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sábado, 26 de setembro de 2015


"FICA", convite

Boa tarde!
Venho, por este meio, convidá-lo (la) para o lançamento do meu mais recente livro, o romance "FICA" (com a chancela da Chiado Editora), que decorrerá na Biblioteca Municipal Raul Brandão em Guimarães, no dia 3 de Outubro, Sábado, pelas 11h da manhã.
Informo, de igual modo, que toda a minha obra artística, no ramo da escrita, estará em exposição na loja do Sr. Júlio Alfarrabista (na rua da Rainha, em Guimarães), nos dias 3 e 4 de Outubro, inserida no evento Noc-Noc Guimarães (grande exposição da obra de vários artistas nacionais e internacionais).
Peço a gentileza de encaminhar o convite em anexo a quem interessar. A entrada é livre.
Muito grata.
Conceição Sousa

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Carta a um companheiro errado

Carta a um companheiro errado, na esperança de que ainda haja tempo para mim:
Amei-te com dedicação, amei-te porque quis, porque tive vontade e sentia-me feliz quando cuidava de tudo em redor para que pudesses sentir-te ainda mais feliz. Nunca esperei gratidão, sabes? Até sou daquele tipo de pessoa que fica sem jeito quando lhe é tecido um elogio ou quando alguém solta em palavras o que, a todos os momentos, os olhos já haviam dito " Sou-te tão grato...". Nunca, nunca, esperei gratidão, sabes? Amo, porque amo, porque sim, porque o oposto de amar ou o vazio de amar não encontra espaço em mim. Amei-te muito, durante longo tempo, e com sincera dedicação... mas não suporto a ingratidão, abomino essa má fé, essa linguagem do corpo de quem desdenha quem sempre lhe quis e lhe fez bem. Tudo morre dentro de mim quando me lanças o olhar envenenado de quem esperou mais ainda e remoeu o fio de nylon que faltava; de quem teceu no esquecimento agro o prazer rendilhado de décadas felinas no encalço de uma lingerie tão de afável negro quanto de condenável rubro. Tudo morre, morreu, dentro de mim, sabes? E é ingratidão, sim. Não tenho de continuar a amar-te, ouve...não tenho de continuar a amar-te. E tu não tens de continuar a olhar-me de um inferno ao qual faço questão de não pertencer. Vai, tu, mais o teu inferno, vai... mesmo que penses que o teu inferno sou eu e tudo o mais que tu ainda querias e que eu, porventura, não sabia que querias e não consegui te dar. Não amo para que me sejas grato, já to disse, mas também te implorei que não suporto essa fome de mais, esse rosto tolhido pelo fel do que ainda querias de mim, essa mágoa cega e ingrata de quem nunca perguntou "Estás bem?", de quem nunca respondeu ao amor com o peito aberto e o sorriso franco de um "Não te preocupes...eu estou aqui, atento a ti". E à ingratidão magoada, a minha única resposta é o silêncio resignado e a total falta de dedicação.

