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domingo, 29 de maio de 2011

Fundida / Merged (F.)

Desta vez, a seta atingiu bem fundo
- esta luz- no fuso: prestes a ser fundida.
Fusão ou Apagão ?
Metamorfose, evolução.
Dor no adro obtuso, iluminado
Funde-se ferro- liquefeita
No preto vermelho emerge o instante
Arrefece adiante e ao negro retorna.
Queima à vista gela ao toque.
Funde-se contraste pensa com(paixão)
Na arte- e tão só- mera compaixão.
Laivos de vazio no oco líquido entorna
Queima o sabor gela a forma.
Funde-se apagando a luz do olhar
Sente , desta vez, definitivo abafar
Escuridão que perpassa o vítreo ser
Quebra o suor sabe morrer- sabe morrer.
É o que sabe fazer melhor: morrer.
Impedida de seu destino escolher
Colhida foi num ápice segundo
Por esse amor do mundo que dói: dói.
Fundida. Só isso: fundida.
(Conceição Sousa)


This time, the arrow deeply hit -this light - in the spindle:
just about to be fused.
Fusion or Blackout?
Metamorphosis, evolution
Pain in the obtuse square, enlightened
it smelts iron- molten
In the blood black the instant emerges
Ahead chilling and to the plain black returning.
Burning the sight freezing the touch
Merging contrast pathos thought
In the art- only- pure pathos.
Emptiness beams in the hollow fluid spills
Burning taste freezing shape
It smelts fading the light of the look away
Feeling, this time, permanent choke
Darkness running through the vitreous being
Cracking the sweat he knows how to die - he knows how to die.
That's what he knows best : dying.
Hindered from choosing her fate
Caught she was in a second glance
By that mundane love that hurts: it hurts.
Merged. Just that: fused. (F.)

(by Conceição Sousa)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O barco / The boat

O barco triste veleja nas águas turvas
Sereno ao monte escarpado acena
Observa as ondas que o monte beijam
Quer lá ir e o vento não o arrasta.
As ondas carpem o dia, na rocha, agitam
O veleiro lânguido, quase morto, desliza
Para o lado - interminável dor do horizonte.
É monte, é duro, é bruto, é torto
É poste hirto na âncora do leme.
E o vento que não vem p’ra me levar adiante
Eu que me afogo nestas águas paradas
Veleiro naufragado em almas penadas
Abano que nem a folhagem verdejante…
É a brisa: quer-me em afago constante.
O céu faz-me olhar o teu c(a)rente azul
Esqueço o monte (a)fundo os corais
Mostra-me reflexo teu nas águas termais
Abre-me nova porta descoberta enfeitiça
Chama-me velejar tuas ondas gigantes
E até ao infinito cobre-nos: diamantes.

(Conceição Sousa)

The sad boat sails on muddy waters
Serene it waves to the steep hill
Observes the waves kissing the mountain
Wants to go there but the wind doesn't haul.
The waves carping the day, on the rock, hustle
The languid sailboat, almost dead, slithers
To the side - endless horizon pain.
It's slide, it's hard, it's raw, it's awry
It's a rigid pole in the helm anchor.
And the wind that won't come to take me ahead
Me drowning in these motionless waters.
Shipwrecked sailboat among suffering souls
Shaking am I as the verdant foliage...
The breeze: wants me in constant tenderness.
The sky makes me look to your believing wanting blue
I forget the deep hill and sink the c(h)orals.
Show me your reflection on the thermal waters
Opened new found gate it bewitches
Call me to sail your giant billows
And till the infinite: cover us diamonds.

(by Conceição Sousa )

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Toque /Touch

 O teu toque…ai o teu toque…

Morro: se não queimo ao teu toque.

Toque de Beethoven soando na noite

Cravada na pele essa sinfonia do estar

Encardida na alma gota etérea do amar.


O  teu toque…ai o teu toque…


Morro: se não trago cá dentro teu toque

Toque de gelo em tragos de olhar

Na carne tatua as letras ( as nossas )

Animais desprovidos do selvagem (es)correr

Acorrentados no fluir do momento – em nos saber

Toque, cúmplice toque de afagos: sorver.

Em nos saber prova, deliciosa prova, rasgada no tempo.

Tudo o que quero é desse toque chama(da)

E tocar-te, tocar-te Beethoven no infinito de sobra

Na dobra da (não) existência -a ferros -marcar

A sangue, a fogo, a luz, a suor nossa obra.

(Conceição Sousa)

Your touch...oh your touch...
I'll die: if I don't burn at your touch
Beethoven's touch sounding in the night
Carving the skin with the being symphony
Soiling the soul ether loving drop.

Your touch...oh your touch...
I'll die: if I don't bring your touch inside
Ice touch in the gaze gulps
Tattoos letters in the flesh (ours)
Deprives animals from the savage staunch
Chained in the moment flow - tasting us
Touch, accomplice caress touch : absorb.
Acknowledging us proof, delicious proof, torn in time.

