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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Há braços abertos por todo o lado.


Não chores, amor. Não sofras por descrença. Pensa. Pensa, amor. Pensa: o que está além de tudo o que conheces, de tudo o que vês? Pensa: o que é tudo o que tu sabes, tudo o que tu sentes? Talvez apenas a informação que , toda uma vida, te fizeram entrar pelos olhos e ouvidos adentro...Pensa, amor. Pensa. E o que é tudo o que tu não sabes, ou não sentes? Talvez a informação que não te fizeram entrar pelos olhos e ouvidos adentro. Pensa, amor. Pensa. Sente. No escuro, sente. Não chores, amor. A tua dor é um engano da mente. Não chores, amor. Não acaba, hoje. Não acaba, agora. Não acaba, amanhã. Pela simples razão de que também não te lembras de como começou. Ou lembras-te? O pouco que te lembras de como começou foi o que te foi dito ter sido observado por quem te disse. Mas quem te disse não te disse tudo. Omitiu muito do que viu. E há quem tenha visto como começou para ti - e até desconheces a sua existência. Há quem esteja a ver - e tu desconheças a sua existência. Só se te quiser dizer. Não acaba. Não chores, amor. Não acaba. Apenas te deixam acreditar que acaba, amor. Há braços abertos por todo lado - apenas não os vês. Sente, amor. Sente.
(Conceição Sousa)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sem, no entanto, olhar de facto.

É p'ra ti que, demoradamente, olho
sem, no entanto, olhar de facto...
Vezes sem fim aguardo - não olhando -
que teus olhos pousem em mim, de imediato.
E nas costas, tua seduzida vigia pesa-me
no peito arfando sinto-a ignorar-me, pedra.
Sei que, iludida, sonho quem não és
só aquele que penso amar-me, de rígida tez.
E quando, perdido, me olhas nos olhos
sem, no entanto, olhar de facto,
minha suplicante mente: mente feliz.
Segreda-me (em amplo aparato)
na ânsia de que também me vês -
aquela com quem tu acordado sonhas
mas que imaginas ela (não) ser,
aquela que pensas amar-te
mas sabes (não) te querer -
e que acreditas fazer(-te) sofrer.
Será amor o acabado retrato?
Palpável apenas no átrio da intuição.
Um que dúvidas no tempo lamenta
contrai a dor - intuída percepção -
ocupa no coração amplo espaço
sorri no doce pressupor - água benta -
ampara a hóstia da comunhão.
Desdenha o rubor, estende a mão.
É um amor que - quando toca -
não se mascara, suplica rosto
e olhos com olhos latejando;
encosto de lábios, pensamento fechado -
nas pálpebras sentido o fluir do momento;
e a batida do coração, acelerado atrevimento -
tantas as palavras que guardo cá dentro.
É p'ra ti que, demoradamente, olho
sem, no entanto, olhar de facto...
Beijo-te.
(de Conceição Sousa )

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

morreste!

 
 
 
 
Não receies.

Vive sem encolher.

E não percas o teu tempo com o que não te sabe ver.
...
Beija, carinhosamente, a testa dos que,

diariamente, te fazem uma festa :

dos que, euforicamente, te saltam para o colo.

Marca-lhes a tua dentadura na aura e aferroa-lhes o coração,

ao atrelares-te no seu chão, e ao dizer : cai em ti, sou tua!

Dura?

Não. Só o instante... e o que te faz doer

te dá a firme certeza do viver: a valer.

Se não doi, e dura, dura...

lamento informar-te ( tu que já não me ouves ):

morreste!

(de Conceição Sousa )

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um herói.


Em pleno centro histórico: um herói.
 Um herói que canta com a voz de mil heróis.
 Um herói da terra que vive, na alegria da voz, as dores do seu (do meu) existir.
 Atira na direção do sol, e à passagem dos transeuntes, o seu direito ao grito e à fruição da terra.
 Um herói que, sem o saber - e junto com estas pombas que me beijam os pés - me aquece a alma. Assisto a um espetáculo digno do céu, no timbre do herói sem vestes de corrompido e que, à margem da cidade cosmopolita, mostra ( sem o saber ) o que é da vida o apogeu. Ajoelha, agora (e unicamente) à passagem de Deus.

 ( Conceição Sousa)