Número total de visualizações de páginas

sábado, 31 de dezembro de 2011

Há pessoas.




Há pessoas desviantes do que tu és; há pessoas condizentes com o que tu és - mas ninguém é como tu és; há pessoas. É certo que umas não olham a meios para atingir os fins - só porque os seus fins são o que pensam ser a vida: perdoa-lhes. Por certo, conseguirão ser felizes - supõe-se... também é certo que há mais pessoas ainda a abdicar dos fins (esses que deixam de ser vida) em prol dos meios, e das belíssimas almas que encontram nos trajectos - isso, sim: é vida. É certo que nos cruzamos, a toda a hora, mais à frente ou mais atrás; vacilamos perante a novidade - que quando deixa de ser novidade é verdadeiramente vista -, azedamos face à rotina (que ao ser esvaziada do que é -rotina-, deixa uma saudade de morte - da própria rotina), comunicamos nas nossas mais diversas formas de ser e de estares. Também é certo que a essência - a verdadeira essência -, essa: não muda. Pode , a dada altura, adormecer deslumbrada de si própria; ou, até mesmo, acordar eufórica num outro patamar (que não o seu), mas, na verdade, não muda. Quem o diz? O tempo. O tempo, se lhe deres tempo, diz-to : bem na tua cara. E ainda bem. Os meus votos de um bom retorno a ti próprio - e àquilo, ou ao alguém, que te faz verdadeiramente feliz.
(Conceição Sousa)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

o amor que (des)conheço



Não conheço o amor de pai,nem tão-pouco o amor de mãe...
a vida assim o quis - que não os conhecesse;
mas conheço o amor da vida -
esse, que fez com que eu acontecesse.
O amor que, todos os dias, me rasga a alma,
no raio de sol que espreita e me penetra, logo pela manhã;
o amor que, a toda a hora, me lambe a pele,
de pata ofegante no ar, junto ao sofá;
o amor que, sem perda de tempo, me molha o corpo,
ao escutar as lágrimas que caem do Céu;
o amor que, a cada segundo, me gela a tez,
no beijo que entra pela frincha da janela,
e me faz gostar de mim (assim),
tal como Deus me fez.

(de Conceição Sousa)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O lado de fora

Habituada que estou a olhar para dentro
mal noto o que vai do lado de fora
embora pressinta que neste momento
é tida a vontade e dela se fez hora.
Levantem-se as pálpebras bem devagar
percorram andando neste silêncio
são épocas para mim a olhar
segundos marcados no tempo.
Figuras de alma entrelaçada
papel em mudos retratos
sussurram baixinho...não são ouvidos.
Parecem outros, dizem algo
que não compreendo e é importante
murmuram lá longe, ecoam distante.
Vida própria reclamam -o dedo
apontam à minha presença.
Exigem voltar lá, é sua a sentença.
Tantas as vozes que me observam...
Receio seus rostos, tenho medo.
O nada vagueia neste quarto
emite o som do desassossego
nos livros letras borbulham
anseiam a página aberta
aguardam sua vez de contar
a história, que não lida, é deserta.
Bonecas de porcelana altivas
escondem tristeza no espartilho
chapéus emplumados em destreza
combinam ao requintado vestido.
Reclamam um baile encantado
numa época de pura etiqueta
exibem no cabelo ondulado
a aura da original vedeta.
O menino de braços abertos
oferece o espírito da paz
a senhora de manto lilás
com ele mantém conversa
e o baú fechado desperta
memórias em cheiro de pinho
embora pareça acorrentado
em tempos provou o vinho
da liberdade em pano amparado.
Apenas dois quadros na parede
o epicentro desta vã realidade
seguram-se às iniciais contidas
unidas pela voz do abade.
O frio começa a apertar
as sombras a segredar
por ora chega de olhar
para o dito lado de fora...

(de Conceição Sousa)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Há uma linha de vida



Há uma linha de vida (boas, más, mais ou menos boas e más experiências)
que nos leva a algum lugar.
Há uma linha de vida (de sorrisos, de choros, de gargalhadas, de lágrimas,
de disparates e de loucura, de serenidade e comedimento)
que nos conduz àquele lugar.
Há uma linha de vida traçada, compreendida pouco-a-pouco,
sonhada, perdida, reencontrada, desistida, resgatada,
que nos coloca, com precisão, naquele ponto específico.
Há uma linha de vida solitária, partilhada, escondida, mostrada,
sofrida, cantada, que nos traz (passo a passo, receio a receio, arrojo a arrojo,
alegria a alegria, tristeza a tristeza, vitória a vitória, derrota a derrota,
dor a dor, celebração a celebração, furor a furor) a este estar - o de agora.
Saboreia o que tiveres de saborear. Ama o que tiveres de amar.
Dá-te, em vida, na tua linha de vida: dá o que tiveres de dar.
Há uma linha de vida que tem de continuar: as de morte acabam por,
na linha de vida, se acabar: ficam onde têm de ficar ( lá: no passado);
e servem para o que servem: a linha de vida fazer avançar.
Há várias linhas de vida, dentro da tua linha de vida, que te acenam e te sorriem.
Há várias linhas de vida, dentro da tua linha de vida, que te acompanham e orientam -
muitas vezes, de tão aliciantes, até te fazem sofrer,
sem no entanto da principal linha te levarem a perder.
Há várias linhas de vida, dentro da tua linha de vida, que te beijam e te abraçam
(dizem um "olá" e , de imediato, acenam um "tchau");
não percorrem contigo a tua linha de vida: desistem-te;
mas marcam para sempre um sorriso no teu coração - até àquele ponto finito de luz:
o início da escuridão ( ou doutra coisa qualquer por dentro da visão)
(de Conceição Sousa)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

estas letras



estas letras são feridas contadas vertidas

na ausência com que, sufocado, me gritas;

são chagas caladas nas mãos vestidas

pelo silêncio com que me cortas os calos;

são sulcos despidos de tinta lacrada

no toque vadio de sangue no estar;

são irrefutável prova de vivência

na decadência do sempre que dorme sem par.



estas letras são lágrimas caiadas de branco

no espaço vazio por entre o negrume dos símbolos;

são marcas indeléveis de água sem espelho

na verdade escondida do mundo;

são passos atrevidos renegados na ousadia

suada entre a vida e a morte: hora;

são proibido arfar e choro arrastado

da alma vítrea- que em ser amada se demora.



estas letras são fio constante da navalha

no peito o encalço do crente amor;

são coragem vencida na cruz desistida

de amar-te, senhor: ai! que dor!

são poço de mágoas contidas no ar denso

que atravessa todos os ríspidos desertos;

são monção contínua, avalanche de terra crua

na cascata dorida do coração que te sente perto.



estas letras são, na minha vida, oração ao tempo

e, fora dela, sentida entoação: pedaço de ti em mim:

rasgo do momento.
(de Conceição Sousa)

Dois

Não me falas – e, ainda assim, sei que me amas.

Não me tocas – e, ainda assim, sei que me choras.

Não me crês – e, ainda assim, sei que me gemes.

Não me vês – e, ainda assim, sei que me queres.

Não me marcas – e, ainda assim, sei que me sentes.

Não me sabes – e, ainda assim, sei que te dóis.

Dois – ainda assim, é o número que nos sei agora,

antes e depois: dóis-me.

Sei que, algures, no tempo –

entre um espaço que, por não se mover,

se move,

e um ar do Criador que, por não se mostrar,

se mostra –

tu e eu seremos nós: dóis.

O nós, que nos sei, não será a sós.

Não será só “ch”,

não será só silêncio.

Será infinito de palavras na alma,

o eu acompanhado do tempo,

de Deus momento: verdade no sentimento.

Amo-te, em mim, seres meu, e em ti,

com o devido tempo: dois sem véu.
(de Conceição Sousa)

Queres?

Queres mesa? Não há pão

nem dinheiro que aguente a despesa.

Queres banho? Não há água

nem trabalho que fortaleça o rebanho.

Queres roupa? Não há tecido

nem emprego que o faça ao despido.

Queres posto? Não há firma

nem patrão que te tire o desgosto.

Queres saúde? Não há corpo

nem compressa que obedeça de graça.

Queres luta? Não há espírito

nem arremesso que ta barre: confesso.

Queres paz? Não há sossego

nem vivência que te brinde nessa cedência.

Queres sucesso? Não há obra

nem caminho que to permita de sobra.

Queres amor? Não há alma

nem vontade que o traga perante tanta dor.

Queres vida?

Quando tudo o que vês e sentes é existência perdida?

Faz-te: na adversidade.

Faz-te ser que se exige dono do seu tempo.

Faz-te alma no agora de si:

destemida verdade no recorte do momento.


