É p'ra ti que, demoradamente, olho
sem, no entanto, olhar de facto...
Vezes sem fim aguardo - não olhando -
que teus olhos pousem em mim, de imediato.
E nas costas, tua seduzida vigia pesa-me
no peito arfando sinto-a ignorar-me, pedra.
Sei que, iludida, sonho quem não és
só aquele que penso amar-me, de rígida tez.
E quando, perdido, me olhas nos olhos
sem, no entanto, olhar de facto,
minha suplicante mente: mente feliz.
Segreda-me (em amplo aparato)
na ânsia de que também me vês -
aquela com quem tu acordado sonhas
mas que imaginas ela (não) ser,
aquela que pensas amar-te
mas sabes (não) te querer -
e que acreditas fazer(-te) sofrer.
Será amor o acabado retrato?
Palpável apenas no átrio da intuição.
Um que dúvidas no tempo lamenta
contrai a dor - intuída percepção -
ocupa no coração amplo espaço
sorri no doce pressupor - água benta -
ampara a hóstia da comunhão.
Desdenha o rubor, estende a mão.
É um amor que - quando toca -
não se mascara, suplica rosto
e olhos com olhos latejando;
encosto de lábios, pensamento fechado -
nas pálpebras sentido o fluir do momento;
e a batida do coração, acelerado atrevimento -
tantas as palavras que guardo cá dentro.
É p'ra ti que, demoradamente, olho
sem, no entanto, olhar de facto...
Beijo-te.
(de Conceição Sousa )
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