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terça-feira, 21 de junho de 2011

ai.como dói. esta dor.

ai.como dói. esta dor.
de saber que não me queres. e (a)penas digeres - dizes e geres.
ai.como dói. esta dor.
de te querer e não te ter
de saber não me ser: nunca me ser- ser não.
ai.como dói. esta dor.
daqui de dentro,
este tormento que sou. este verbo: findou.
este engano da mente (demente),
pois, na verdade, nem sequer começou.
ai.como dói. esta dor.
de ser assim: contínuo holocausto,
irremediável holocausto de mim.
intelecto (en)rolamento,
viciante desnorte
alma gémea da morte, sem sorte - fim.
e só morte. apenas morte. em vida, morte.
ai. como dói. esta dor.
de sonhar sem parar,
e de não saber parar.
querer muito respirar - sem ar. e não abafar.
ai.como dói. esta dor.
de entender não merecer -
o que me dão -tudo.
saber-me nada,
vazio no vazio da estrada,
choro na alma constante,
do inverno fatídica amante.
ai.como dói. esta dor.
ser o inferno daqui,
martírio do cosmos,
muito mais negra que branca,
da escuridão o escurecer,
e o coração na garganta suster.
ai.como dói.esta dor.
este embargo na voz,
pedinte de vós,
átona de nós,
intuir no sangue do meu sangue
a solidão -essa
que , no momento, de partir : sei.
será, como sempre, a única mão.
ai.como dói. esta dor.
(Conceição Sousa)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sem, no entanto, olhar de facto / Without , in fact, looking at you

É p'ra ti que, demoradamente, olho
sem, no entanto, olhar de facto...
Vezes sem fim aguardo - não olhando -
que teus olhos pousem em mim, de imediato.
E nas costas, tua seduzida vigia pesa-me
no peito arfando sinto-a ignorar-me, pedra.
Sei que, iludida, sonho quem não és
só aquele que penso amar-me, de rígida tez.
E quando, perdido, me olhas nos olhos
sem, no entanto, olhar de facto,
minha suplicante mente: mente feliz.
Segreda-me (em amplo aparato)
na ânsia de que também me vês -
aquela com quem tu acordado sonhas
mas que imaginas ela (não) ser,
aquela que pensas amar-te
mas sabes (não) te querer -
e que acreditas fazer(-te) sofrer.
Será amor o acabado retrato?
Palpável apenas no átrio da intuição.
Um que dúvidas no tempo lamenta
contrai a dor - intuída percepção -
ocupa no coração amplo espaço
sorri no doce pressupor - água benta -
ampara a hóstia da comunhão.
Desdenha o rubor, estende a mão.
É um amor que - quando toca -
não se mascara, suplica rosto
e olhos com olhos latejando;
encosto de lábios, pensamento fechado -
nas pálpebras sentido o fluir do momento;
e a batida do coração, acelerado atrevimento -
tantas as palavras que guardo cá dentro.
É p'ra ti que, demoradamente, olho
sem, no entanto, olhar de facto...
Beijo-te.
(de Conceição Sousa )

It's you who I slowly behold
without, in fact, looking at...
Endless times I expect - without looking -
that your eyes in me rest.
And in my back your seduced lookout weighs
in the burning chest I feel it ignoring, stone.
I know that, deceived, I dream of someone you are not
just the one I think loving me, strict complexion.
And when, completely lost, you look at me in the eyes,
without in fact looking at me,
my begging mind lies : lies happily.
It whispers to me ( shouting out loud )
in the anxiety that you also see me -
the one who you awaken dream of
but imagine she (not) be
the one you think loving you
but know (not) want -
and that you believe hurting (you).
Can the former picture be love?
Felt only in the perception pathos.
One that doubts in time mourns
contracting pain - perceived perception -
taking in the heart (art) major space
smiling at the sweet assumption - blessed water-
holding the communion host.
It disdains the bloom, gives the hand.
A love that - when touching -
doesn´t dissemble,  pleads faces
and eyes in the eyes burning;
lips touch, close thought -
the eyelids feeling the moment flow;
the heart beat, accelerated nerve;
so many the words that I keep within.
It's you who I slowly behold
without, in fact, looking at.
I kiss you.