(de Conceição Sousa)

Ao alcance

Tenho sempre aquela sensação
de que estou a viver uma vida
que não é minha;
e, por muito que faça,
não consigo agarrar a minha vida de verdade.
Vejo-me, ali, ao meu alcance -
não compreendo porque é que ela
(tão bonita, tão meiga, tão inteligente,
tão ponderada, tão insana, e tão amada - dizem)
não consegue ser feliz:
não consegue sentir-se em sintonia com a sua vida.

(Conceição Sousa)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ser tudo / Be all

Não podemos, de facto, ser tudo.
 E das opções que somos
 (dos caminhos que nos olham ),
as que libertamos
 esvaziam o nosso peito do bem-estar
 e vertem a dor no seu lugar ;
 as que tomamos,
na certeza de que nos levam a algum lugar,
 quando sentidas como pele da nossa pele,
afagam a dor vertida,
bebem-na aos pouquinhos,
e transformam-na em amor pela vida
na nossa plena vida.
(Conceição Sousa)

We cannot, in fact, be all.
And from the options we are
(the paths which look at us),
the ones we set free
empty our breast of all the well- being
and pour the pain in return;
the ones we take,
surely guide us to some place,
when we feel them skin of our skin,
and cherish the spilled pain,
drink it bit by bit
and endure love for life
in our full life hit.

(Conceição Sousa)

Minha Vida / My Life

Sou paciente, sou perseverante, sou vontade plena de ser e de estar.
E porque sei o quanto me és vida ( na minha vida ),
e porque sei o quanto te sou vida ( na tua vida),
exijo-te presença na minha voz, no meu olhar, no meu coração;
exijo-me presença nos teus segundos e re-criados mundos;
exijo-nos vivência plena, em corpo de toque, em alma de sangue,
em vida no agora e a todo o instante;
exijo-nos do aqui, no aqui e sempre aqui:
amantes.
Minha Vida.
(Conceição Sousa)

I am patient, I am resilient, I am a full being will.
And as I know how much life you are to me ( in my life),
and as I know how much life I am to you ( in your life),
I demand your presence in my voice, in my eyes, in my heart;
I demand my presence in your seconds and re-created world methods;
I demand our plain existence in body of touch, soul of blood,
life in the now and all the time and way around;
I demand us from here, from there, in here and there and
always here and there : lovers - it's fair.
My Life.

(by Conceição Sousa)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sinto-me cair. / I feel I'm falling.

Sinto-me cair, absolutamente desamparada de mim, a cair.
Sinto-me ir - tristeza tão funda; esta, a sorrir.
Sinto-me impalpável - nado ser destinado a sem toque: existência condenável.
Sinto-me apagar - borracha em cima de mim, erosão a raspar.
Sinto-me sem ar - pulmão travado no entrave do estar.
Sinto-me descrente - corpo a atraiçoar a mente: renúncia pungente.
Sinto-me queda de água - cascata de lágrimas: chuveiro de mágoa.
Sinto-me inaudível - zumbido de mim; destino inflexível.
Sinto-me inerte - sem forças na alma: pedaço ausente de carne.
Sinto-me estilhaço - vidro quebrado na escuridão do adro.
Sinto-me vazia - ermo de nada; já nem no oco confia.
Sinto-me inodora - aroma sem cheiro lavado no sal que chora ( insossa de Agora).
Sinto-me insípida - insulsa no peito desenxabido pela demora.
Sinto-me morte - abalo de vida : ferida aberta no corte - desnorte.
Sinto-me inacção - matéria desprovida de injecção: da emoção anestesia.
Sinto-me cair...
Sinto-me ir...
Sinto-me. já não.

(Conceição Sousa)

I feel falling down, absolutely forsaken, falling down.
I feel fading away - so deep this sadness : always smiling this way.
I feel intangible - being born destined  not to be touched : doomed existence.
I feel fainting - rubber on me, erosion erasing.
I feel breathless - stuck lung in the hindrance of staying.
I feel disbelief - body betraying the mind: pungent resignation.
I feel as waterfall- tears cascade : heartache permanent shower.
I feel drowning out- hum of me : stern destiny.
I feel inert - losing strength in the soul - absent piece of flesh.
I feel shattering - broken glass in the churchyard darkness.
I feel empty - uninhabited by all ; desert trusting the hollow.
I feel scentless - odorless flavour washed by the crying salt ( vapid of Now).
I feel tasteless - insipid in the breast, unsavory being delayed.
I feel death - life shock : hurt wound in the cut lost.
I feel apathy - shot deprived matter : unemotional anesthesia.
I feel falling...
I feel fading away...
I feel...not yet.

(by Conceição Sousa)

sábado, 3 de setembro de 2011

Amar uma mulher é: / to love a woman is :

Amar uma mulher:
é beijá-la da cabeça aos pés;
é dizer-lhe, diariamente - por todas as maneiras e mais algumas - AMO-TE;
é não sair de ao pé dela sem deixar um beijo de GOSTO-TE;
é afagar-lhe, lenta e suavemente, a face num enlace de rostos;
é pegar-lhe na mão, num entrelaçado de dedos, e puxá-la p'ra perto;
é olhá-la nos olhos, bem fundo, gritando silêncios;
é abraçá-la nas costas amparando-a nas quedas;
é suster a respiração na boca que se morde;
é palpitar-lhe no peito o ritmo do quero-te;
é sugar-lhe a alma (sem jeito) no amor que se entrega;
é jurá-la prioritária nas prioridades: total necessidade;
é marcá-la na mente - dia de todos os dias - obsessão cega;
é fazer tudo - mas tudo (impossivelmente tudo)- para não perdê-la;
é amá-la, incondicionalmente, em todo o seu corpo : no toque que não se nega;
é massacre de luz na alma que na cruz se prega.
(Conceição Sousa)

To love a woman is:

kissing her from head to toes;
telling her daily - and by all means - I LOVE YOU;
not leaving the lady without a kiss of "I like you";
coddling her face, gently and smoothly, on a visage embrace;
holding her hand, entrailing the fingers, and pull her close;
glowering deeply in the eyes, screaming silences;
enfolding her back supporting the falls;
sustaining the breath in the mouth that one calls;
pulsating in the breast (at any rate) the beat of wishing you;
sucking the soul the love that one holds;
swearing the woman priority of all priorities: total need;
posting her in the mind - daily wall of all days -obsession (blind);
doing it all - absolutely all (impossibly all) - not to lose her;
loving her unconditionally all over her body: the touch one doesn't deny;
massacre in the soul cross one nails in the holy light.

(by Conceição Sousa )

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Violência doméstica / Abuse

Foi bruto? Não toleres.
Foi mau? Não perdoes.
Foi violento? Não justifiques.
Foi cruel? Não desculpes.
Diz-te que vai mudar? Não te iludas.
Acreditas modificá-lo? Tem juízo.
Assume o erro,
recusa essa morte,
e dá (a ti mesma) a oportunidade de mudar:
de sobrevida.
Vá: antes que seja tarde.
Defende o teu direito a viver -
a realmente SER.
Recusa-o.
Afasta-o.
Elimina-o do teu estar.
Pede ajuda -
não sofras o que não tens de sofrer.
Se tiver que doer que seja por um Amor a valer.
Arrisca recomeçar:
acaba, de vez, com esse acabar.
Luta pela tua vida;
é disso que se trata: a tua vida.
Não te projectes morte - nessa vivência doentia.
Não digas que tens pouca sorte:
faz a tua sorte.
Agarra o teu norte.
Respeita-te.
Protege a tua linhagem ,
o sangue do teu sangue.
És tu - e só tu - o mais forte.

(Conceição Sousa)

Was he rough? Don't tolerate.
Was he mean? Don't forgive.
Was he violent? Don't justify.
Was he cruel? Don't apologise.
Is he going to change? Don't be deluded.
You are making that happen? Nonsense.
Accept your mistake,
deny that death,
give yourself the opportunity to move on: survive.
Come on: before it's too late.
Defend your right to a true life- to , in fact, BEING.
Refuse him.
Keep that person away.
Eliminate the negativity from your way.
Ask for help :
don't undergo what you don't have to undergo.
If it must hurt make love be worth.
Take a chance: start it over.
Be through, for good, with that end.
Fight for your life;
that's all about it: your life.
Don't project your death - in that unhealthy existence.
Don't say you are bad luck: make your luck work.
Be the compass in your life.
Respect your body and soul.
Protect your lineage: the blood from your blood.
It's you - and noone else - the stronghold in your life's flood.

