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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Quero dizer-te.../ I wish to tell you...

Quero dizer-te:  a simples visão de ti  

e do jeito com que tua ausência me olha

molha minhas carícias em lágrimas -

correm contidas na alma que nem mágoas,

pendem gotas de orvalho na machucada folha.



Quero dizer-te:  todas as manhãs me levanto

contigo em meu pensamento; segredas-me ternura,

manhas de sobrevivência próprias de quem ama tanto.

Desfaço minhas dores; sonho-nos em doce aventura -

deslizar de lava fixamo-nos cristais em nosso pranto.



Quero dizer-te:  à luz polar do meu existir

dei teu nome soprado ao vento: um que não se diz.

E que me guia nos atalhos da folhagem densa;

um que trago incansavelmente -  bússola -  a meu lado

repito-o a mim mesma (inúmeras vezes) sussurrado.



Quero dizer-te:  em tempos aguardei esta hora

 cúmplice de nós dois - aqui - , neste lugar, neste segundo;

suavemente te beijo na aura minha alma cora.

Revelo meu desejo desperto dou-te o mundo

ainda hoje a guardo (n)esse momento, sem demora.




Quero dizer-te:  o ânimo que segura meus dias;

essa tua voz imponente, minha essência escuta

esse timbre calado, em meu espírito mora.

Embalas-me no berço da ilusão de que me querias

fosses tu eco, na montanha longínqua a vibrar,

não estaria neste vale profundo, a chorar.



Quero dizer-te como quem diz a quem está.

Quero dizer-te como quem ama a quem é.

Quero dizer-te como quem respira e só.

Quero dizer-te como quem crê e tem fé.

Quero dizer-te tudo mas nada te digo.

(Conceição Sousa)


I wish to tell you…the simple vision of you

and the way your absence looks at me

waters my caress in tears –

which flow chained in the soul as if soreness,

dangle dew drops in the hurt leaf.



I wish to tell you...each morning I get up

beholding you in my thought; whispering tenderness in my ears,

survival  quirks of those who love so much.

I undo my pains; dream us in sweet adventure-

lava slithering we settle crystal in our weeping.



I wish to tell you..to the polar light of my existence

I have given your name whispered to the wind; one that one cannot tell.

And that guides me in the footpaths of the dense foliage;

one that I convey restlessly - compass- beside me

I repeat it to myself (endlessly) secretly.



I wish to tell you...once I’ve abided for this hour

accomplice of us two - here-, in this place, in this second;

smoothly I kiss you in the aura and my soul blushes.

I reveal my awoken desire, I give you the world

and still today I wait for that moment, without delay.



I wish to tell you... the breath that holds up my days –

that imposing voice, listening to my essence

that silent tone, living in my spirit.

You wrap me in the illusion cradle that you also wished me –

were you echo in the far away mountain vibrating,

I wouldn’t be in this deep valley crying.



I wish to tell you as if one tells to someone who is here.

I wish to tell you as if one loves someone who is.

I wish to tell you as if one breathes and that’s it.

I wish to tell you as if one has faith and believes.

I wish to tell you all but nothing I speak.
(by Conceição Sousa)


sexta-feira, 15 de julho de 2011

É a vida, amor.

É a vida que nos olha, percebe e suplica.
É a vida que nos molha, concebe e agita.
E o nós que não se quer: ser molhado - sequer olhado.
E o nós em tormento do outro lado -
a vela acesa e do sopro momento: aguardo.
A chama em calor abrasa a gota
que desce, lentamente, o estar.
E na ravina do ocaso segura
a lágrima. Encontra o branco absorta.
Despe-se do tórrido, abraça a ternura,
caminha na luz soltando a loucura.
Leve, desliza no vale sem cor -
pedra de cera cristaliza-se amor.
É a vida em todo o seu esplendor.
É a vida, amor. É a vida sem dor.
O nós que sei - a sós. É o após
tranquilo - o serenar da voz.
É a vida, amor. É do estar: pleno sabor.
(Conceição Sousa)

domingo, 10 de julho de 2011

E quando sinto a injustiça

E quando sinto a injustiça

Cá dentro

Solto o monstro em mim.

Blasfemo, grito, esperneio

A revolta, o horror, a dor - em fim.

Não gosto de sentir assim.

Massacro, disparo, torturo

Alteio ainda mais o muro

Que afasta o outro de mim.

Cada palavrão - uma pedra -

No dique da solidão.

Cada verbo - sentido e não -

Cada letra disparada ao vento

Morre ali naquele momento

Crava o outro no coração.

A todo o instante peço perdão

Sei-o de imediato em vão.

É uma neura que não controlo

Esta da insatisfação

A expectativa desfeita na desilusão.

Grito , blasfemo, esperneio as dores

- No peito desfazem-se as cores -

Apertam , estilhaçam a alma

Rogam-me tranquila e calma

Olho para o outro em silêncio…

Aguardo do dique a derrocada

Anseio das águas a chegada

Envoltas numa enxurrada de luz.

Aguardo o amor que seduz.

Mas tudo o que vejo:

É queda a pique.

É olhar longínquo ,apagado ,

E penso: é este o fado.

Pois seja. Será então.

E apática, entrego meu coração.

Apanho os cacos um a um

Coloco-os, mimando-os, na prateleira

Deixo-os ali quentinhos à lareira

Visito-os de quando em vez

Foi assim que Deus me
fez.

Descubro pasma outros cacos

Que não os meus – lá.

Naquela tão visitada estante.

P’ra lá do vidro observo

A romaria que ali vai

Os mimos do outro que entram

A dureza do espelho que cai.

E nesse segundo me apercebo

Do sorriso de outros cacos na mão

Que com meus cacos se unem

Nos vasos do coração.


(Conceição Sousa)