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domingo, 10 de julho de 2011

E quando sinto a injustiça

E quando sinto a injustiça

Cá dentro

Solto o monstro em mim.

Blasfemo, grito, esperneio

A revolta, o horror, a dor - em fim.

Não gosto de sentir assim.

Massacro, disparo, torturo

Alteio ainda mais o muro

Que afasta o outro de mim.

Cada palavrão - uma pedra -

No dique da solidão.

Cada verbo - sentido e não -

Cada letra disparada ao vento

Morre ali naquele momento

Crava o outro no coração.

A todo o instante peço perdão

Sei-o de imediato em vão.

É uma neura que não controlo

Esta da insatisfação

A expectativa desfeita na desilusão.

Grito , blasfemo, esperneio as dores

- No peito desfazem-se as cores -

Apertam , estilhaçam a alma

Rogam-me tranquila e calma

Olho para o outro em silêncio…

Aguardo do dique a derrocada

Anseio das águas a chegada

Envoltas numa enxurrada de luz.

Aguardo o amor que seduz.

Mas tudo o que vejo:

É queda a pique.

É olhar longínquo ,apagado ,

E penso: é este o fado.

Pois seja. Será então.

E apática, entrego meu coração.

Apanho os cacos um a um

Coloco-os, mimando-os, na prateleira

Deixo-os ali quentinhos à lareira

Visito-os de quando em vez

Foi assim que Deus me
fez.

Descubro pasma outros cacos

Que não os meus – lá.

Naquela tão visitada estante.

P’ra lá do vidro observo

A romaria que ali vai

Os mimos do outro que entram

A dureza do espelho que cai.

E nesse segundo me apercebo

Do sorriso de outros cacos na mão

Que com meus cacos se unem

Nos vasos do coração.


(Conceição Sousa)

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