(by Conceição Sousa )

Doa o que doer / It doesn't matter if it hurts

Se é p'ra nada fazer com isto que sinto: porquê sentir ?
Se é p'ra nada fazer com isto que sinto: p'ra quê sentir?
Se é p'ra nada fazer com isto que sou: p'ra quê viver?
Venha quem vier : tudo menos suster.
Digam o que disserem: tudo menos conter.
Façam o que fizerem: tudo menos não ser.
Ouçam o que ouvirem: tudo - sem temer.
Falem o que falarem: tudo menos morrer.
Doa o que doer: tudo - mesmo tudo - até perecer.
Sou eu que sinto,
sou eu que vivo,
sou eu que mando,
sou eu que quero,
sou eu que sou
(ou não sou) :
sou eu: só eu.
Se é p'ra nada fazer com isto cá dentro: porquê amar?
Se é p'ra nada fazer com isto bem fundo: p'ra quê amar?
Se é p'ra nada fazer com isto que dói: p'ra quê doer?
Se é p'ra doer que valha a pena sentir e viver.
E se é para doer que o amar seja a valer.

(Conceição Sousa)

If it is for doing nothing with this that I feel: why feeling?
If it is for doing nothing with this that I feel: what for feeling?
If it is for doing nothing with this that I AM: why living?
Whoever you are: all but sustain.
Whatever you say: all but constrain.
Whatever you do: all but not going through.
Whatever you hear: all but accepting fear.
Whatever you speak: all but being weak.
It doesn't matter if it hurts: all- and I really mean all- till it works.
It's me the one who feels.
It's me the one who lives.
It's me the one who orders.
It's me the one who wishes.
It's me the one who exists
(or not):
It's me: just me.
If it is for doing nothing with this inside: why loving?
If it is for doing nothing with this deep pain: what for loving?
If is is for doing nothing with this that keeps hurting: why being hurt?
If it is for being hurt make feeling and life be worth.
If it is for feeling this pain make love be sane.

(by Conceição Sousa)

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Vá: depressa. / Come on : hurry up.

Não interessa que doa,
não importa que definhe,
não é relevante que envelheça
ou sequer adoeça...
enquanto estás (enquanto és):
marca a tua posição.
Opta: para que não te entristeça;
e faz com que aconteça.
E - se bem que doa,
definhe,
envelheça
ou adoeça -
vive, ri, sê :
até que por fim (e só no fim)
faleça.
Vá: depressa.
(Conceição Sousa)

It doesn't matter if it hurts,
it isn't important if you decay,
it isn't relevant if you grow old or sick...
as long as you are here ( YOU ARE) :
take a stand.
Opt: so that it won't make you sad;
and make it happen.
And- even if it hurts,
decays, grows old or sick -
LIVE, LAUGH, BE :
until finally ( and only in the end)
it stops thee.

(by Conceição Sousa)

Paz e sossego / Peace and quiet

Paz e sossego no encontro de mim mesma.
Paz e sossego no caminho do meu sangue.
Paz e sossego no cultivar da minha aldeia.
Paz e sossego no tempo mais adiante.
Paz e sossego na alma dos que me ouvem -
e até dos que nem ouço.
Paz e sossego na voz de quem me fala -
e até na dos que se calam.
Paz e sossego na carne de quem sofre ( na resignação desse andor):
a todos os que respiram amor -
e até a quem dele desconhece o sabor.
Paz e sossego nas curvas sinuosas das estradas lacrimosas.
Paz e sossego nos cárceres contrafeitos : coragem nesses peitos -
resistência na vanguarda.
Paz e sossego na busca que nunca se alcança -
na meta da descrença:
na história que se lança.
Paz e sossego na luta do vai e vem: no rio que não volta -
no mar que te sustem.
Paz e sossego nas mágoas em redor: só dor - muita dor:
banhada em suor.
Paz e sossego nas forças que se perdem -
nas fraquezas que se amparam :
nos sonhos que voaram.
Paz e sossego nisto que é a vida: aparente beco sem saída -
saúde no percurso da mãe ferida.
Paz e sossego na alegria do acordar -
longo espreguiçar :
da ausência de morte o celebrar.
Paz no amor : sossego no amar:
sem complicar: simples tocar.
É tudo: pleno estar.
(Conceição Sousa)

Peace and quiet when meeting myself.
Peace and quiet in the way of my blood.
Peace and quiet in the growing of my village.
Peace and quiet in time ahead.
Peace and quiet in the listeners' souls -
and even in those I don't listen to.
Peace and quiet in the speakers' voices -
and even in the shutters'.
Peace and quiet in the sufferers' flesh (in the resignation of that andor):
to all those who breathe love -
even to the ones who ignore its flavour.
Peace and quiet in the sinuous curves of lachrymroses roads.
Peace and quiet in the constrained gaols:
courage in those bosoms- resilience in the forefront.
Peace and quiet in the never attained quest -
in the disbelief goals: the released story.
Peace and quiet in the turn around fight:
in the not returning river - sustained ocean.
Peace and quiet in the surrounding sorrows-
only pain - lots of pain: soaked in sweat.
Peace and quiet in the losing strength -
supported weakness: flying dream.
Peace and quiet in this that's life: apparent blind alley-
health in the hurt mother's deadlock.
Peace and quiet in the awakening joy-
long arms stretching: death absence celebrating.
Peace in LOVE: quiet in LOVING:
without complicating: simple TOUCH.
That's all: plain BEING.

(by Conceição Sousa)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

É tudo menos não.

Trazes-me no colo (peça de ouro) desde que nasci -
na dor de me dizeres não; abdicas da vida,do sim de ti.
Choras - sei que sim - no encalço consumido de mim;
Ris nas madrugadas - no despertar da infância a voz
que embalas, tempo adentro, à desaguada foz.
Carrasco é o teu trabalho - esse de amares tua família;
na paixão com que o fazes baralhas qualquer quezília.
Aprendi a confiar no sangue que me deu o ser -
ao contornar a dor quando me impedes de viver.
Na verdade, com o passar das estações, percebo: esquivas-me de morrer.
É dura a tua luta ( ainda hoje), meu pai, bem o sei...
Mas sabes que de mim tens todo o amor: é de Deus a lei.
Oro: muitos mais anos a contemplar teu meigo olhar;
esse, gasto e sofrido no teu incansável incondicional amar.
A prece dos meus dias é que te sinta aqui neste mundo -
massacrado pelas rugas do tempo - vivo a cada segundo.
Egoísmo? Pode ser. Amor sei que sim. Receio de perder o Norte de mim.
Embora entreouça no lamentar do teu entregue estilhaçado coração
a eternidade do peso, do rigor, do afagar e proteger da tua mão.
É um amor dentro, este, o meu por ti, pai : é tudo menos não.

(Conceição Sousa)


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Amo-te, meu querido irmão.

Há alguém, algures, que me conhece
A mim: pessoa de nenhures e de ninguém.
Alguém, a quem muito agradeço,
pois sempre que (de mim ) padeço
deita-me a mão - trazendo-me de volta: união.
É um na beira da estrada - eu derrocada-,
conforta todas as minhas faces (doces enlaces);
delas ampara as quedas: montando-as chegada.
O puzzle de mim é sua vida, ternura-
diverte-se nessa loucura - e dura lida,
unindo, tentativa após tentativa, meu beco sem saída.
Nem sempre está presente (quase nunca),
mas sei-o eterno, ali - atento ao meu tormento:
momento de si.
Hoje, especialmente hoje, quero agradecer
toda a disponibilidade sentida no seu viver -
a esse alguém que sabe quem este ninguém é,
a esse alguém que ama, sem desdém: de pé.
Sou mais nenhures do que algures, bem sei;
Sou mais não do que sim: tem sido esta a lei.
Quero que saibas aquilo que de todo sabes;
és minha criação: sangue permanente na fenda do coração.
Amo-te, meu querido irmão.

(de Conceição Sousa)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

É hora de fazer amor...

É hora de fazer amor com alguém que amo muito, sem dor.
É hora da ternura entre os teus braços, doce loucura, amor.
É hora de dizer "amo-te" num beijo lento, bem regado, sem tento.
É hora do prazer a mim confiado, desflorado, e de p'ra sempre amar-te, danado.
É hora da emoção contida em teu coração - de fechar portas ao não.
É hora do afagar cálido de língua no corpo dorido à míngua.
É hora do tesão, meta arrastada no tempo da brava sedução.
É hora de calar o nunca que dormia na voz do sempre, vadia.
É hora do lacrimejar salgado na pele rasgada do vento estuprado.
É hora de me amares sem dó no ventre que te dou a ti, e só.
É hora de fazer amor contigo e de me suares no tempo perdido.
É hora, amor, é hora do consumido, querido.
É hora de deixares de te sentir ferido.

