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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

É debaixo do chuveiro que tudo se resolve


É debaixo do chuveiro que tudo - mesmo tudo - se resolve.

 Anda daí. Preparado? Tal como Deus te trouxe ao mundo?

Sentes? Diz lá. Consolado.

O formigueiro das gotículas a contagiar toda a tua pele.

O eriçar da subtil pelugem – faz vénia  à passagem do carreiro :

 vento gélido - sabe exactamente para onde vai : e vai.

O dilatar dos poros ao suave toque da madrugada;

abraçam (porque querem), esgaçando, as lágrimas –

orvalho a suster na alma carícias de todas as horas: mágoas.

É um arrepio no calafrio dos entretantos , dos porquês -  dos crês ?

Cerrar de olhos ( tranquila escuridão) no serrar da cruz que fere -

corrente de ar, ímpeto ; beija a de água : verte o amar.

E as liquefeitas estradas  do amor erguem-se;

 Carregam, em  hidro –dourado serenar, os aquedutos,

os fios humedecidos de vida : varrem o conspurcado, a morte.

E ainda tal como Deus ao mundo nos trouxe,

 comungamos o nós -  no afagar do corpo inerte : limpos.

Limpos de dor. Sofridos de amor.

Nas entrelinhas das inúmeras nascentes termais,

oriundas dos mais diversos pontos cardeais,

observamos a junção do respirar no fundo da voz.

Bramido ecoando o final da imersão -

extenso trajecto  no reclinar da emoção.

A foz que sentimos na entrada  a contra-luz.

Dos aromas e das velas o banho a incenso.

O odor seduz: e ao amor próprio conduz.

O tudo (ch)orado, esvaziado,  no chuveiro convento.

(Conceição Sousa)


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