E quando ela cai, molha; e quando molha, sente-se; e ao sentir, percebe-se; e ao perceber, entranha-se; e ao entranhar-se, rejuvenesce-se; e ao rejuvenescer-se, renasce-se; e ao renascer-se, é-se feliz. E quando ela cai - a chuva -, humedece-nos na dureza da tábua rasa : desperta o odor da madeira em comunhão. Sente-se na pele do exilado a frescura na saudade do que já foi e torna a ser, o ciclo das estações- esse que insiste em permanecer e nos fazer crer. Aí : percebe-se o mundo a celebrar nossa existência, a beijar-nos na clemência de quem sabe o porquê de ainda cá estarmos, a abraçar-nos (lenta e docemente) na partilha de o comungarmos. Nesse mágico momento, entranha-se na alma o cheiro a pó no ar, da vida o pleno saborear, do " sim : sinto, estou, sou" o respirar. E celebra-se , encantamento, nessa paragem do tempo ( que ao andar nos faz recuar), gotas de orvalho o início a suster : caem na terra ; rejuvenescem - toque de fôlego vivo - o árido ser esquecido. E o renascimento dá-se : em lágrimas humedecidas - em sal faz-se. A mãe natureza diz-nos que é hora de o seu ventre sentir. E à humana curta memória relembra o ciclo do existir : com uma singela gota de chuva - tão singela - faz-nos sorrir.
(Conceição Sousa)
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