(Conceição Sousa )

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entre quatro paredes

Escrevo, como sempre, no canto (mais canto) do meu quarto - sim : meu (sortuda por ter um quarto). E é apenas um quarto - poderia ser meio ou até mesmo inteiro; não deixa de ser um quarto: melhor do que nenhum. Mas, voltando ao início ( já é um círculo), escrevo como sempre escrevi. É cíclico. É rotina. É dentro. É sou. Os mesmos objectos: o caderno preto, a caneta, eu ; o mesmo acto: um objecto segura o outro e fá-lo rodopiar (por vezes no ar também) pro e contra-relógio num terceiro objecto estático. Não é justo. Há uma relação ( ou melhor três) desigual : dois dos objectos são dinâmicos, mexem-se, movimentam-se. O terceiro apenas sofre as consequências; sem qualquer hipótese de lhes escapar. Está ali, parado, a ser massacrado, à mercê. O segundo goza apenas de uma meia autonomia: a que o primeiro lhe dá. Se o primeiro não lhe pega fica ali - inactivo; se lhe pega é um mundo: faz e desfaz a seu belo prazer. O primeiro -esse sim- domina. Se quer: há ; se não quer: não há. O eu (primeiro) pega na caneta (segundo) e escreve no caderno (terceiro). Há um intruso, um estranho nesta relação de décadas : um quarto objecto: o quarto ( e lá voltamos ao quarto- eu não digo que é cíclico?). O quarto objecto também é estático, mas projecta de tal forma dinâmica que se anula na sua inacção de mero objecto estático: o computador. O que outrora era acto solitário num quarto consequência de relações desiguais continua a ser acto solitário num quarto consequência de relações desiguais; contudo, com a intrusão do quarto objecto no quarto, passou a ser meio mundo a escrever sobre e para mais meio mundo (os quartos do outro lado): o círculo - que não deixa de ser quarto. Mas, continuo a afirmar: melhor ter um quarto do que não ter nenhum.

(de Conceição Sousa)

Oh, meu amor, vieste.../ Oh, my love, you came...

Oh, meu amor, vieste - sorriso rasgado no peito.
Feliz em ti me sinto, meigo colado estar: absinto.
Em mim pleno te sei, suo salgado amar- ai, defeito.
Oh, meu amor, vieste - lágrima sufocada : vida.
Atravessas-me na alma sem dó - demasiado sofrida.
Marcas da dor tua no aperto com que me afagas.
Oh, meu amor, vieste - no embalo do sonho de mim.
Beijas-me suave na pele e mordes arranhando candura.
Soltas a fera de ti, doce loucura : ainda nos sabe fel.
Oh, meu amor, vieste e contigo teu amor trouxeste -
nosso de todas as horas e de todos os segundos;
após tantas adiadas demoras e tão parcos mundos.
Oh, meu amor, vieste : finalmente chegaste,
e agora que em meu ser entraste, retém-te : não vás.
Detém-te em mim: teu amar; meu amor,oh, por fim.

(Conceição Sousa)

Oh, my love, you came - torn smile in the breast.
Happy in you I feel, gentle glued being: absinth.
In me I know you fullfilled, salted sweated loving - oh, defect.
Oh, my love, you came - choked tear : life.
You get pitiless through my soul - too much hurt.
Scars of your pain in the pressure of your stroke.
Oh, my love, you came - in the rocking of the dream of me.
You kiss me gently in the skin and bite scratching candidness.
You release the beast in you, sweet madness: it still tastes bitterness.
Oh, my love, you came and with you your love you brought-
ours of all the hours, of all the seconds;
after so many postponed delays and so scarce worlds.
Oh, my love, you came: finally you've arrived,
and now that you're in my being, inside : hold on: don't go.
Stay in me, love; my love, oh, at last.

(by Conceição Sousa )

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

É debaixo do chuveiro que tudo se resolve


É debaixo do chuveiro que tudo - mesmo tudo - se resolve.

 Anda daí. Preparado? Tal como Deus te trouxe ao mundo?

Sentes? Diz lá. Consolado.

O formigueiro das gotículas a contagiar toda a tua pele.

O eriçar da subtil pelugem – faz vénia  à passagem do carreiro :

 vento gélido - sabe exactamente para onde vai : e vai.

O dilatar dos poros ao suave toque da madrugada;

abraçam (porque querem), esgaçando, as lágrimas –

orvalho a suster na alma carícias de todas as horas: mágoas.

É um arrepio no calafrio dos entretantos , dos porquês -  dos crês ?

Cerrar de olhos ( tranquila escuridão) no serrar da cruz que fere -

corrente de ar, ímpeto ; beija a de água : verte o amar.

E as liquefeitas estradas  do amor erguem-se;

 Carregam, em  hidro –dourado serenar, os aquedutos,

os fios humedecidos de vida : varrem o conspurcado, a morte.

E ainda tal como Deus ao mundo nos trouxe,

 comungamos o nós -  no afagar do corpo inerte : limpos.

Limpos de dor. Sofridos de amor.

Nas entrelinhas das inúmeras nascentes termais,

oriundas dos mais diversos pontos cardeais,

observamos a junção do respirar no fundo da voz.

Bramido ecoando o final da imersão -

extenso trajecto  no reclinar da emoção.

A foz que sentimos na entrada  a contra-luz.

Dos aromas e das velas o banho a incenso.

O odor seduz: e ao amor próprio conduz.

O tudo (ch)orado, esvaziado,  no chuveiro convento.

(Conceição Sousa)


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

É só o que me basta.

És tu que me tens mesmo não tendo -sabes que sim.
Sou eu em teu olhar : o dentro - não se mostra, não se vê. É.
E tenho-te, preso na minha cruz : diamante - reluz.
Lágrima dos meus dias, das minhas noites; teimas em cair.
Varres, martirizada face, as alegrias; queimas ao seduzir.
E quero-te na ternura de todos os meus eus : beijo-te na língua -nas línguas
dormem os lençóis da bravura. Massacre. Puro massacre contido nos Céus.
Jazem, nos silêncios que se calam, as preces do vem e do toma-me.
A vida paralela (a desejada e sentida), no reflexo do espelho: simples aguarela.
A vida na membrana saboreada - não a do sexo ; verdadeira película : amada.
Serei? Confesso. Sou. Sei: num espaço só nosso, cúmplice. E é só o que me basta.

(Conceição Sousa)

domingo, 7 de agosto de 2011

Vir tudo

Não seria hora já de a mim vir tudo?
Virtude : falsa nas horas em que me mudo.
Mudo - nesta terra de ninguém e do sobre mais;
Mudo - totalmente sem pio entre os demais.
E quem diz que não mereço esta sorte?
Eu. Eu digo : afronto-te . Tu que me contrarias.
Eu grito tudo de direito : todas as de(vidas) alegrias.
Venham a mim. Somem-se sem jeito (vergonha).
Não seria já hora de a mim vir tudo?
Virtude em que me têm todos os que sabem.
E só sabe quem procura e nada encontra.
E só sabe quem busca, acha e perde.
E só sabe quem pára, fica e morre.
E só sabe quem vai, luta e corre.
Não seria hora já de a mim vir tudo?
Virtude que em mim mora sem que eu saiba.
Vir tudo que sempre esteve sem que viesse.
Tudo o que fui - sem que de mim adormecesse.
Tudo o que sou -nas vagas horas de mim mesmo.
Só sabe assim "vir tudo" o que acredita ainda vir.
Só sabe assim virtude o que está sempre pronto a : parir.

(de Conceição Sousa)

De verdade, amei-te.

No ar que te sustenho, encontro-te - átomos de dor - na calçada do céu.
Inspiro veladas partículas, ridículas poeiras de luz : do amor o véu.
Entre suspiros, em trote, o cavalo marca sua ferradura na cruz;
pára, exausto, relincha no claustro, preso ao torpor do corpo: conduz.
É o sopro : é agora. É o vento: demora. É tudo o que já foi outrora.
A vida - danada. A ora ouriçada ora apagada vida - a que também cospe.
E a morte sabe, a morte está : sempre a sorte do que será - o lado mais forte.
No ar que te respiro digo (mil vezes digo): sei-te, sinto-te, amei-te.
De verdade, amei-te.

(Conceição Sousa)

sábado, 6 de agosto de 2011

E o renascimento dá-se.

E quando ela cai, molha; e quando molha, sente-se; e ao sentir, percebe-se; e ao perceber, entranha-se; e ao entranhar-se, rejuvenesce-se; e ao rejuvenescer-se, renasce-se; e ao renascer-se, é-se feliz. E quando ela cai - a chuva -, humedece-nos na dureza da tábua rasa : desperta o odor da madeira em comunhão. Sente-se na pele do exilado a frescura na saudade do que já foi e torna a ser, o ciclo das estações- esse que insiste em permanecer e nos fazer crer. Aí : percebe-se o mundo a celebrar nossa existência, a beijar-nos na clemência de quem sabe o porquê de ainda cá estarmos, a abraçar-nos (lenta e docemente) na partilha de o comungarmos. Nesse mágico momento, entranha-se na alma o cheiro a pó no ar, da vida o pleno saborear, do " sim : sinto, estou, sou" o respirar. E celebra-se , encantamento, nessa paragem do tempo ( que ao andar nos faz recuar), gotas de orvalho o início a suster : caem na terra ; rejuvenescem - toque de fôlego vivo - o árido ser esquecido. E o renascimento dá-se : em lágrimas humedecidas - em sal faz-se. A mãe natureza diz-nos que é hora de o seu ventre sentir. E à humana curta memória relembra o ciclo do existir : com uma singela gota de chuva - tão singela - faz-nos sorrir.

