cMxWMBaK94Q2A/s1600/espa%C3%A7o+cr%C3%B3nica.JPG" height="258" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">10* Já não dói.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Sei
querer – e sei que, quando quero, quero muito. E quem não quer?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mas
também sei sentir. Faço por isso: por saber sentir. E sei que me dói sem que te
doa a ti. E sei que a mágoa é minha – tão só minha. E sei que é tolice exigir a
alguém um sentimento que é só meu. Por que haveria esse alguém de sentir o meu
sentimento, pensa?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
desacerto das pessoas é quererem obrigar as outras pessoas a sentir o que tão
somente é sentimento delas: unipessoal. É bonito? Parabéns! Usufrui, agarra-te
com unhas e dentes a esse sentimento, pois só o que sentes e é teu é válido,
genuíno –<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">mas não o imponhas ao outro, <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">mesmo que o objecto desse teu
olhar tão límpido, tão brilhante, principalmente se o impulso desse teu estado
de devaneio feliz. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não o
imponhas. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Ao trespassares
o teu horizonte de encanto, invades a neblina de um outro mundo que não o teu,
repara: invades, <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">e observas-te, no lado de lá,
deserção de ti mesmo, no lado de cá, fenda irreparável, quebra de identidade,
coisa feia e violenta. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">E p’ra quê? P’ra
que te apedrejem de volta? E com razão. Quem te deu licença de pisar em
território ocupado? Ou para que vires o sangue do avesso e ele se verta
inexistência condenável?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Há um sentir
nublado, p’ra lá do enlevo da montanha, que não o teu. Despede-te. E despe-te
da arrogância. Nada te é posse. Muito menos aquilo que ao outro pertence: o seu
sentimento.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Sopra-lhe um
beijo quando o vires, ao teu arrogar-se; testemunha-lhe o teu sorriso, aquele
que ficou lá atrás, junto a uma espada empunhada contra o céu, o vosso troféu,
e aguarda um reflexo – luminosidade, talvez… <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Às vezes,
acontece, um reflexo, um espelho de água, umas nano-vagas que ondulam a brisa
do teu leve aceno. Vi-te, tocaste-me, levei-te no meu ombro para sermos
felizes. Um segundo em que dois sorrisos se olharam e algo de extraordinário aconteceu:
o teu sentimento confessou-se o meu. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Um segundo de
invasão basta-me. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Um segundo de
invasão de que não tenho remorsos. O que é um segundo de invasão quando comparado
com quase um século corpóreo e mais de um milénio de vida? Comungada com
milhões de tantas outras vidas; algumas ainda nem sabem que estão para nascer e
para morrer. Digo-te já: mais de um milénio e outro tanto. E olha que tenho um
dom. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">As nuvens trazem
cinzas carregadas de rebordos prateados e falam-me, a todo o instante, desses
teus milénios. Um bem tão grande às pessoas, à humanidade. As nuvens sabem. Agora,
também tu ficaste a saber. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Um anjo com
asas de zinco segredou-me o teu caminho e sossegou-me. Pediu-me desculpa,
sabes? Disse que não conseguia falar-te e precisou de me atirar nos teus braços
para que pudesses tropeçar naquela imagem, <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">a que só a ti
estava destinada.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Diz-me, agora
mesmo, que está orgulhoso de ti. Que soubeste receber a ternura dos beijos que
sopram os ares da humildade do instante, e que o tempo em ti deixou de contar:
só o que tocares será sorriso e destino. Mas isso tu sabes.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não me tocas.
Não serei sorriso. Não serei destino.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não fiques
triste. Sei me alegrar, sem invadir mais do que um segundo.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O anjo com
asas de zinco pede-me desculpa, conhece a minha dor. Diz que lhe falaram de mim
como mensageira, e que nem foi descuido nem nada, precisamente por anteciparem
o meu coração de chumbo. Tinham plena certeza de que o abriria, só mais uma
vez, especialmente para ti (está explicada a minha surpresa!); que te deixaria
entrar, te comunicaria o calor dos astros, e te expulsaria com eles. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Doeria o
retorno ao claustro, avisaram. Não encontraram, contudo, mais ninguém que pudesse
tocar-te e sobreviver de novo ao glaciar, com um segundo apenas de invasão.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Perdoei-lhes,
sabes. A todos eles, os que congeminaram. A ti não há o que perdoar. Não foste
tu que me atiraste nos teus braços, nem foste tu que me devolveste à clausura.
