Habituada que estou a olhar para dentro
mal noto o que vai do lado de fora
embora pressinta que neste momento
é tida a vontade e dela se fez hora.
Levantem-se as pálpebras bem devagar
percorram andando neste silêncio
são épocas para mim a olhar
segundos marcados no tempo.
Figuras de alma entrelaçada
papel em mudos retratos
sussurram baixinho...não são ouvidos.
Parecem outros, dizem algo
que não compreendo e é importante
murmuram lá longe, ecoam distante.
Vida própria reclamam -o dedo
apontam à minha presença.
Exigem voltar lá, é sua a sentença.
Tantas as vozes que me observam...
Receio seus rostos, tenho medo.
O nada vagueia neste quarto
emite o som do desassossego
nos livros letras borbulham
anseiam a página aberta
aguardam sua vez de contar
a história, que não lida, é deserta.
Bonecas de porcelana altivas
escondem tristeza no espartilho
chapéus emplumados em destreza
combinam ao requintado vestido.
Reclamam um baile encantado
numa época de pura etiqueta
exibem no cabelo ondulado
a aura da original vedeta.
O menino de braços abertos
oferece o espírito da paz
a senhora de manto lilás
com ele mantém conversa
e o baú fechado desperta
memórias em cheiro de pinho
embora pareça acorrentado
em tempos provou o vinho
da liberdade em pano amparado.
Apenas dois quadros na parede
o epicentro desta vã realidade
seguram-se às iniciais contidas
unidas pela voz do abade.
O frio começa a apertar
as sombras a segredar
por ora chega de olhar
para o dito lado de fora...
(de Conceição Sousa)
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