(Conceição Sousa)

Maldito vazio em redor.

Por vezes, por muito que se faça, nada corre de feição. Na certeza de que é esta a hora marcamos a dita posição. E voltamos a marcar, incansavelmente, até que nos digam não. E mesmo o "não" sabendo, repetimos o acto : querendo - mesmo muito crendo. Novamente, bem na cara - resignada-, o nada. Danada vida esta : vida feita de sonhos e de nadas. Nadas que vão nas ruas lentamente (ou apressadamente) abraçados a nadas. Nadas beijando nadas : sobem escadas - jazem caladas - na certeza de que levam a nadas. Maldito vazio em redor - mágoas sentidas no momento do calor. Imensas, inúmeras, mágoas sempre ao dispor. Só dor. Que horror! É um holocausto de nadas. Onde fica nisto tudo - nesta enchente de nadas ( neste vazio de contos de fadas)- o amor? Procura-se e, sem se procurar, encontra-se. Encontra-se e, sem se (de facto) encontrar, perde-se. Perde-se e, sem nada perder, busca-se. Busca-se e, ao tudo buscar, mata-se. Mata-se e, ao se matar, nasce -se. Renasce-se num novo lugar, olhando em redor, sem nada reconhecer nem nada encontrar a não ser o próprio amor. Esse que, na verdade, nunca saiu do lugar. Apenas estava no fundo do poço - vazio de água e de luz- a nadar. Aguardava a hora da dita posição marcar - essa que, por muito que se faça, nos continuam a negar. Danada de vida esta: sem par. Chora o que tiveres de chorar, mas mesmo sentindo-te nada -sendo nada-, não deixes nunca de te amar. E, já agora, boa caminhada.

(Conceição Sousa)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Curto/Longo ensaio sobre o tempo

Tempo? O que é esta coisa do tempo? Ponteiros - que já não são ponteiros (mas meros sinais gráficos que ciclicamente alternam entre si :ciclicamente) - em movimento ascendente e descendente , e outra vez, o ascender e o descender : na roda, no círculo, na curva fechada. Tempo? Aonde que não o vejo - não o sinto. No deslizar do veículo a motor - nesse que acelera e trava. O que é isto? Acelerei e já lá estou. Abrandei e nunca mais chego. Travei e paro. E se acelerar estou lá. Se abrandar ainda vou. Se travar fiquei. O que é isto? Tempo? Será meu? Ou do veículo? É do motor. Não. É do petróleo. É do homem que extrai o petróleo. Não. É do dinheiro que paga ao homem e que compra o petróleo. Não. É meu se não quiser comprar nem o homem, nem o dinheiro, nem o petróleo. É meu se não quiser entrar no veículo. É meu se não quiser olhar para o relógio - nem sequer tenho relógio ; mas tenho o tempo. Tenho? Não serei eu o tempo? Ou será o tempo eu? Mas que coisa é esta do tempo? Se falta a saúde - venha o veículo mais rápido que vier, ou o petróleo mais potente que houver, ou o dinheiro mais caro que existir -, se falta a saúde : falta o tempo. E mesmo com saúde ou na falta dela, com mais tempo ou menos tempo, se o tempo quiser acaba-se o tempo: morre ali. Mas morre para quem? Para ti? Para mim? Para o tempo? Morre para todos (e para tudo) os que entenderem que já não vale a pena perder ou ganhar tempo. Mesmo que haja tempo há quem decida que se acabou o tempo. E de quem é ( ou do que é) o tempo afinal? Dos que não querem perder tempo? Dos que querem ganhar tempo? Ou dos que se estão simplesmente marimbando para o tempo? Corre : se queres chegar a tempo. Pára: se isso é pura perda de tempo. Abranda: se ainda não te decidiste a tempo. Que coisa complicada esta: a do tempo. Se conseguiste chegar a tempo de ler o ínicio deste texto e levaste o teu tempo para chegar a tempo do fim : parabéns! Estás dentro do teu e do meu tempo :este /esse que já foi tempo. O que é agora, não sei.

(de Conceição Sousa)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Quero dizer-te.../ I wish to tell you...

Quero dizer-te:  a simples visão de ti  

e do jeito com que tua ausência me olha

molha minhas carícias em lágrimas -

correm contidas na alma que nem mágoas,

pendem gotas de orvalho na machucada folha.



Quero dizer-te:  todas as manhãs me levanto

contigo em meu pensamento; segredas-me ternura,

manhas de sobrevivência próprias de quem ama tanto.

Desfaço minhas dores; sonho-nos em doce aventura -

deslizar de lava fixamo-nos cristais em nosso pranto.



Quero dizer-te:  à luz polar do meu existir

dei teu nome soprado ao vento: um que não se diz.

E que me guia nos atalhos da folhagem densa;

um que trago incansavelmente -  bússola -  a meu lado

repito-o a mim mesma (inúmeras vezes) sussurrado.



Quero dizer-te:  em tempos aguardei esta hora

 cúmplice de nós dois - aqui - , neste lugar, neste segundo;

suavemente te beijo na aura minha alma cora.

Revelo meu desejo desperto dou-te o mundo

ainda hoje a guardo (n)esse momento, sem demora.




Quero dizer-te:  o ânimo que segura meus dias;

essa tua voz imponente, minha essência escuta

esse timbre calado, em meu espírito mora.

Embalas-me no berço da ilusão de que me querias

fosses tu eco, na montanha longínqua a vibrar,

não estaria neste vale profundo, a chorar.



Quero dizer-te como quem diz a quem está.

Quero dizer-te como quem ama a quem é.

Quero dizer-te como quem respira e só.

Quero dizer-te como quem crê e tem fé.

Quero dizer-te tudo mas nada te digo.

(Conceição Sousa)


I wish to tell you…the simple vision of you

and the way your absence looks at me

waters my caress in tears –

which flow chained in the soul as if soreness,

dangle dew drops in the hurt leaf.



I wish to tell you...each morning I get up

beholding you in my thought; whispering tenderness in my ears,

survival  quirks of those who love so much.

I undo my pains; dream us in sweet adventure-

lava slithering we settle crystal in our weeping.



I wish to tell you..to the polar light of my existence

I have given your name whispered to the wind; one that one cannot tell.

And that guides me in the footpaths of the dense foliage;

one that I convey restlessly - compass- beside me

I repeat it to myself (endlessly) secretly.



I wish to tell you...once I’ve abided for this hour

accomplice of us two - here-, in this place, in this second;

smoothly I kiss you in the aura and my soul blushes.

I reveal my awoken desire, I give you the world

and still today I wait for that moment, without delay.



I wish to tell you... the breath that holds up my days –

that imposing voice, listening to my essence

that silent tone, living in my spirit.

You wrap me in the illusion cradle that you also wished me –

were you echo in the far away mountain vibrating,

I wouldn’t be in this deep valley crying.



I wish to tell you as if one tells to someone who is here.

I wish to tell you as if one loves someone who is.

I wish to tell you as if one breathes and that’s it.

I wish to tell you as if one has faith and believes.

I wish to tell you all but nothing I speak.
(by Conceição Sousa)


sexta-feira, 15 de julho de 2011

É a vida, amor.

É a vida que nos olha, percebe e suplica.
É a vida que nos molha, concebe e agita.
E o nós que não se quer: ser molhado - sequer olhado.
E o nós em tormento do outro lado -
a vela acesa e do sopro momento: aguardo.
A chama em calor abrasa a gota
que desce, lentamente, o estar.
E na ravina do ocaso segura
a lágrima. Encontra o branco absorta.
Despe-se do tórrido, abraça a ternura,
caminha na luz soltando a loucura.
Leve, desliza no vale sem cor -
pedra de cera cristaliza-se amor.
É a vida em todo o seu esplendor.
É a vida, amor. É a vida sem dor.
O nós que sei - a sós. É o após
tranquilo - o serenar da voz.
É a vida, amor. É do estar: pleno sabor.
(Conceição Sousa)

domingo, 10 de julho de 2011

E quando sinto a injustiça

E quando sinto a injustiça

Cá dentro

Solto o monstro em mim.

Blasfemo, grito, esperneio

A revolta, o horror, a dor - em fim.

Não gosto de sentir assim.

Massacro, disparo, torturo

Alteio ainda mais o muro

Que afasta o outro de mim.