E eles têm razão. Já não dói. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Há
alinhamentos de curvas no céu, melancolias de berço, extremidades que atentam
um colo que se pede. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Moro num vale assombrado
de um musgo mistério e benzido por uma cordilheira de <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>auroras platinas. Nem sei quem toca em quem.
Só sei que os sinto tocarem-se e tocarem-me. Vivo quotidianamente, enquanto
vejo o mundo a passar, no extraordinário. São as nuvens que me calam as
calamidades e me ditam que te abrace. E eu só quero dizer-te que este abraço é
até que eu deixe de ser, como as nuvens.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Tenho sorte de
morar no coração de Deus, e de o saber.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Conceição
Sousa<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-73551932122783545942014-05-28T20:42:00.001+01:002014-05-28T20:42:03.518+01:009* Só porque tu<span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_53863bc6873660921409075">
9*<br /> Só porque tu<br /> Acredito nesta vontade que passa de mim para ti e de ti para mim. <br /> Acredito no silêncio quando a porta se tranca no limite da fúria indomável. <br /> Acredito nas lágrimas que tecem o rebordo do que se quer enlaçar mas não encont<span class="text_exposed_show">ra o ponto de amarra, apenas de elos que se encandeiam na direção da cabeceira extenuada.<br /> Acredito na voz do que nos roga um caminho e nos dita reinícios atrás de reinícios, em cada ranger de madeira, em cada sussurro de “diz-me… diz-me…”, dedos a comprimir bocas extasiadas, incansavelmente a saliva “diz-me…” <br /> Acredito nos teus braços quando me soltas o cabelo e seguras os olhos, à luz de velas, guardião do nosso templo, ao sabor do incenso indiscreto.<br /> A vergonha fugiu quando lhe dissemos que há luzes a dar horas em despertadores que não se apagam. De duas em duas tacadas quiseram acordar-nos, ingénuos… Como se acorda a insónia dos amantes?<br /> E foi às apalpadelas que os lençóis granulados nos embrulharam. A ternura é doce, sabias? Tivemos de sacudi-la. Há instantes que exigem ferocidade. E nós somos arrebunhar lento de roupas dispersas e rasgos calejados. Resgatámo-la em pleno voo e trouxemo-la para a nossa almofada, não sem antes lhe ensinarmos o depenicar dos pombos, desde o sacro até ao nunca, via lacrimal no despudor das nossas costas. <br /> <br /> Acredito nos teus braços quando me soltas o cabelo, sabias?<br /> E me seguras os olhos.<br /> Há um beijo que me dedicas de cada vez que te cubro de nós, só porque tu, só porque tu… <br /> E pergunto mil suspiros em que esplanada desertaste o orgulho. <br /> “Leva já longas férias, velhinha…”, respondes de língua comprometida, a torcer o rubro de um mundial que ninguém esquece, embora todos ignorem. Abraças-me. E adormeces na minha nuca o sono dos felizes.<br /> Respeito o nosso sorriso.<br /> Acredito que todas as mágoas trabalham no indizível e servem o amor que cresce no silêncio das barbas grisalhas. Acredito que o que não se explica é a resiliência, nascente de um imparável rio.<br /> <br /> Conceição Sousa</span></div>
</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-7525703662653017972014-05-26T23:59:00.001+01:002014-05-26T23:59:12.545+01:008* Um alien
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">8*<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Um alien<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Um kg de
rojões com carne, com osso e com courata. Um kg de ameijoa. Duas gelatinas: uma
de morango e uma de ananás. Uma mousse de chocolate. Duas doses de sorriso e
cinco fatias de abraço. Prontinha p’ra chegar a casa, pôr o homem a cozinhar e
espalhar doçura no rosto cintilante dos filhos. Todas as famílias felizes são
um pouquinho gorduchinhas, só um pouquinho. Quem resiste a um mimo de chocolate?
Só para procurar estrelas cintilantes em dentições convertidas à religião do
hmmm! O Ioga perfeito.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Ó mamã, és do
outro mundo!”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não soubera
eu, acabava agorinha mesmo de ser informada. Como é possível que os nossos
filhos, de todos, acertem o alvo no ponto exacto do conhecimento de nós mesmos?