(by Conceição Sousa )

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Perspectivas reais ou irreais

Estás a ver-me?
Não serei apenas mais uma cor na tua mente?
Pergunta aos teus olhos. Eles dir-te-ão algo...
E os teus olhos? Será que não te mentem?
Será um padrão o que vêem?
Serei um textura para os teus olhos?
Ou apenas uma visão, uma miragem,
um desfocado holograma?
O que sou eu para os teus olhos?
Será que penso que me vêem, mas minha mente engana-me?
Não me vêem, não existo, nem sou vista!
E o que não vêem os teus olhos?
O mesmo que eu vejo no reflexo?
Nem mais alta, nem mais baixa,
nem mais gorda, nem mais magra,
nem mais límpida, nem mais turva,
nem mais clara, nem mais escura,
nem mais nova, nem mais velha,
nem mais oca, nem mais espessa,
nem mais bonita, nem mais feia,
nem mais...

E os teus ouvidos? Pergunta-lhes vá...
É a mim que eles escutam?
Esta mesma voz que ouço nos meus, cá dentro...
Ou será aquela outra, irreconhecível no ecrã, a de fora?
Não será - essa voz que escutam - um outro tom que não o meu?
Esse timbre - que te ressoa nos ouvidos - é um leve vibrar
ou um retumbante tambor?
O que sou eu para os teus ouvidos?
Será que penso que me escutam mas - na verdade -
não sou ouvida, nem escutada? Silêncio.
E essa voz daí? É a mesma que ouço aqui?
Nem mais grossa, nem mais fina,
nem mais dura, nem mais mole,
nem mais ríspida, nem mais suave,
nem mais meiga, nem mais bruta,
nem mais amarga, nem mais doce,
nem mais presa, nem mais solta,
nem mais vibrante, nem mais segura,
nem mais afónica, nem mais soante,
nem mais rouca, nem mais sussurrante,
nem mais minha, nem mais tua...

E as tuas mãos, a tua pele ? Será que me sentem?
Pergunta-lhes, vá.
E será que não te mentem...
Será esse toque igual ao meu?
Será que queima? Será que gela? Anestesia.
Estende-se ao tocar? É fogo a arrepiar?
Viaja pelo corpo em ondas a vibrar?
Pede mais toque, arfa sequioso?
Ou nem sabe o que é sentir tocar?
Este toque - que é tão meu - toca-te?
Ou é o toque do retirar?
Sabes o meu tocar?
Sei o teu tocar?
Nossas mãos, ao entrelaçar, estarão realmente a falar?
Ou é apenas a minha mente a sonhar?

Mundo consegues palpar-me? Existo?
Ou mundo...tu és EU?
Eu a dormir.
Eu a chorar.
Eu a sorrir.
Eu a sonhar.
Eu a amar.

( de Conceição Sousa )

domingo, 5 de junho de 2011

Ir ao seu encontro / Meeting him

Embora converse com Ele, diariamente; hoje, apetece-me ir ao seu encontro - na casa que os homens e as mulheres estipularam como sua. De cada vez que LHE confidencio meu sentir- por palavras ou (até mesmo) silêncios -, meu aparente monólogo consubstancia-se em diálogo : nos pequenos (grandes) sinais que revela ao meu olhar, ao escutar, palpar, cheirar, saborear e intuir. Sinto-O presença constante e conforto. Quando vacilo, quando algo corre menos bem, penso: "- Tu lá sabes. Confio." Hoje vou ao seu encontro na sua casa. Hoje, especialmente hoje, preciso daquela paz, naquela igreja, e de O sentir mais proximo- mais dentro de dentro de mim. Sei que tambem Ele me quer sentir - mais dentro de dentro de Si. Sei que me queres lá, na Tua casa. Por isso, vou; embora saibas que a Tua casa tambem é aqui.