Cada palavrão - uma pedra -

No dique da solidão.

Cada verbo - sentido e não -

Cada letra disparada ao vento

Morre ali naquele momento

Crava o outro no coração.

A todo o instante peço perdão

Sei-o de imediato em vão.

É uma neura que não controlo

Esta da insatisfação

A expectativa desfeita na desilusão.

Grito , blasfemo, esperneio as dores

- No peito desfazem-se as cores -

Apertam , estilhaçam a alma

Rogam-me tranquila e calma

Olho para o outro em silêncio…

Aguardo do dique a derrocada

Anseio das águas a chegada

Envoltas numa enxurrada de luz.

Aguardo o amor que seduz.

Mas tudo o que vejo:

É queda a pique.

É olhar longínquo ,apagado ,

E penso: é este o fado.

Pois seja. Será então.

E apática, entrego meu coração.

Apanho os cacos um a um

Coloco-os, mimando-os, na prateleira

Deixo-os ali quentinhos à lareira

Visito-os de quando em vez

Foi assim que Deus me
fez.

Descubro pasma outros cacos

Que não os meus – lá.

Naquela tão visitada estante.

P’ra lá do vidro observo

A romaria que ali vai

Os mimos do outro que entram

A dureza do espelho que cai.

E nesse segundo me apercebo

Do sorriso de outros cacos na mão

Que com meus cacos se unem

Nos vasos do coração.


(Conceição Sousa)

terça-feira, 21 de junho de 2011

ai.como dói. esta dor.

ai.como dói. esta dor.
de saber que não me queres. e (a)penas digeres - dizes e geres.
ai.como dói. esta dor.
de te querer e não te ter
de saber não me ser: nunca me ser- ser não.
ai.como dói. esta dor.
daqui de dentro,
este tormento que sou. este verbo: findou.
este engano da mente (demente),
pois, na verdade, nem sequer começou.
ai.como dói. esta dor.
de ser assim: contínuo holocausto,
irremediável holocausto de mim.
intelecto (en)rolamento,
viciante desnorte
alma gémea da morte, sem sorte - fim.
e só morte. apenas morte. em vida, morte.
ai. como dói. esta dor.
de sonhar sem parar,
e de não saber parar.
querer muito respirar - sem ar. e não abafar.
ai.como dói. esta dor.
de entender não merecer -
o que me dão -tudo.
saber-me nada,
vazio no vazio da estrada,
choro na alma constante,
do inverno fatídica amante.
ai.como dói. esta dor.
ser o inferno daqui,
martírio do cosmos,
muito mais negra que branca,
da escuridão o escurecer,
e o coração na garganta suster.
ai.como dói.esta dor.
este embargo na voz,
pedinte de vós,
átona de nós,
intuir no sangue do meu sangue
a solidão -essa
que , no momento, de partir : sei.
será, como sempre, a única mão.
ai.como dói. esta dor.
(Conceição Sousa)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sem, no entanto, olhar de facto / Without , in fact, looking at you

É p'ra ti que, demoradamente, olho
sem, no entanto, olhar de facto...
Vezes sem fim aguardo - não olhando -
que teus olhos pousem em mim, de imediato.
E nas costas, tua seduzida vigia pesa-me
no peito arfando sinto-a ignorar-me, pedra.
Sei que, iludida, sonho quem não és
só aquele que penso amar-me, de rígida tez.
E quando, perdido, me olhas nos olhos
sem, no entanto, olhar de facto,
minha suplicante mente: mente feliz.
Segreda-me (em amplo aparato)
na ânsia de que também me vês -
aquela com quem tu acordado sonhas
mas que imaginas ela (não) ser,
aquela que pensas amar-te
mas sabes (não) te querer -
e que acreditas fazer(-te) sofrer.
Será amor o acabado retrato?
Palpável apenas no átrio da intuição.
Um que dúvidas no tempo lamenta
contrai a dor - intuída percepção -
ocupa no coração amplo espaço
sorri no doce pressupor - água benta -
ampara a hóstia da comunhão.
Desdenha o rubor, estende a mão.
É um amor que - quando toca -
não se mascara, suplica rosto
e olhos com olhos latejando;
encosto de lábios, pensamento fechado -
nas pálpebras sentido o fluir do momento;
e a batida do coração, acelerado atrevimento -
tantas as palavras que guardo cá dentro.
É p'ra ti que, demoradamente, olho
sem, no entanto, olhar de facto...
Beijo-te.
(de Conceição Sousa )

It's you who I slowly behold
without, in fact, looking at...
Endless times I expect - without looking -
that your eyes in me rest.
And in my back your seduced lookout weighs
in the burning chest I feel it ignoring, stone.
I know that, deceived, I dream of someone you are not
just the one I think loving me, strict complexion.
And when, completely lost, you look at me in the eyes,
without in fact looking at me,
my begging mind lies : lies happily.
It whispers to me ( shouting out loud )
in the anxiety that you also see me -
the one who you awaken dream of
but imagine she (not) be
the one you think loving you
but know (not) want -
and that you believe hurting (you).
Can the former picture be love?
Felt only in the perception pathos.
One that doubts in time mourns
contracting pain - perceived perception -
taking in the heart (art) major space
smiling at the sweet assumption - blessed water-
holding the communion host.
It disdains the bloom, gives the hand.
A love that - when touching -
doesn´t dissemble,  pleads faces
and eyes in the eyes burning;
lips touch, close thought -
the eyelids feeling the moment flow;
the heart beat, accelerated nerve;
so many the words that I keep within.
It's you who I slowly behold
without, in fact, looking at.
I kiss you.

(by Conceição Sousa )

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Perspectivas reais ou irreais

Estás a ver-me?
Não serei apenas mais uma cor na tua mente?
Pergunta aos teus olhos. Eles dir-te-ão algo...
E os teus olhos? Será que não te mentem?
Será um padrão o que vêem?
Serei um textura para os teus olhos?
Ou apenas uma visão, uma miragem,
um desfocado holograma?
O que sou eu para os teus olhos?
Será que penso que me vêem, mas minha mente engana-me?
Não me vêem, não existo, nem sou vista!
E o que não vêem os teus olhos?
O mesmo que eu vejo no reflexo?
Nem mais alta, nem mais baixa,
nem mais gorda, nem mais magra,
nem mais límpida, nem mais turva,
nem mais clara, nem mais escura,
nem mais nova, nem mais velha,
nem mais oca, nem mais espessa,
nem mais bonita, nem mais feia,
nem mais...

E os teus ouvidos? Pergunta-lhes vá...
É a mim que eles escutam?
Esta mesma voz que ouço nos meus, cá dentro...
Ou será aquela outra, irreconhecível no ecrã, a de fora?
Não será - essa voz que escutam - um outro tom que não o meu?
Esse timbre - que te ressoa nos ouvidos - é um leve vibrar
ou um retumbante tambor?
O que sou eu para os teus ouvidos?
Será que penso que me escutam mas - na verdade -
não sou ouvida, nem escutada? Silêncio.
E essa voz daí? É a mesma que ouço aqui?
Nem mais grossa, nem mais fina,
nem mais dura, nem mais mole,
nem mais ríspida, nem mais suave,
nem mais meiga, nem mais bruta,
nem mais amarga, nem mais doce,
nem mais presa, nem mais solta,
nem mais vibrante, nem mais segura,
nem mais afónica, nem mais soante,
nem mais rouca, nem mais sussurrante,
nem mais minha, nem mais tua...

E as tuas mãos, a tua pele ? Será que me sentem?
Pergunta-lhes, vá.
E será que não te mentem...
Será esse toque igual ao meu?
Será que queima? Será que gela? Anestesia.
Estende-se ao tocar? É fogo a arrepiar?
Viaja pelo corpo em ondas a vibrar?
Pede mais toque, arfa sequioso?
Ou nem sabe o que é sentir tocar?
Este toque - que é tão meu - toca-te?
Ou é o toque do retirar?
Sabes o meu tocar?
Sei o teu tocar?
Nossas mãos, ao entrelaçar, estarão realmente a falar?
Ou é apenas a minha mente a sonhar?

Mundo consegues palpar-me? Existo?
Ou mundo...tu és EU?
Eu a dormir.
Eu a chorar.
Eu a sorrir.
Eu a sonhar.
Eu a amar.