E começam lá longe, no reflexo de sucção.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Só mais dois
euros, vá… Ó mamã, és mesmo do outro mundo!”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Como sabes? Vieste
de lá, foi, patanisca?”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Gargalhada ao
cubo quanto dá? Depende do ponto de partida. A primeira açoitadela de
cabeça<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>vale por quantos? Nós três. Nós?
Três nós?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Tu é que
dizes que te damos um nó na cabeça. Uma gargalhada deve valer por três. Se te
damos um quando te zangas.”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Não seremos cinco? Ok, consinto. Seja três
perdigotos por cada açoitadela de gargalhada nos óculos que não usas, pá ( ou
será que usas? Já não me lembro…)! Quanto dá então gargalhada ao cubo? Se for
mágico dá… deixa lá ver… pelo menos nove faces coloridas, doze não será? – e um
texto esquizofrénico. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Gelatina! Gelatina! Gelado, queres tu dizer.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Trouxeste, mamã,
gelado?”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Sou do outro
mundo, mas não me perco, filhote: 27: 3x3=9x3=27 <span class="textexposedshow2"><span style="color: #333333; font-size: 10.5pt; line-height: 115%;">27: 3x3=9x3=27</span></span>”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Íamos no
reflexo de sucção que vem de lá longe, da teta, e de tudo o resto, porque a
sofreguidão conecta-se com tudo o que seja tocável, dê alimento ou não. Há
ainda outro reflexo ante-comunicativo, a mãozinha que ergue para se proteger da
dor, da fralda que cobre o rosto enquanto suga o leite (“ Deixa-me respirar,
caraças! Está tudo às escuras!”), da fralda pronta a secar a saliva teimosa no
canto da boca. E não gostas, eu sei que não gostas, pá, mas tem de ser. Tem de
ser. Eu sei mais do que tu: precisas de te alimentar e de estar limpinho, senão
gretas aí esse cantinho de lábio maroto. A mão que ergues para afastar o pano,
para te proteger da dor, não protege de nada, só estorva. É a minha mão
teimosa, com esse pano seguro, que te vai impedir de ferir – e de doer.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Choras?
Competência básica. Comunicas. Um bebé sem sílabas chora para comunicar e ri
para comunicar. Precisaremos nós de saber muito mais? Dói, não falas, choras.
Eu ouço, e socorro-te. Ou não… Tens fome, não falas, choras. Eu ouço, e
socorro-te. Ou não… Sentes-te só, no quarto ao lado, não falas, choras. Eu
ouço, e socorro-te, mas dizem que não devo ir logo a correr para não te
habituar mal, senão vais chorar toda a vida, eu vou desesperar de tanto ecoares
o teu grito no meu ouvido e vamos acabar por não nos suportar um ao outro. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Ris em busca
da tranquilidade. Ris nas primeiras horas de vida. “Está a sonhar, ‘tadinho.”
Já vens do ventre a rir, que mistério é este, caramba? Imitas os sons, os
gestos, o toque, os passos, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>as palavras…
Imitas o que vês, o que ouves, o que intuis. Imitas e aprendes. Imitas e <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>transformas-te – às vezes em miau!miau!, em
au!au!, em mémé!... <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">É só ir lá
atrás, à linguagem dos bebés, para percebermos a filosofia da vida. Toda a
santa vida é este inferno celestial ou este céu infernal nos relacionamentos. Choras
porque tens de chorar: é acto reflexo de origem. Sobrevivência. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ris porque tens de rir: é acto reflexo de
origem. Sobrevivência. Imitas porque tens de imitar: é acto reflexo de origem.
Sobrevivência. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sugas porque tens de
sugar: é acto reflexo de origem. Sobrevivência. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Qual é a
dúvida? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Já sei. Sou do
outro mundo. E vim de lá a rir.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Conceição
Sousa<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-79552227069973628102014-05-24T21:24:00.003+01:002014-05-24T21:24:47.377+01:007* Só o giro interessa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRL7ctu1E5_ZbvVTX8K4F-U8ktDnTTSTM6cJmKb-eglvXWrnGOmdg3cryNMakJ3Mwnje0UAwPK7TkWKK7Gri5o6_qkJjVNS_weXOU-l-SUPezkjTl-PTtfVbi4wJIFgN6DvPT_M3QynPY/s1600/espa%C3%A7o+cr%C3%B3nica.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRL7ctu1E5_ZbvVTX8K4F-U8ktDnTTSTM6cJmKb-eglvXWrnGOmdg3cryNMakJ3Mwnje0UAwPK7TkWKK7Gri5o6_qkJjVNS_weXOU-l-SUPezkjTl-PTtfVbi4wJIFgN6DvPT_M3QynPY/s1600/espa%C3%A7o+cr%C3%B3nica.JPG" height="258" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">7* <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Só o giro interessa<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Sei que, logo
ali, na despedida da infância, à porta da adolescência, fiquei condicionada,
fui condicionada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sou curiosa de saber
como teria sido se, normalmente, como outra criança qualquer, em qualquer parte
tranquila do mundo, tivesse podido continuar a caminhar sem grandes
sobressaltos nem parvas euforias ou medonhas agonias. Sim, como outra criança
borbulhenta qualquer, como teria sido?... Intuo que nada do que me tornei hoje existiria.
