É debaixo do chuveiro que tudo - mesmo tudo - se resolve.
Anda daí. Preparado? Tal como Deus te trouxe ao mundo?
Sentes? Diz lá. Consolado.
O formigueiro das gotículas a contagiar toda a tua pele.
O eriçar da subtil pelugem – faz vénia à passagem do carreiro :
vento gélido - sabe exactamente para onde vai : e vai.
O dilatar dos poros ao suave toque da madrugada;
abraçam (porque querem), esgaçando, as lágrimas –
orvalho a suster na alma carícias de todas as horas: mágoas.
É um arrepio no calafrio dos entretantos , dos porquês - dos crês ?
Cerrar de olhos ( tranquila escuridão) no serrar da cruz que fere -
corrente de ar, ímpeto ; beija a de água : verte o amar.
E as liquefeitas estradas do amor erguem-se;
Carregam, em hidro –dourado serenar, os aquedutos,
os fios humedecidos de vida : varrem o conspurcado, a morte.
E ainda tal como Deus ao mundo nos trouxe,
comungamos o nós - no afagar do corpo inerte : limpos.
Limpos de dor. Sofridos de amor.
Nas entrelinhas das inúmeras nascentes termais,
oriundas dos mais diversos pontos cardeais,
observamos a junção do respirar no fundo da voz.
Bramido ecoando o final da imersão -
extenso trajecto no reclinar da emoção.
A foz que sentimos na entrada a contra-luz.
Dos aromas e das velas o banho a incenso.
O odor seduz: e ao amor próprio conduz.
O tudo (ch)orado, esvaziado, no chuveiro convento.
(Conceição Sousa)
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