( de Conceição Sousa )

domingo, 5 de junho de 2011

Ir ao seu encontro / Meeting him

Embora converse com Ele, diariamente; hoje, apetece-me ir ao seu encontro - na casa que os homens e as mulheres estipularam como sua. De cada vez que LHE confidencio meu sentir- por palavras ou (até mesmo) silêncios -, meu aparente monólogo consubstancia-se em diálogo : nos pequenos (grandes) sinais que revela ao meu olhar, ao escutar, palpar, cheirar, saborear e intuir. Sinto-O presença constante e conforto. Quando vacilo, quando algo corre menos bem, penso: "- Tu lá sabes. Confio." Hoje vou ao seu encontro na sua casa. Hoje, especialmente hoje, preciso daquela paz, naquela igreja, e de O sentir mais proximo- mais dentro de dentro de mim. Sei que tambem Ele me quer sentir - mais dentro de dentro de Si. Sei que me queres lá, na Tua casa. Por isso, vou; embora saibas que a Tua casa tambem é aqui.

(Conceição Sousa )
Although I talk to Him everyday; today, I feel like meeting him- in the house that men and women decided as His. Each time I tell him in confidence my feelings - through words or ( even) silence-, my apparent monologue changes into a dialogue: in the small (huge) signs he reveals to my sight, when I pay attention by listening, touching, smelling, tasting and perceiving. I feel Him constant presence and comfort. When I vacillate, when something doesn't go so well, I think : "- Whatever you decide. I trust You." Today I'm meeting him in his house. Today, especially today, I need that peace, in that church, feeling him closer- more inside (inside of me). I know that He also wants to feel me- more inside ( inside of him). I know that you want me there, in Your house. So, I'll go; though you know that Your house is also here.

(Conceição Sousa)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Pigmaleão / Pygmalion

É um esculpir sofrido da musa sonhada,

É um carpir eremítico – na sua amada.


Dói: vê-lo
- Pigmaleão - chorando o vazio;


Celibatário na carne, na aparência vadio.

Alinha o estar na roda do intelecto

Percepciona o amor objecto abjecto.

Nesta realidade: fome, sede e seca.

Sacia-se no pensamento venerar confessa.

Molda em redor c(a)rente mundo intuído,

Crava na pedra seu sonho, vencido.

Fustiga a estátua no rugir das vagas marés

Oferecendo-se pó ao vento, de lés a lés.

Aura – aguarda o sacrifício da ansiada chuva.

À obra finda: afaga branca e acetinada luva.

Por terras inférteis devaneia Céus e infinito;

É o efeito que trago no peito – assim foi escrito.

Plebeia observo - doce e mágica humanização –

O amor no olhar brilhante de Pigmaleão.

(Conceição Sousa )


It's a suffering sculpting on the dreamt muse
It's a hermit carving - in his beloved one.
It hurts: watching him
-Pygmalion- crying the emptiness.
Celibate in the flesh, vagrant in the appearance
He adjusts the being by the intelect wheel (will)
and grasps the love as a hideous object.
This reality: hunger, thirst and drought
He slakes in the thought veneration confesses
He shapes around believing in a perceived world,
Carves in the stone his dream, lost and alone.
Fustigating the statue in the roaring of the tide waves
offering himself dust to the wind worldwide.
Aura - expecting the sacrifice of the avid rain
To the final work: pampers white and satin glove.
Through infertile lands he wanders skies and infinite
It's the effect that I bring inside - so it was written.
Plebeian I observe - sweet and magic humanization -
The love in the shining Pygmalion gaze.

(Conceição Sousa )

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Fica /Stay

O que te assusta afinal ? O susto? O final?
Estamos aqui e agora. P'ra mim basta.
Basta-me saber-nos aqui e agora: querer- querer muito. Quero-te.
Toco-te. Não. Não basta. Tenho de te ter: aqui e agora. De me ser. Sem demora.
No vazio de ti - cheio de mim. Farto. Repleta em ti - completo em mim. Perto.
Início, meio e fim. Momento.
É isto que sou. Não me vou. Fico. Fica - enquanto podes fica.Fica.
O tempo assim o dita. E - na verdade- só o tempo fica.
(Conceição Sousa)


What actually frightens you?
The f(r)ight? The end?
We are here. We are now. For me it's enough.
It's enough knowing us here and now: wishing - wishing so much. I want you.
I touch you. No. It's not enough. I must have you: here and now. I must be me. Without delay.
In the emptiness of you - full of me. Full. Filled to the top in you- and you complete in me. Close.
Beginning, middle of, end. Moment.
That's what I am. I won't go. I'll stay. Stay - while you can, stay. Stay.
Time tells us so. And - in fact - only time will stay.

(Conceição Sousa )

domingo, 29 de maio de 2011

Fundida / Merged (F.)

Desta vez, a seta atingiu bem fundo
- esta luz- no fuso: prestes a ser fundida.
Fusão ou Apagão ?
Metamorfose, evolução.
Dor no adro obtuso, iluminado
Funde-se ferro- liquefeita
No preto vermelho emerge o instante
Arrefece adiante e ao negro retorna.
Queima à vista gela ao toque.
Funde-se contraste pensa com(paixão)
Na arte- e tão só- mera compaixão.
Laivos de vazio no oco líquido entorna
Queima o sabor gela a forma.
Funde-se apagando a luz do olhar
Sente , desta vez, definitivo abafar
Escuridão que perpassa o vítreo ser
Quebra o suor sabe morrer- sabe morrer.
É o que sabe fazer melhor: morrer.
Impedida de seu destino escolher
Colhida foi num ápice segundo
Por esse amor do mundo que dói: dói.
Fundida. Só isso: fundida.
(Conceição Sousa)


This time, the arrow deeply hit -this light - in the spindle:
just about to be fused.
Fusion or Blackout?
Metamorphosis, evolution
Pain in the obtuse square, enlightened
it smelts iron- molten
In the blood black the instant emerges
Ahead chilling and to the plain black returning.
Burning the sight freezing the touch
Merging contrast pathos thought
In the art- only- pure pathos.
Emptiness beams in the hollow fluid spills
Burning taste freezing shape
It smelts fading the light of the look away
Feeling, this time, permanent choke
Darkness running through the vitreous being
Cracking the sweat he knows how to die - he knows how to die.
That's what he knows best : dying.
Hindered from choosing her fate
Caught she was in a second glance
By that mundane love that hurts: it hurts.
Merged. Just that: fused. (F.)

(by Conceição Sousa)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O barco / The boat

O barco triste veleja nas águas turvas
Sereno ao monte escarpado acena
Observa as ondas que o monte beijam
Quer lá ir e o vento não o arrasta.
As ondas carpem o dia, na rocha, agitam
O veleiro lânguido, quase morto, desliza
Para o lado - interminável dor do horizonte.
É monte, é duro, é bruto, é torto
É poste hirto na âncora do leme.
E o vento que não vem p’ra me levar adiante
Eu que me afogo nestas águas paradas
Veleiro naufragado em almas penadas
Abano que nem a folhagem verdejante…
É a brisa: quer-me em afago constante.
O céu faz-me olhar o teu c(a)rente azul
Esqueço o monte (a)fundo os corais
Mostra-me reflexo teu nas águas termais
Abre-me nova porta descoberta enfeitiça
Chama-me velejar tuas ondas gigantes
E até ao infinito cobre-nos: diamantes.

(Conceição Sousa)

The sad boat sails on muddy waters
Serene it waves to the steep hill
Observes the waves kissing the mountain
Wants to go there but the wind doesn't haul.
The waves carping the day, on the rock, hustle
The languid sailboat, almost dead, slithers
To the side - endless horizon pain.
It's slide, it's hard, it's raw, it's awry
It's a rigid pole in the helm anchor.
And the wind that won't come to take me ahead
Me drowning in these motionless waters.
Shipwrecked sailboat among suffering souls
Shaking am I as the verdant foliage...
The breeze: wants me in constant tenderness.
The sky makes me look to your believing wanting blue
I forget the deep hill and sink the c(h)orals.
Show me your reflection on the thermal waters
Opened new found gate it bewitches
Call me to sail your giant billows
And till the infinite: cover us diamonds.

(by Conceição Sousa )

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Toque /Touch

 O teu toque…ai o teu toque…

Morro: se não queimo ao teu toque.

Toque de Beethoven soando na noite

Cravada na pele essa sinfonia do estar

Encardida na alma gota etérea do amar.


O  teu toque…ai o teu toque…


Morro: se não trago cá dentro teu toque

Toque de gelo em tragos de olhar

Na carne tatua as letras ( as nossas )

Animais desprovidos do selvagem (es)correr

Acorrentados no fluir do momento – em nos saber

Toque, cúmplice toque de afagos: sorver.

Em nos saber prova, deliciosa prova, rasgada no tempo.

Tudo o que quero é desse toque chama(da)

E tocar-te, tocar-te Beethoven no infinito de sobra

Na dobra da (não) existência -a ferros -marcar

A sangue, a fogo, a luz, a suor nossa obra.

(Conceição Sousa)

Your touch...oh your touch...
I'll die: if I don't burn at your touch
Beethoven's touch sounding in the night
Carving the skin with the being symphony
Soiling the soul ether loving drop.