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não consigo
evitar de sentir todas as dores advindas como um<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>prémio. Sim, um prémio em direcção à
optimização da inteligência emocional. Só para que entendam melhor, Malala
Yousafzai, a menina a quem deram um tiro por defender a escolarização das
meninas e teimar em ir à escola, ganhou um prémio muito antes de o ter ganho de
facto, dores especiais que a brindaram com uma inteligência emocional extrassensorial
– nem dá sequer para imaginar o estádio evolucional em que esta menina-deusa se
encontra ( faço-lhe vénia!).<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Há quem demore séculos a estudar a fórmula
perfeita do comprimido exacto ao impulso dessa optimização. Pois eu digo-vos:
perfeita idiotice. Basta uma dorzinha qualquer e a sinapse desenrola-se, as
células nervosas congeminam no caminho umas das outras e, pimba!, mais uma
nuvem de massa cinzenta, mais uns centímetros sem que a ressonância magnética
tenha de concretizar-se para percebermos que um cantinho de miolos
massificou-se, num tom grisalho, sempre num tom grisalho, hum... Já pensaste
por que raios o tom do amadurecimento é prateado? A melancolia é a cor física
que comprova a evolução da inteligência emocional. Nada mais óbvio. A minha foi
implantada muito antes da idade própria, daí que se perceba a
extra-sensibilidade – pelo menos, eu percebo, e eu é que interesso, não?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">A dor cai em
nós como que um relâmpago, estatuificamos, em posição de meditação, cadeados
que nos obrigam a pensar, a silenciar o ruído, a reflectir a intensidade da
luminosidade para outro lado qualquer ( fez-se luz, mas é mais do que aquilo
que um simples corpo consegue aguentar), a digerir o abalo, a equilibrar o
sofrimento, e retemos… a bosta disto tudo é que a optimização da inteligência
emocional optimiza tudo o resto, como por exemplo a memória, concede-nos uma
memória de elefante, e recalcamos toda a vida aquela dor. Serviu para
evoluirmos; acanhou-nos o discernimento. Levamos um choque elétrico e retivemos
na nossa memória essa dor, essa tensão. Daí em diante, qualquer semelhança não
é pura coincidência e a nossa inteligência emocional têm efeitos secundários
muito adversos, reconhece todas as semelhanças e entra em choque: intimida-se,
amedronta-se, sofre de ansiedade por antecipação, aterra no síndrome do pânico,
e cega para a inteligência propriamente dita. Qual é? A de não haver
consciência de que se o é: um ser inteligente.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Se há
especialidade em que uma inteligência emocional é perita é em consumir-se. E
toda a gente sabe ( basta observarmos um campeonato de xadrez, por exemplo) que
se há especialidade em que o mestre é perito é em ficar cego para tudo o resto,
daí que, não raras vezes, os principiantes suplantem os mestres. Pudera, também
não vêem mais nada a não ser aquele pormenor em que se tornaram especialistas. Tolheram-se
ao tamanho de uma ervilha, desocupando todo o restante espaço para quem vier.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Oxitocina: a
hormona do amor, dizem. Nem sei se a tenho em abundância ou em relutância. Sei
que me tornei especialista no amor e, a dada altura, deixei de ver tudo o resto
– inclusive o amor.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nenhuma obsessão é boa. Esta não é diferente.
Há que libertar as emoções para outros espaços, não familiares, tentar obter
uma visão holística da coisa, conhecer e decifrar outros parâmetros de invasão.
