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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O nosso adormecer 15.02.2011

Há algo estranho a acontecer...
serenamente estranho...
Algo carinhosamente anuído,
num esboçar de sorriso doce,
num fechar de pálpebras lento,
em jeito de consentimento.
É o cansaço nos olhos,
amparado pelas rugas mais abaixo.
É o pente (sur)preso
surrealmente preso
num prateado cabelo...
E ao soltar, amplia e repara
em vários prateados fios,
não os conseguindo reparar...
É a face da amiga de infância
num cúmplice encorrilhar...
Tal como a vejo, a ela,
Ela me vê,a mim...
É um terno e lânguido apreciar.
Na subtil flacidez contam-se histórias
Memórias incrustadas no enrugar da tez.
Momentos guardados cá dentro
Fragmentos nas sardas do tempo.
Nos dedos, os nós, enchem-se
de cruzadas ininterruptas,
doem de saudades contentes.
As genuínas mãos entrelaçam-se
em escamas curtidas, resignadas,
e abraçam-se as roucas vozes
de vida plenas, coniventes,
mas não caladas.
Há algo estranho a acontecer...
serenamente estranho...
O início do nosso adormecer.

(de Conceição Sousa)

1 comentário:

  1. Tua poesia é profunda, algo intrincada, nos prazeres e desprazeres da vida.
    Mas gosto da tua maneira de lavares a alma....

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