Por vezes, por muito que se faça, nada corre de feição. Na certeza de que é esta a hora marcamos a dita posição. E voltamos a marcar, incansavelmente, até que nos digam não. E mesmo o "não" sabendo, repetimos o acto : querendo - mesmo muito crendo. Novamente, bem na cara - resignada-, o nada. Danada vida esta : vida feita de sonhos e de nadas. Nadas que vão nas ruas lentamente (ou apressadamente) abraçados a nadas. Nadas beijando nadas : sobem escadas - jazem caladas - na certeza de que levam a nadas. Maldito vazio em redor - mágoas sentidas no momento do calor. Imensas, inúmeras, mágoas sempre ao dispor. Só dor. Que horror! É um holocausto de nadas. Onde fica nisto tudo - nesta enchente de nadas ( neste vazio de contos de fadas)- o amor? Procura-se e, sem se procurar, encontra-se. Encontra-se e, sem se (de facto) encontrar, perde-se. Perde-se e, sem nada perder, busca-se. Busca-se e, ao tudo buscar, mata-se. Mata-se e, ao se matar, nasce -se. Renasce-se num novo lugar, olhando em redor, sem nada reconhecer nem nada encontrar a não ser o próprio amor. Esse que, na verdade, nunca saiu do lugar. Apenas estava no fundo do poço - vazio de água e de luz- a nadar. Aguardava a hora da dita posição marcar - essa que, por muito que se faça, nos continuam a negar. Danada de vida esta: sem par. Chora o que tiveres de chorar, mas mesmo sentindo-te nada -sendo nada-, não deixes nunca de te amar. E, já agora, boa caminhada.
(Conceição Sousa)
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