Há quem procure o elixir dessa captação, desse entendimento do outro sem a destituição
da nossa própria identidade. Há quem observe e nomeie, é autista, só porque tem
um mundo muito próprio, desprovido de filtros que os demais possuem, e jorre
uma torrente de criatividade próxima do divino. P’ra que raio servem os
filtros, pergunto? P’ra que raio servem os filtros? Há quem nos queira
abocanhar com fármacos que ainda não foram inventados ( e ainda bem!), só para
criar esses filtros que impeçam a criação ( antítese?), que permitam a uma dada
inteligência impedir a criação porque a criação é o caminho – dizem – para
incapacitar qualquer inteligência emocional de desabrochar e reconhecer outra
inteligência emocional. Mas quem quer filtros? Dane-se os filtros. Os filtros
são o arcabouço da humanidade. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">A criação é
mais intelectual, certo, é mais disciplinada, mais calculista… Sou capaz de
concordar que a criação destitui a emoção, arrefece o sangue e banaliza o
sensitivo. A criação <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>precisa do
instintivo, do intuitivo, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>do sensorial,
no início, mas <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>consagra-se( metódica
como só pode ser), acima de tudo, um acto especialista racional. E, como todos
os actos especialistas racionais, arrefece, desumaniza-se humanizando,
percebes? E contrai-se, porque só vê a sua especialidade. Tudo o resto deixa,
como que por magia, de existir. E isso é muito mau. Péssimo, mesmo. Às vezes,
um perfeito idiota, soluciona em segundos um problema que um especialista
demora décadas a tentar. E porquê? Porque vê o bolo todo, enquanto que o
especialista só está interessado na sua fatia. Ego?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">É certo que
uma inteligência emocional eficiente tenha limites. É o que se chama de dar um
tiro no próprio pé – não que alguém tenha culpa de ter optimizado a sua
inteligência emocional, calhou! –, porque se é mais eficiente para umas coisas,
também o é para outras. E as memórias geneticamente e circunstancialmente
melhoradas são-no para o bom e para o mau. Há que bloquear a nossa
especialidade, a nossa obsessão, e canalizar energias para a libertação do ego
na direção do novo, do não familiar. Criar novas formas de lidar com a
informação: ser receptivo, ser sempre receptivo, mesmo que nos pareça uma
perfeita idiotice.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Nenhuma
especialidade, obsessão, é saudável. Há que domá-las, torneá-las, dançar os
ritmos indígenas com elas, fechar<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e
abrir os olhos as vezes que forem necessárias até que um ínfimo ponto de
diversidade surja – e mordê-lo com tudo, com dentes, com unhas, com garras, com
tudo. E partir do novo, daquela estrela; deslizar nos seus feixes à amplitude
do ângulo, o mais giro. Repara que até o que interessa na vida –
deslumbramento, estou a falar de deslumbramento –, torneia-se num ângulo giro:
abres a boca de espanto! ( é um ângulo giro!) O sorriso assume-se raso face a
isto, mas 180º sempre é melhor do que a rectidão de <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>90º ou a insuficiência de <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>menos de 90º, certo? O acutângulo de um beijo
sabe sempre a pouco, por isso queremos sempre mais. ( E nunca estamos
satisfeitos, não é? Ao ponto de preferirmos, por vezes, o nulo!)<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Repara que até
o que interessa na vida perfaz os 360º, abre-se num círculo de infinitude. Daí
que todos busquemos o giro que é do abraço e caiamos na amplitude exacta da
lágrima. E tu és mesmo giro! Sou tão emotiva!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Conceição
Sousa<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-15445293259888392852014-05-24T13:29:00.005+01:002014-05-24T13:29:57.818+01:006* Por amor?<span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed">
