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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Vejam, enquanto podem



"Um dia, meus belos e luminosos olhos já nada segurarão.
Um dia, já não verei as nuvens apressadas, lá no alto, escaparem,por entre os dedos de Deus, e beijarem o azul quente de todos os Céus.
Um dia, já não contemplarei a doce brisa a abraçar as rabugentas folhas, que se amam na ramagem densa multicolor, e se perdem e encontram quebradas no banco dos réus.
Um dia, as minhas íris, em vermelho possessas e ramificadas, já não vislumbrarão os açoites da chuva que queimam na pele; nem conseguirão perdoar ao ríspido vento, o que empurra o corpo cansado, e o obriga a avançar no gelo soprado - sabor que escorrega de vida neste papel que me foi destinado.
Um dia, já não terei a visão de ti no meu pensamento, pois, por muito que tente, meus olhos já nada serão senão pó do tempo.
Um dia, já não serás luz cá dentro; toda e qualquer escuridão que possa daí, agora, advir - perto da que está por vir (supõe-se)-, nada mais será do que fugaz e belíssima recordação do já morto momento.
Por isso, meus olhos de agora - os que conheço e estão -, enquanto podem,  captem, e intensamente, todo e qualquer movimento (bom ou mau) a ocorrer - na paisagem que vos sente, entende e dá prazer. Vejam! Sejam! Chorem! Sorriam! Demorem-se...Pisquem!Abram!Fechem!Estagnem! Rebolem! - soltem a meiguice do que vos habita dentro! Libertem o ser que vos faz sentir, a cada segundo, o presente. Amem: até que , por fim, vos tapem  e roubem de tudo o que vos sente."
 (Conceição Sousa)

2 comentários:

  1. Conceição, cá estou digerindo tuas palavras, enquanto vejo ao lado a imagem de ai.como dói. esta dor. Tu és uma autora publicada?

    Abraço

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  2. Sim, Vinicius. Os meus livros estão publicados. Se tiver interesse, envio pelo correio. Faça encomenda para o e-mail mcmgsousa@gmail.com

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