Your touch...oh your touch...
I'll die: if I don't bring your touch inside
Ice touch in the gaze gulps
Tattoos letters in the flesh (ours)
Deprives animals from the savage staunch
Chained in the moment flow - tasting us
Touch, accomplice caress touch : absorb.
Acknowledging us proof, delicious proof, torn in time.

All I want is from that touch a flaming call
And touch you, touch you Beethoven the infinite in abundance
In the (non) existence fold - on iron - brand
Through blood, fire, light, perspiration our work.

(by Conceição Sousa)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Impulso /Impulse

Tudo: impulso.
Impulso atrás de impulso.
Intuo pulsar do coração:
pulso bem firme nessa intuição.
Pulso bem firme.
É a corda da vida a vibrar.
Timbre soando eco da paixão:
voz imponente no acorde da emoção.
Intuo: palpitação.
Palpo:contida agitação.
Pressinto: da onda rebentação.

(de Conceição Sousa)


All: impulse.
Impulse after impulse.
I perceive the heart pulsing:
and I pulse firmly in that intuition.
Having a firm pulse.
It's the string of life vibrating.
The chord sounding the echo of passion:
magnificent voice in the tune of emotion.
I perceive: palpitation.
I palpate: chained agitation.
I forefeel: the wave breaking out.

(by Conceição Sousa)

sábado, 7 de maio de 2011

I look at my body and I see...

I look at my body and  I see...
The grooves in the belly as desire waves
A growing desire putting on weight
An anxious desire of meeting you
 and not waiting too much to see your face.
I look at my body and I see...
The bump in the abdomen zone gently shaped
The maternity mirror, magic there anchored
Proud I show it to the world, motherhood full.
I look at my body and I see...
The sinuous curve at the bottom of my spine
The blessed burden of gestation responsibility
In the enchantment I sustain our happiness.
I look at my body and I see...
The fragility in the bones, the child's tenderness
The tooth ache which visits me from time to time
Nutrition for my sweet babies in the belly.
I look at my body and I see...
The skin flabbiness it became
The man and the woman in love, no complaint
And from passion the seeds there germinating.
I look at my body and I see...
The lovely sculpture one has made
The enchanted charm in the eyes of the sculptors
Who look at the body and keep working on the soul.
I feel in these motherhood scars
The enormous well-being of someone
Who gives it all without asking return.
I receive all the time through these wounds
Fragments of happiness from the present and from the past.
I recall, missing and longing, the maternity pains
Feeling all the time inside my alive flesh
My beloved children their premature movements
As if they were small mice moving beneath the carpet.
When through my skin languid I pampered them
They communicated to the mother waving they knew me loving
And today they still wave sheltered in my eternal lap
They ask me lullaby songs from gone times
That I sing indefatigably into our ears.
They know I love them and that they're safe.
The nave string has been doomly cut
Though that action hasn't raised a wall between us.
The navels show us endlessly
The eternal act and the unconditional love of maternity.

(by Conceição Sousa)

domingo, 1 de maio de 2011

Olho para o meu corpo e vejo

Olho para o meu corpo e vejo
As estrias, na barriga, que nem ondas do desejo,
desejo que cresceu ao vê-la, incrédula, aumentar
desejo ansioso de te conhecer, sem muito esperar.
Olho para o meu corpo e vejo
a lomba, na zona do ventre, docemente formada,
o espelho da maternidade, magia ali ancorada,
orgulhosa mostro-a ao mundo, mãe babada.
Olho para o meu corpo e vejo
a curva sinuosa, ao fundo da coluna,
o peso abençoado, da gestação responsabilidade,
o encanto com que sustive nossa felicidade.
Olho para o meu corpo e vejo
na fragilidade dos ossos, o carinho dos filhos,
na dor de dentes, que me visita de quando em vez,
a nutrição, no ventre, de meus queridos bebés.
Olho para o meu corpo e vejo
na flacidez das peles, em que se tornou,
o homem e a mulher, que o Amor sonharam,
e da loucura, as sementes, que ali se geraram.
Olho para o meu corpo e vejo
A bela escultura que dele fizeram
O encanto embevecido com que o olham
Os olhos dos escultores,que nele trabalham,
E sinto, nestas marcas da maternidade,
Um enorme bem-estar, de quem muito de si dá,
Recebo a toda a hora, por via delas, e de quem as admira,
Fragmentos de felicidade, do presente e do passado,
E recordo, com saudade, as dores da maternidade
Sentindo, a todo o momento, por dentro da carne,
Os meus amados filhos, os precoces movimentos,
Que nem ratinhos, movimentando-se por baixo do tapete
Quando, na minha pele, lânguida os acariciava,
Comunicavam à mãe, ondulando, que sabiam quem os amava.
E ainda hoje ondulam, acocorados, no meu eterno colo,
Pedem-me canções de embalar de tempos idos
Que canto, incansavelmente, aos nossos ouvidos.
Sabem, que os amo, e que ,em mim, estão seguros
Pois o cordão, que nos cortaram, não levantou muros
Nos umbigos faz-se presente e mostra-nos a eternidade
Que é o acto e o amor incondicional da maternidade!

(de Conceição Sousa )

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Isso.../ That...

Isso, que tu sentes aí dentro...
isso, que não se vê,
 mas que te move,
de tão intenso,
e que te deixa tenso de dor...
isso, a que se chama Amor...
isso é a prova da tua existência...
isso é a prova da existência de Deus...
e é apenas uma prova,
de quem é testado e não sabe,
de quem saboreia somente um pouco...
tudo o resto...
 nem dá sequer para imaginar,
 só sei que deve ser imenso.

(de Conceição Sousa )

That... which you feel  there,inside,
that... that one cannot see
though it moves you
of so intense,
which leaves you tense in pain
that... which one calls Love
which is the proof of your existence
which is the proof of God's existence
and it's only a proof,
of those who are being tested
and don't even know about it,
of those who taste just a little of it...
all the rest...
we can't even imagine...
I just know that it must be immense.

(by Conceição Sousa )

sábado, 23 de abril de 2011

I AM MOVED BY LOVE...

I am moved by LOVE

By my children

And in this concept

I include my brother

And all the children

Of all mothers

Whose eyes are watching me

Awaiting endless answers.

Those children one day will ask

“-Oh Mum! Where are you? Come and help me!”

I want them to feel these verses

And in them travel their returns.

I want them to listen to my letters

Inspirit the strength of comets

And react to their reverses.

I want them to read my soul

And to define theirs in quietness

To revive the person that I am

The good, the bad, the moon, the ground,

The insecurity, the shyness,

The courage, the self-assurance

The person who (with them) has so become

The joy, the happiness, the pain

The person who they know by heart.



I am moved by LOVE

By my offspring

And every offspring

Who one day will think

“-Oh Mum! Where did you go? Come and get me!”

No, I won’t. No.

I’m on these lines, right here.

Be reborn from the ashes

Fight with your own “selves”

Drive away your sorrows.

Forgive your mistakes

Begin again from new waters

Cling to your God

Trust your own harm

Don’t bring down the curtain!



I am moved by LOVE

By my emperor

And all the emperors

By my smile

And all the smiles

By my flower

And all the flowers

By the tenderness in their upbringing

By the sweetness in their loving

One day they will inquire

“-Oh Mum! Where’s the way out?”

Don’t leave! Stay!

Cling to yourself, to your own conscience.

Dialogue with you and your executioner.

Clean up the troubles and put them into a shelf

The yesterday agony into a corner

Begin from zero, inspire

Think of you as a saint in forgiveness

Manoeuvre in life the mast

Sail in the light of tranquillity

Grab to my missing and longing.



I am moved by LOVE

By my parents

And all the parents

Who give all in life

The sacrifice of their armies.

I want to tell them that they deserve

Because they have a magic wand (wound)

To be worthy of a child’s being in their investment

I want to give them a present in the patience

That they cry their pains

In the upbringing of all their loves

I want to tell them that I love them endlessly

And appreciate the blessing, the act of my existence

The tenderness of my sleeping

The will of my awakening.



I am moved by LOVE

By my ancestors

To all ancestors

I want them to watch me

And have endless joys

I want them to live this evening

The echo of all their living

To feel the plenitude

This spark of happiness

And change it into youth

I want them often to think

That it’s good to be here

Even if the body drags itself

I want them to be willing to breathe.

Look at me

And dare dreaming...

Even when the pain hurts

Like a sword in the flesh

Look at us

Children of you

And smile beyond the end

Smile behind the voice.



I am moved by LOVE

The love towards GOD

The creator the pain maker

Because without pain

There isn’t LOVE

God hasn’t got a shape

It’s energy

It fits in us

Of gladness

It’s always here

And nonetheless

All the way

We search it there

I am moved by LOVE

And LOVE is ME.

(by Conceição Sousa)