6*<br /> Por amor?<br /> Toda a minha vida escutei esta pergunta:<br /> – O que serias capaz de fazer por amor?<br /> (Tudo?)<br /> Questionava “Tudo?”, mas será que?... <span class="text_exposed_show"><br /> Uma réstia de dúvida, nada de muito significante, nada de muito significante. <br /> Há pensamentos difíceis, sensações extremadas que não devem nunca ser soltos. Intuem-se, sabem-se, guardam-se e reza-se para que nunca aconteça aquela circunstância, aquela intersecção do acaso que accione a necessidade: tudo?<br /> Um filho.<br /> Um filho que nasce de nós. Um filho que, sôfrego, abocanha o mamilo e sossega. Um filho que dobra o choro e sente os dedos a acalmar as cólicas: silêncio. Um filho que baba a urticária da dentição e rói o queixo até à exaustão. Um filho que enrola as letras na busca do colo. Um filho que cambaleia pela casa e balança o equilíbrio por entre os nossos braços.<br /> Um filho.<br /> Um filho que procura pela cadela que já não está. “É hoje que volta do veterinário, mamã?”<br /> Um filho que olha para o ninho e olha p’ra mim: não fala, olha, indaga, percebe.<br /> Um filho que diz que dói o braço e tu ouves “ vou morrer como a cadela, mamã?”<br /> Um filho que procura pela avó que não está. “ É hoje que volta do hospital, mamã?”<br /> Um filho que olha para o avental e olha p’ra mim: não fala, olha, indaga, percebe.<br /> Um filho que diz que dói a barriga e tu ouves “vou morrer como a avó, mamã?”<br /> Um filho a quem tu tocas e perguntas “ Doeu? Iupiiii! Parabéns! Estás vivo!”<br /> <br /> Quando um filho precisa, a hora é sempre a certa.</span></div>
<span class="text_exposed_show"><div class="text_exposed_root text_exposed">
<br /> – O que serias capaz de fazer por amor?</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed">
<br />Quando um filho precisa, a hora é sempre a certa.</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed">
<br />Quando um filho precisa, a hora é sempre a certa.<br /> <br /> Conceição Sousa</div>
</span><div class="text_exposed_root text_exposed">
</div>
</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-15819840849783559462014-05-24T13:26:00.003+01:002014-05-24T13:26:53.792+01:005* Aflige-a a correria<span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_53808fa14a9502634032490">
5*<br /> Aflige-a a correria<br /> Talvez porque já tenha corrido muito, e durante uma eternidade, e continue a correr, aflige-a, de sobremaneira, a correria –<br /> e trava-a.<br /> Sim, devagar, com mais calma… e intervalos, porque não?<br /> <span class="text_exposed_show"><br /> Dantes era porque era urgente acabar com a fome, destituir a miséria, abraçar todos os que ama num xaile de amparo cómodo, restituir a força a quem se esvaziou de sonhos pelo vagar dela. <br /> E foram, assim, duas extenuadas décadas a consumir-se até às vísceras, numa redoma fabril, onde nenhuma pausa se impunha ao ritmo acelerado das linhas de montagem, em que uma só funcionária, uma só, engolia toda a matéria-prima e expelia toda a produção; em que uma só funcionária, uma só, produzia tanto mas tanto mas tanto que distribuía à exportação. E exportava: exportava: exportava.<br /> A miséria em redor desacelerou. A fome quase que se extinguiu. Os xailes multiplicaram-se. A força tornou-se contágio. A funcionária quebrou segundos antes de subir de posto. Disfarçou e subiu na queda.<br /> Depois era porque era urgente acabar com as desigualdades. Havia que diminuir o impacto do afastamento de quem ficou para trás. E mais uma década na correria. A promoção era boa, mas, sem companhia, de que lhe valia? Tinha de produzir mais, descer à linha de montagem, ajudar quem lá estava a engolir toda a matéria-prima e a expelir toda a produção. E exportava: exportava: exportava.<br /> Mais um subiu de posto, segundos antes de quebrar; contudo a quebra deu-se por um motivo diferente… não era a extenuação a razão da quebra, era o “tens-a-mania-de-que-és-melhor-do-que-toda-a-gente”, subiu e disfarçou, não a queda, a distância a derramar-se. <br /> Ela continuou a subir na queda, e a fazer-de-conta. Um beco sem saída impõe um faz-de-conta, certo? E se é para continuar a queda mais vale que se suba, não? Se calhar não. Mas que faço? Paro e deixo-me cair?