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sábado, 18 de janeiro de 2014

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Estive a comparar um recibo do meu salário de 2010 com o recibo deste mês. Em 2010, começaram por retirar-me o abono dos meus filhos. Depois vieram os cortes de 3,5% e alterações nas retenções na fonte e para o subsistema de saúde da ADSE. Neste mês, aplicaram a taxa de 11, 08% de corte no meu salário. Estamos em 2014, era suposto haver uma evolução na carreira, fui avaliada com excelente e muito bom, fiz inúmeras formações ( que todos os docentes obrigatoriamente têm de fazer na carreira). Tenho uma situação precária, porque tanto posso ser colocada perto como longe de casa - e sem qualquer ajuda de custos. Entretanto, subi de escalão e, vejam só, levei um corte de 300 euros mensais. Medidas que deviam ser transitórias tornaram-se permanentes e a luz ao fundo do túnel desapareceu. Tenho trabalho, felizmente. Mas algumas das minhas contas não podem ser pagas porque há um apetite ditador voraz no coração do meu patrão. Assumi compromissos que não vou cumprir porque nunca me passou pela cabeça que pudessem, aleatoriamente e unilateralmente, retirar-me direitos tão suados. Não haver perspectivas de carreira, traz-me uma grande perplexidade e a questão "deixei de saber quem sou". Todos os cálculos, todos os sacrifícios na infância, na adolescência, na juventude, enquanto adulta, meus e da minha família ( uma humilde), deixaram de fazer sentido. É tudo tão aleatório. E quem, como eu, aprendeu bem a lição da democracia, do direito ao reconhecimento do esforço, do mérito, do direito à prosperidade ( consagrados na Constituição) fica boquiaberto " deixei de saber quem sou". E quando se perde assim a identidade, tudo se desmorona. Se abalam os nossos alicerces, o elo de confiança cidadão-estado, anda tudo ao acaso, do avesso. Ou se tem sorte ou se tem azar. E isto não é vida para quem sempre acreditou no valor do trabalho e na prossecução de objetivos. Levo muita fé de que a Justiça funcione e o Tribunal Constitucional reponha os alicerces da Democracia: o elo inquebrável de confiança entre o cidadão e um Estado de Direito.
Um Estado que é capaz de tratar desta forma tão "sem palavra de honra" o seu cidadão é um Estado que não merece a confiança de ninguém. E até os Mercados devem perceber isto.

Conceição Sousa

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