"-Quando lhe tirarem a casa e o carro, a sua família vai desmembrar-se. A sua mulher gorda vai pedir o divórcio, e os seus filhos esquecidos vão desaparecer de vez.
-Maravilha!
-Então? É suposto ser um desgosto…
-Ah!, sim, sim. Um desgosto. Tem de ser mais forte do que isso.
-E vai ser. O seu patrão, quando se aperceber de que lhe estão a descontar parte do salário para pagar dívidas, vai despedi-lo.
-Oh!, isso não!
-Oh!, isso sim. Aí é que está o seu ponto fraco: o seu desgosto. Mas lembre-se de que se tornará forte, pois vai sofrer imenso com a situação. Nessa altura, surge a circunstância oportunista. Sem casa, sem carro, sem mulher, sem filhos, sem emprego, sem amigos, totalmente na miséria e só, nessa altura, o Filipe torna-se esquizofrénico; mas tenha noção de que ainda demora a acontecer.
-Demora?
-Sim. Há pessoas mais resistentes do que outras. Há pessoas que precisam de estar na mó de baixo, no fundo do poço, meses e até anos.
-Anos???
-Quer ser esquizo ou não? Lembre-se que, no momento em que se tornar esquizo, recupera tudo.
-Sim, sim. Há apenas um senão. Os meus amigos não me vão abandonar. Vão querer deitar-me a mão.
-Não esteja tão certo disso. Já vimos esta receita funcionar inúmeras vezes. Garanto-lhe que ninguém irá deitar-lhe a mão. Ninguém deita a mão a um sem-abrigo.
-Sem-abrigo?
-Sim. É nisso que se tornará, entretanto. Irá mesmo ficar convencido de que perdeu tudo em troca de nada. É essa a ideia. Porque enquanto pensar que no fim valerá a pena, a receita não funcionará. Terá de chegar àquele ponto de duvidar de nós, da receita, ao ponto da descrença total, do desespero absoluto. E atenção aos efeitos secundários.
-Efeitos secundários?
-Sim. Haverá momentos em que, como disse, duvidará da receita e quererá recuperar a sua vida e desistir de sofrer o desgosto. Lembre-se: o caminho é em frente. Não pode desistir. A desistência não trará a sua vida de volta: nem casa, nem carro, nem família, nem emprego, nem amigos. A desistência só lhe trará a garantia de que não se transformará num esquizo. O efeito secundário é a morte. Os desistentes perante a perda total suicidam-se."
-Maravilha!
-Então? É suposto ser um desgosto…
-Ah!, sim, sim. Um desgosto. Tem de ser mais forte do que isso.
-E vai ser. O seu patrão, quando se aperceber de que lhe estão a descontar parte do salário para pagar dívidas, vai despedi-lo.
-Oh!, isso não!
-Oh!, isso sim. Aí é que está o seu ponto fraco: o seu desgosto. Mas lembre-se de que se tornará forte, pois vai sofrer imenso com a situação. Nessa altura, surge a circunstância oportunista. Sem casa, sem carro, sem mulher, sem filhos, sem emprego, sem amigos, totalmente na miséria e só, nessa altura, o Filipe torna-se esquizofrénico; mas tenha noção de que ainda demora a acontecer.
-Demora?
-Sim. Há pessoas mais resistentes do que outras. Há pessoas que precisam de estar na mó de baixo, no fundo do poço, meses e até anos.
-Anos???
-Quer ser esquizo ou não? Lembre-se que, no momento em que se tornar esquizo, recupera tudo.
-Sim, sim. Há apenas um senão. Os meus amigos não me vão abandonar. Vão querer deitar-me a mão.
-Não esteja tão certo disso. Já vimos esta receita funcionar inúmeras vezes. Garanto-lhe que ninguém irá deitar-lhe a mão. Ninguém deita a mão a um sem-abrigo.
-Sem-abrigo?
-Sim. É nisso que se tornará, entretanto. Irá mesmo ficar convencido de que perdeu tudo em troca de nada. É essa a ideia. Porque enquanto pensar que no fim valerá a pena, a receita não funcionará. Terá de chegar àquele ponto de duvidar de nós, da receita, ao ponto da descrença total, do desespero absoluto. E atenção aos efeitos secundários.
-Efeitos secundários?
-Sim. Haverá momentos em que, como disse, duvidará da receita e quererá recuperar a sua vida e desistir de sofrer o desgosto. Lembre-se: o caminho é em frente. Não pode desistir. A desistência não trará a sua vida de volta: nem casa, nem carro, nem família, nem emprego, nem amigos. A desistência só lhe trará a garantia de que não se transformará num esquizo. O efeito secundário é a morte. Os desistentes perante a perda total suicidam-se."
(in "Tala, enquanto cura e nasce. Porque o milagre é acreditar." de Conceição Sousa )
Sem comentários:
Enviar um comentário