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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Perspectivas reais ou irreais

Estás a ver-me?
Não serei apenas mais uma cor na tua mente?
Pergunta aos teus olhos. Eles dir-te-ão algo...
E os teus olhos? Será que não te mentem?
Será um padrão o que vêem?
Serei um textura para os teus olhos?
Ou apenas uma visão, uma miragem,
um desfocado holograma?
O que sou eu para os teus olhos?
Será que penso que me vêem, mas minha mente engana-me?
Não me vêem, não existo, nem sou vista!
E o que não vêem os teus olhos?
O mesmo que eu vejo no reflexo?
Nem mais alta, nem mais baixa,
nem mais gorda, nem mais magra,
nem mais límpida, nem mais turva,
nem mais clara, nem mais escura,
nem mais nova, nem mais velha,
nem mais oca, nem mais espessa,
nem mais bonita, nem mais feia,
nem mais...

E os teus ouvidos? Pergunta-lhes vá...
É a mim que eles escutam?
Esta mesma voz que ouço nos meus, cá dentro...
Ou será aquela outra, irreconhecível no ecrã, a de fora?
Não será - essa voz que escutam - um outro tom que não o meu?
Esse timbre - que te ressoa nos ouvidos - é um leve vibrar
ou um retumbante tambor?
O que sou eu para os teus ouvidos?
Será que penso que me escutam mas - na verdade -
não sou ouvida, nem escutada? Silêncio.
E essa voz daí? É a mesma que ouço aqui?
Nem mais grossa, nem mais fina,
nem mais dura, nem mais mole,
nem mais ríspida, nem mais suave,
nem mais meiga, nem mais bruta,
nem mais amarga, nem mais doce,
nem mais presa, nem mais solta,
nem mais vibrante, nem mais segura,
nem mais afónica, nem mais soante,
nem mais rouca, nem mais sussurrante,
nem mais minha, nem mais tua...

E as tuas mãos, a tua pele ? Será que me sentem?
Pergunta-lhes, vá.
E será que não te mentem...
Será esse toque igual ao meu?
Será que queima? Será que gela? Anestesia.
Estende-se ao tocar? É fogo a arrepiar?
Viaja pelo corpo em ondas a vibrar?
Pede mais toque, arfa sequioso?
Ou nem sabe o que é sentir tocar?
Este toque - que é tão meu - toca-te?
Ou é o toque do retirar?
Sabes o meu tocar?
Sei o teu tocar?
Nossas mãos, ao entrelaçar, estarão realmente a falar?
Ou é apenas a minha mente a sonhar?

Mundo consegues palpar-me? Existo?
Ou mundo...tu és EU?
Eu a dormir.
Eu a chorar.
Eu a sorrir.
Eu a sonhar.
Eu a amar.

( de Conceição Sousa )

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