All I want is from that touch a flaming call
And touch you, touch you Beethoven the infinite in abundance
In the (non) existence fold - on iron - brand
Through blood, fire, light, perspiration our work.

(by Conceição Sousa)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Impulso /Impulse

Tudo: impulso.
Impulso atrás de impulso.
Intuo pulsar do coração:
pulso bem firme nessa intuição.
Pulso bem firme.
É a corda da vida a vibrar.
Timbre soando eco da paixão:
voz imponente no acorde da emoção.
Intuo: palpitação.
Palpo:contida agitação.
Pressinto: da onda rebentação.

(de Conceição Sousa)


All: impulse.
Impulse after impulse.
I perceive the heart pulsing:
and I pulse firmly in that intuition.
Having a firm pulse.
It's the string of life vibrating.
The chord sounding the echo of passion:
magnificent voice in the tune of emotion.
I perceive: palpitation.
I palpate: chained agitation.
I forefeel: the wave breaking out.

(by Conceição Sousa)

sábado, 7 de maio de 2011

I look at my body and I see...

I look at my body and  I see...
The grooves in the belly as desire waves
A growing desire putting on weight
An anxious desire of meeting you
 and not waiting too much to see your face.
I look at my body and I see...
The bump in the abdomen zone gently shaped
The maternity mirror, magic there anchored
Proud I show it to the world, motherhood full.
I look at my body and I see...
The sinuous curve at the bottom of my spine
The blessed burden of gestation responsibility
In the enchantment I sustain our happiness.
I look at my body and I see...
The fragility in the bones, the child's tenderness
The tooth ache which visits me from time to time
Nutrition for my sweet babies in the belly.
I look at my body and I see...
The skin flabbiness it became
The man and the woman in love, no complaint
And from passion the seeds there germinating.
I look at my body and I see...
The lovely sculpture one has made
The enchanted charm in the eyes of the sculptors
Who look at the body and keep working on the soul.
I feel in these motherhood scars
The enormous well-being of someone
Who gives it all without asking return.
I receive all the time through these wounds
Fragments of happiness from the present and from the past.
I recall, missing and longing, the maternity pains
Feeling all the time inside my alive flesh
My beloved children their premature movements
As if they were small mice moving beneath the carpet.
When through my skin languid I pampered them
They communicated to the mother waving they knew me loving
And today they still wave sheltered in my eternal lap
They ask me lullaby songs from gone times
That I sing indefatigably into our ears.
They know I love them and that they're safe.
The nave string has been doomly cut
Though that action hasn't raised a wall between us.
The navels show us endlessly
The eternal act and the unconditional love of maternity.

(by Conceição Sousa)

domingo, 1 de maio de 2011

Olho para o meu corpo e vejo

Olho para o meu corpo e vejo
As estrias, na barriga, que nem ondas do desejo,
desejo que cresceu ao vê-la, incrédula, aumentar
desejo ansioso de te conhecer, sem muito esperar.
Olho para o meu corpo e vejo
a lomba, na zona do ventre, docemente formada,
o espelho da maternidade, magia ali ancorada,
orgulhosa mostro-a ao mundo, mãe babada.
Olho para o meu corpo e vejo
a curva sinuosa, ao fundo da coluna,
o peso abençoado, da gestação responsabilidade,
o encanto com que sustive nossa felicidade.
Olho para o meu corpo e vejo
na fragilidade dos ossos, o carinho dos filhos,
na dor de dentes, que me visita de quando em vez,
a nutrição, no ventre, de meus queridos bebés.
Olho para o meu corpo e vejo
na flacidez das peles, em que se tornou,
o homem e a mulher, que o Amor sonharam,
e da loucura, as sementes, que ali se geraram.
Olho para o meu corpo e vejo
A bela escultura que dele fizeram
O encanto embevecido com que o olham
Os olhos dos escultores,que nele trabalham,
E sinto, nestas marcas da maternidade,
Um enorme bem-estar, de quem muito de si dá,
Recebo a toda a hora, por via delas, e de quem as admira,
Fragmentos de felicidade, do presente e do passado,
E recordo, com saudade, as dores da maternidade
Sentindo, a todo o momento, por dentro da carne,
Os meus amados filhos, os precoces movimentos,
Que nem ratinhos, movimentando-se por baixo do tapete
Quando, na minha pele, lânguida os acariciava,
Comunicavam à mãe, ondulando, que sabiam quem os amava.
E ainda hoje ondulam, acocorados, no meu eterno colo,
Pedem-me canções de embalar de tempos idos
Que canto, incansavelmente, aos nossos ouvidos.
Sabem, que os amo, e que ,em mim, estão seguros
Pois o cordão, que nos cortaram, não levantou muros
Nos umbigos faz-se presente e mostra-nos a eternidade
Que é o acto e o amor incondicional da maternidade!

(de Conceição Sousa )