(Conceição Sousa )
Although I talk to Him everyday; today, I feel like meeting him- in the house that men and women decided as His. Each time I tell him in confidence my feelings - through words or ( even) silence-, my apparent monologue changes into a dialogue: in the small (huge) signs he reveals to my sight, when I pay attention by listening, touching, smelling, tasting and perceiving. I feel Him constant presence and comfort. When I vacillate, when something doesn't go so well, I think : "- Whatever you decide. I trust You." Today I'm meeting him in his house. Today, especially today, I need that peace, in that church, feeling him closer- more inside (inside of me). I know that He also wants to feel me- more inside ( inside of him). I know that you want me there, in Your house. So, I'll go; though you know that Your house is also here.

(Conceição Sousa)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Pigmaleão / Pygmalion

É um esculpir sofrido da musa sonhada,

É um carpir eremítico – na sua amada.


Dói: vê-lo
- Pigmaleão - chorando o vazio;


Celibatário na carne, na aparência vadio.

Alinha o estar na roda do intelecto

Percepciona o amor objecto abjecto.

Nesta realidade: fome, sede e seca.

Sacia-se no pensamento venerar confessa.

Molda em redor c(a)rente mundo intuído,

Crava na pedra seu sonho, vencido.

Fustiga a estátua no rugir das vagas marés

Oferecendo-se pó ao vento, de lés a lés.

Aura – aguarda o sacrifício da ansiada chuva.

À obra finda: afaga branca e acetinada luva.

Por terras inférteis devaneia Céus e infinito;

É o efeito que trago no peito – assim foi escrito.

Plebeia observo - doce e mágica humanização –

O amor no olhar brilhante de Pigmaleão.

(Conceição Sousa )


It's a suffering sculpting on the dreamt muse
It's a hermit carving - in his beloved one.
It hurts: watching him
-Pygmalion- crying the emptiness.
Celibate in the flesh, vagrant in the appearance
He adjusts the being by the intelect wheel (will)
and grasps the love as a hideous object.
This reality: hunger, thirst and drought
He slakes in the thought veneration confesses
He shapes around believing in a perceived world,
Carves in the stone his dream, lost and alone.
Fustigating the statue in the roaring of the tide waves
offering himself dust to the wind worldwide.
Aura - expecting the sacrifice of the avid rain
To the final work: pampers white and satin glove.
Through infertile lands he wanders skies and infinite
It's the effect that I bring inside - so it was written.
Plebeian I observe - sweet and magic humanization -
The love in the shining Pygmalion gaze.

(Conceição Sousa )

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Fica /Stay

O que te assusta afinal ? O susto? O final?
Estamos aqui e agora. P'ra mim basta.
Basta-me saber-nos aqui e agora: querer- querer muito. Quero-te.
Toco-te. Não. Não basta. Tenho de te ter: aqui e agora. De me ser. Sem demora.
No vazio de ti - cheio de mim. Farto. Repleta em ti - completo em mim. Perto.
Início, meio e fim. Momento.
É isto que sou. Não me vou. Fico. Fica - enquanto podes fica.Fica.
O tempo assim o dita. E - na verdade- só o tempo fica.
(Conceição Sousa)


What actually frightens you?
The f(r)ight? The end?
We are here. We are now. For me it's enough.
It's enough knowing us here and now: wishing - wishing so much. I want you.
I touch you. No. It's not enough. I must have you: here and now. I must be me. Without delay.
In the emptiness of you - full of me. Full. Filled to the top in you- and you complete in me. Close.
Beginning, middle of, end. Moment.
That's what I am. I won't go. I'll stay. Stay - while you can, stay. Stay.
Time tells us so. And - in fact - only time will stay.

(Conceição Sousa )