<br /> Se ao menos a máquina desacelerasse. <br /> Estás enganado. A máquina está parada. Quem não desacelera é a funcionária, raios! Não sabe desacelerar. Não consegue. Faz intervalos, cada vez mais longos, vá lá…<br /> Descobriu que tem mesmo de fazer intervalos, longos, se quer companhia. Percebeu que não vale a pena correr. Correu tudo na partida, nos primeiros metros, agora está só. Precisa de aprender a não correr mais, mas o peito puxa, o rosto avança, o embalo não quebra, e o vento que não é vento empurra, o passo estica… que há-de fazer? Toda ela pede, toda ela pede, não tem como não lhe dar o que toda ela pede, e continua. Não sabe a distância do horizonte, parece-lhe mesmo que quanto mais corre, mais distante ele se projecta. Deixou de o observar, ao horizonte. Apenas contempla os intervalos, cada vez mais longos, dessa corrida que não acaba. E espera que um dia alguém se aproxime para intervalar com ela.<br /> Sim, devagar, com muita mais calma, sim?<br /> Se é p'ra cair, tenho tempo.<br /> <br /> Conceição Sousa</span></div>
</span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-50596647477784153052014-05-22T16:53:00.004+01:002014-05-22T16:53:56.995+01:004* Ímpeto de ruptura<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW2uAe3pK9rpLUs-PNgRe-SA7Q9FQgvWzLkMqPuWAb1mDYzUAFYTMRJRM9H4lXPJaUnihjuAIcGorj3YAm6Ukjx7Z7y7BdpqGtxO_lQIBBRwUF217VQyhKjbxkwB0F2-GcdqnX8DYzFT8/s1600/espa%C3%A7o+cr%C3%B3nica.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW2uAe3pK9rpLUs-PNgRe-SA7Q9FQgvWzLkMqPuWAb1mDYzUAFYTMRJRM9H4lXPJaUnihjuAIcGorj3YAm6Ukjx7Z7y7BdpqGtxO_lQIBBRwUF217VQyhKjbxkwB0F2-GcdqnX8DYzFT8/s1600/espa%C3%A7o+cr%C3%B3nica.JPG" height="258" width="320" /></a></div>
<br />
<span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_537e1c231d8d02e82295110">
4* <br /> Ímpeto de ruptura<br /> Não é invulgar o avanço para a queda em mim, um ímpeto inabalável de ruptura na direção do vácuo: e algo há-de acontecer, nem que seja um termo a prazo certo ditado por mim ( eu mando, a ditadura sou eu: fim). <br /> Isto de<span class="text_exposed_show"> quererem que eu exista para satisfazer as necessidades de outros e oprimir as minhas é uma treta. Era criança, impreparada, e já o reivindicava. Porque será? como se explica? Memórias de genes grisalhos, longínquos, vidas cumpridas até às rugas, calejadas de mágoa e resiliência, que permaneceram no óvulo da minha mãe e no espermatozoide do meu pai? Embora não haja notícia de na história familiar haver assim alguém tão insubmisso aos tempos, se calhar até houve, lá nas linhagens de mouros e nórdicos. Já vos disse que reconheço-me feições mescladas, testa de moura, nariz de romana e cores de viking? Ao rubro, sempre ao rubro, cabelos de fogo e olhos de lince – coração de fera abatida, a rosnar um “ Não te atrevas, longe! Olha que mordo e tenho fome!”<br /> Rompi com o padre que massacrava a missa e eu tão pequena: Fala baixo, homem, que desperdício de energia, eu ouço bem! E porque só tu, homem, e não uma mulher? Anos a fio, corpo anestesiado, a percorrer os mesmos carreiros, a sentir a dureza daqueles bancos, joelhos doridos, mãos atrofiadas, uma na outra, a impedir a explosão de dentro no encalço da testa, o eco do sino a consumir-me os badalos do que é imposto, uma foto em que me vestem de bege, terço a carpir os nós dos dedos e eu, tão pequena, de maxilares cerrados, nem um sorriso. Será que não sentiram que não celebrava?<br /> Rompi com a cultura da época, o pai que concentra em si todos os poderes, a subserviência do feminino ao masculino: “Não, meu pai, por que tem a minha mãe de estar de pé e te servir? Não foi ela que cozinhou? Por que não senta a minha mãe e serves tu a ela, não merece esse descanso, esse carinho? Por que não lhe abres tu a cama e lhe colocas os chinelos à porta do que a espera: ternura? E eu? Por que não saio eu à rua como os meus irmãos homens? Não te beijei quando entrei? Não te dei o mesmo abraço que eles deram?” Anos a fio a contornar a voz do instinto, a abraçar um toque oco, a beijar de cadeados, e venci. Rumei, esgotada e triste, ao futuro de um passado que não se recupera porque não existe. Vencemos. Já não há subserviência do feminino, há crescimento, aprendizagem, um pai divino e uma mãe aragem, evolução: e avental no coração de um homem bom.