Estrebuchar: é a minha área.
Recebo os choques, constantemente, como todos os outros,
mas ainda consigo estrebuchar.
Não me aninho, nem fujo ( só de vez em quando…) –
também não há p’ra onde fugir –
nem me finjo de morta.
Estrebucho.
Faço questão de ordenar ao meu corpo
(já cansado, já massacrado – como o de todos os outros)
que estrebuche:
- Vá, diz-lhes!
Diz-lhes que estamos vivos.
- Vá, mostra-lhes!
Mostra-lhes que não gostas.
Lança-lhes o teu
olhar húmido de ódio,
e mostra-lhes que
tens o direito inalienável a viver condignamente.
É teu.
Pode ser que um dia os choques se cansem e se aninhem
(de quando em vez…) –
e não tenham p’ra onde fugir,
e se finjam de mortos.
Pode ser que, finalmente,
percebam o seu dever.
(Conceição Sousa)
E todos os dias nos confrontamos com adversidades que nos fazem sentir chocados, desnorteados, humilhados, confusos...
ResponderEliminarE todos os dias queremos não vergar sob o peso que tais acontecimentos nos provocam...
E todos os dias nos encontramos sem fuga, fingindo-nos de mortos, odiando...
E todos os dias fazemos o contrário de tudo isso...estrebuchamos!
E porquê?
Porque estamos vivos!