Conceição Sousa

terça-feira, 14 de julho de 2015

Humanismo



Há um caminho que parte do mundo insiste em seguir. Um caminho que nos entrega ao ego, à ganância, ao poder e nos exclui da partilha, do que somos e do que conseguimos, com todos os outros. Há Homens que lutam pelo que todos somos, que percebem a fragilidade da vida e conseguem ser altruístas ao ponto de saber ceder nas próprias convicções para que todos possamos não ser ainda mais sacrificados. Actualmente, na Europa, temos um Schäuble, que representa o que chamo de "abocanhamento" de tudo o que é material, essa parte do mundo a que me referi, de quem até saliva por mais poder, e temos um Alexis Tsipras, que pertence ao segundo tipo de Homens, os que não abdicam dos valores humanistas: do respeito por si mesmo e ao próximo, da bondade, do amor fraterno, da coragem, do desprendimento do supérfluo financeiro. Desde tempos muito antigos que uma parte do mundo só anseia dominar todo o mundo;desde tempos muito antigos que uma outra parte do mundo dói-se pelo sofrimento de todo o mundo e reage, rebela-se, com coragem, força, inteligência, por amor à vida, à sua e à de todos os que lhe são próximos. Essa parte corajosa do mundo começa sempre por ser pequena, começa por um, sempre por um, mas a força de um espírito - quando todos os outros sentem que já estão mortos, por isso mais vale lutarem por viver - contagia, e como qualquer contágio que se preze, é veloz e eficaz. Há-de haver mais sofrimento, mais pesar, mais mortes, mas a História ensina que quando damos as mãos e nos doemos pelo bem de todos, não há Schäuble que possa vencer a luta por uma vida digna no seio das comunidades. Se fosse um elemento do Eurogrupo,pensaria muito bem antes de decidir continuar com a política de austeridade direcionada a todo um povo, a vários povos. É uma questão de tempo para a sublevação dos povos. A História ensina. É tão óbvio o caminho, já trilhado antes, que aí vem que até dói. Sou mãe. Não consigo sentir alegria dentro de mim. Só uma vontade enorme de continuar a lutar para que possam os meus filhos um dia vir a viver com dignidade e alegria. A minha luta é esta, com as palavras. Sei que a sociedade é injusta, sei que uns vivem com mais, outros com menos, outros com nada. Por mim, viveríamos todos com as mesmas condições e, bem partilhado, ninguém passaria fome, ninguém morreria às portas dos hospitais, ninguém sentiria vontade de pôr uma corda ao pescoço. Quem me conhece, sabe que sou assim. O que consigo ganhar, partilho. E rodeio-me de pessoas, felizmente, que também sentem da mesma forma, por isso as partilhas também entram na minha casa. Entre nós, com esta história da austeridade, é pouco, mas vamos sobrevivendo. Conseguimos que ninguém tenha ficado sem casa, sem luz, sem água, sem gás, sem medicação, sem comida, sem carinho, sem companhia. Era tão mais fácil se este espírito existisse entre as gentes de um mesmo povo, entre povos. Reformulo: o espírito existe nos povos, não existe é nos seus líderes, que provavelmente os enganaram para conseguirem liderar. Era tão mais fácil se o poder estivesse realmente nas mãos dos povos. E está: é uma questão de tempo, e de muito sofrimento entretanto.

Livros de Conceição Sousa

sábado, 11 de julho de 2015

No fim não há o verbo

Ofereço palavras, umas atrás das outras,
nem sempre com gente perto,
às vezes, muitas vezes, só para os meus dedos,
os meus olhos, e um outro tempo, talvez...
penso que é isto que nos distingue dos seres inanimados,
esta vontade desesperada de comunicar.
Talvez também eles se façam dela - e nós ainda não tenhamos
descoberto o canal da sua recepção. Já que, entre nós, seres que desesperam por comunicar, raramente se assista à sua compreensão, raramente se escute um desespero diferente do nosso.
Porque somos tão focados num só indivíduo?
Porque desesperamos por comunicar e só escutamos o nosso próprio umbigo?
Deus deu-nos o dom da palavra para que nos consigamos libertar do nosso ego,
e só encontraremos o sentido da vida quando abraçarmos o nosso silêncio e soubermos escutar o silêncio do nosso irmão.
No fim de tudo, não há o verbo: esse só atrapalha.
Quem me escuta?
Eu, ainda, não sei escutar ninguém.


Conceição Sousa

quarta-feira, 1 de julho de 2015

artesã

Quero dizer que estou aqui, hoje, sempre tranquila no epicentro da tempestade. Só porque a vida é tão efémera que de nada nos vale perder um segundo que seja com um mau sentimento. No entanto, lutar, lutar sempre para que todos tenham, no que depender de nós, as melhores condições de vida. Haja um a precisar de pão que me terá ali na palma da sua mão. Se não precisar, terá na mesma. ( Verdade seja dita.) Caso a feche, num acto de soberba, não prenderá o meu caminho, antes o afastará para um outro destino. Sou artesã de um só gigantesco ninho.