<br /> Isto de quererem que eu exista para satisfazer as necessidades de outros e oprimir as minhas é uma treta, escutas bem, Sr. Ministro? Temo fazer uma loucura, temo fazer uma loucura. Um instante de decisão. Mais um ímpeto de ruptura. Um insignificante instante de decisão – e já nada será como antes, nem p’ra mim, nem p’ra ti, irmão. E, na verdade, já nada há que eu tema e esse é o gigantesco temor: nada há já que eu tema, escutas bem, Sr. Ministro? Um instante de decisão. Aviso-te. Um instante de decisão. E já não existo. Qual é a complicação? Sou moura, viking e romana, irmão…<br /> A que vem será melhor. Respirará a liberdade de ter agido em tempo útil a decisão de lhe aprovar a vida: a de verdade. Uma loucura pelo bem da sanidade. Uma loucura e o champagne do teu sorriso. Uma loucura e o alívio da humanidade.<br /> Quem vem comigo?<br /> Sim, ninguém, de início, já sei... <br /> <br /> Conceição Sousa</span><span class="text_exposed_hide"> </span></div>
</span><span class="userContentSecondary fcg"></span><br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8500181442467573324.post-30655885794311666172014-05-22T16:51:00.002+01:002014-05-22T16:51:43.303+01:003* A morte da inocência é o fim.<span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_537e1c231e3e50403003749">
3*<br /> A morte da inocência é o fim.<br /> A morte da inocência é o fim. E o rastilho. Tudo o que vem a seguir é prolongamento – porque é mais do mesmo, porque mói e mói e mói, porque nem anda nem desanda, porque morreu e apodrece a morrer e escarafu<span class="text_exposed_show">ncha no não haver, porque consome o que já rompeu de gasto e continua a ralar –, tudo o que vem a seguir, permitam-me a redundância, é o inferno.<br /> “Olá! Pensavas que nunca até mim virias? Olá! Um abracinho só, vá, não te encolhas, deixa de ser tolhida, só um toquezinho…”<br /> A morte da inocência é a catástrofe. Quando o alumiar da vela se extingue, o que sobra? Rebordos calcinados, curvas ásperas e o bafo quente do teu hálito na penumbra que se reveza penumbra e mais penumbra, a sufocar.<br /> “Chega p’ra lá, apre! Deixa-me respirar. Dá-me espaço, dá-me espaço.”<br /> A perna que não se atreve a estirar, o terror do toque, um sinal e ele vem, abocanhar-me toda, engolir-me, não, não… Um ínfimo ponto, a apartar o asco.<br /> Sonha o retorno da inocência, o dedilhar ingénuo, o sorriso ao acaso. Suspira a infância nos passos simples, o contemplar deslumbrado das horas que não se contam, do regresso aos segundos eternos, à magia dos pássaros que se constroem com conchas do mar.<br /> “E voa? A sério? Voa mesmo? Como pôde um mudo construir umas asas de anjo num pássaro de iodo?”<br /> É isso, viver. Passar o ciclo das auroras e dos crepúsculos em torno das asas de um pássaro de iodo, impossibilitado de falar; apagar os ruídos devassos do mundo no interior de cada concha que se cimenta; deslocar a retina no embalo do reclinar de testa e espantar-se junto com as penas que voam do pássaro.<br /> “Vou, vou mesmo, aguarda-me… já me vês? Vês como voo? Não? Ah, sim, só as penas…”<br /> Restaura o toque da inocência no silêncio que circunda a imponência do pássaro de iodo. Entrelaça os dedos enquanto sentes que a derradeira concha não deve ser posta, enquanto o mundo desconhece essa voz que nunca ouviu só porque não quer ser ouvida e não vale as penas do pássaro que a ouçam.<br /> É isso, viver. Não vá o pássaro de iodo com asas de anjo e escultor mudo querer sair por aí a voar, não vá a inocência nunca mais querer voltar.<br /> Ao inferno impede a demora um olhar húmido e mudo de iodo, uma derradeira concha pousada no coração de um anjo sem asas e a veleidade de um gesto que se trava –<br />para que o pássaro não se sinta completo e voe na direção do infinito.<br /> “Quem tomaria conta de nós se a inocência partisse? Aquela pena há-de faltar sempre ali. A concha? Guardo-a no meu peito.”<br /> <br /> Conceição Sousa</span><span class="text_exposed_hide"> </span></div>
</span><span class="userContentSecondary fcg"></span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/09405675945820476129noreply@blogger.com0