Conceição Sousa
É a rotina que o segura aos dias. O fogo perdeu-se algures nas costuras. A cola arrasta-se dos sapatos às veias, mas perde a força ao chegar ao coração. A vida existe para o acordar todas as manhãs, o aquecer nas bermas do entusiasmo e o adormecer do frenesim da dor. A vida escorraçou-o para os braços da morte mas o sopro não se resigna e consome, teimosamente, toda a aragem de mais uma madrugada. Se a sente é porque veio. Se veio é porque é dele. Se lhe pertence, há que fechar os olhos e amar. Amar é ser amado - mesmo que por uma breve aragem na madrugada.

Conceição Sousa

Alívio

Às vezes, os sustos voltam, só para redefinirem prioridades. Este voltou e já foi. Alívio. A vida é bela. Tudo o resto é acessório e assaz de importante na sua insignificância. Há que saber sentir o tempo: com o corpo que é teu, a alma que te confidencia, o afecto de quem te presta atenção e a natureza dos dias e das noites que ama a tua natureza sem que o saibas. Consegues sentir? A grande paz? Sê feliz, nessa comunhão que te pertence e à qual te entregas. A maldade só te consome se tu lhe deres guarida e conversares intimamente com ela. Se a não deixares entrar, ela não se instala. Se insistir em segurar-te o braço e caminhar contigo, sorri-lhe e devolve em dobro todo o teu paciente amor. Olha que podes! Podes mesmo! Só tens de te focar no corpo que é teu, na alma que te confidencia, no afecto de quem te presta atenção e na natureza dos dias e das noites que ama a tua natureza sem que o saibas. Todos os teus sentidos andam distraídos. Se parares um pouco, fechares os olhos, escutares com redobrada atenção, uma subtil aragem eriçará a tua penugem e tu perceberás o calor da energia universal a amar-te. O arrepio é quando tu sentes e devolves todo o amor que te dão. E uns pingos de chuva, uma brisa a maresia ou até uma simples música podem desencadear essa partilha energética. Quem precisa da mesquinhez dos Homens?

Conceição Sousa

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Quero escapar à frieza

Quero escapar à frieza. O hábito entranha-se na alma como a humidade se agarra à esponja. O âmago enche-se de um líquido espesso e cresce ao ponto de uma saturação gelada. O familiar passa fome e tu comes da fome que te olha. O amigo sente frio e tu sentes do frio que te cerca. O vizinho perde a cor para a doença e tu perdes a dignidade quando olhas para o lado. O desempregado verte as lágrimas e tu vertes a ostentação de cada vez que te cruzas com ele no elevador quando vais... trabalhar. Entras na frutaria e alguém sofre por te ver entrar na frutaria e por saber que não pode comprar uma peça de fruta. Entras no hospital e alguém sofre por te ver entrar no hospital quando sabe que não pode amenizar a dor da sua doença porque não consegue pagar a taxa moderadora. Entras no teu emprego e alguém sofre por te ver entrar no teu emprego porque precisaria de ter um emprego , um modo de subsistência, e não há forma de o conseguir.
Quero escapar à frieza, sentir nos afectos que vêm de longe a infância de um toque de humanidade. Quero espremer o meu coração e vê-lo derramar a humidade ingénua de quem não se esquece da origem e do comum. Somos sangue, todos sangue, todos rubro, todos com as mesmas necessidades básicas, o mesmo fôlego, o mesmo ímpeto, o mesmo calor, a mesma fome, a mesma sede, a mesma carência no encalço de um amparo, um simples conforto: uma palavra. ( um silêncio.)
Quero manter-me humana. Quero ser digna de ter nascido humana. Quero ser digna de um dia morrer com este dever de humanidade cumprido. (Reg.)


Conceição Sousa

domingo, 22 de março de 2015

Não és assim tão importante.

Não és assim tão importante... penso que já percebeste isso, não? Importante sou eu. Mas, admito, gosto deste sossego que me prende a ti, desta vontade de te sentir como quem agradece o alvorecer, ou abre os poros à fragrância vespertina, ou degusta o beijo fresco da madrugada no orvalho que nos ressuscita a pele. Não és assim tão importante, apenas na medida em que o é um habitat natural. Contigo, respiro. Contigo, sorrio. Contigo, amo. Contigo, vivo... mas sem ti, sem ter noção de que é sempre contigo, mesmo pensando que sem ti. E não é assim com o sol, o vento, a lua,os órgãos internos, os ossos? E não é assim com as árvores, a água, a temperatura amena, os órgãos externos, a pele? E não é sempre assim, sem ter noção de que é sempre contigo,mesmo pensando que sem ti? Porque o que nos consubstancia, desde o ventre - o sangue! -, não abre as vísceras todos os dias para nos mostrar do que somos feitos, mas está sempre lá, é do que somos feitos e nem por isso lhe damos o visceral valor. Esquecemo-nos. Esquecemo-nos de que nada é garantido. E basta que um ínfimo nada falte para que tudo desabe. E tu és apenas um ínfimo nada que não pode, de maneira alguma, faltar,ouviste? Não podes - estás proíbido de -, faltar-me. Mas não és assim tão importante...

sábado, 21 de fevereiro de 2015

FICA (romance)

Srs. Deputados do governo e oposição de faz-de-conta (já nem me dirijo aos outros acima na hierarquia porque não são de cá, da Terra, humanos, são uma espécie de alienígenas com tiques de pactos de agressividade), a redução do défice e o término da espiral recessiva (que os cidadãos não vivenciam), os vangloriosos resultados a que afirmais a boca cheia terdes chegado ( e que os cidadãos não sentem) são à custa de cortes unilaterais e arbitrários nos rendimentos do trabalho ( ...de agora e de outrora), são à custa do roubo diário da dignidade das famílias ( da felicidade das famílias), da possibilidade de honrarem os seus compromissos, a sua palavra, o seu fio condutor ( perdemos o Norte, sabeis disso?), são à custa de cada vez mais sem-abrigo, de cada vez mais negligência nos cuidados de saúde, na assistência à terceira-idade, são à custa do holocausto do desemprego, da fuga apocalíptica de muitos (aos milhares) da sua nação (uma que sentem como estranguladora, exploratória, implacável no desrespeito pela dignidade humana, gratuita nas injustiças, em pleno corredor da morte quanto à quebra do voto de confiança e dos alicerces da democracia – a tentar perceber como vai acontecer, injecção letal?), são à custa do contínuo assalto fiscal, das desculpas esfarrapadas burocráticas para comer um pouco mais da fome de quem já nada tem (e tudo serve, até um recibo que alguém esqueceu de guardar – vamos lá ver se o barro cola à parede…), são à custa da machadada certeira nas pernas curtas de muitos trabalhadores independentes ( que ilusão, meu Deus!) que, pese embora a honestidade de o declararem que o são ( nem sempre é assim – e esses têm mais sorte), trabalhadores necessitados de actividade lateral prioritária independente para sobrevivência ao flagelo da ditadura mascarada de democracia, são barbaramente bombardeados com mais assalto aos parcos rendimentos de circunstância que auferem ( “era para tapar aquele buraco, mas, meu amigo, cavei um mais fundo ainda”, dirão agora, com a corda ao pescoço).
Srs. Deputados do governo e oposição de faz-de-conta (não quero crer que também sois daquela espécie alienígena, sem pingo de humanidade, só focada em pactos de agressividade), devo informá-los que esta é uma nação governada por elites vergonhosas, invejosas e temerárias, que encontram nas leis, lapidadas a dedo cirúrgico, a sabedoria e a manha necessárias à decapitação de qualquer tipo de prosperidade, seja a independente, seja a inteligente, seja a crente. Vão sacanear outros!
Dedos erguidos, dedos bem erguidos, bem tesos para arremessar no papel toda a fúria reflexiva, instintiva e combativa.


Conceição Sousa in "FICA" (romance)