Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

52*


52*

Hoje, na caminhada de sempre pelos lugares de sempre com os pés de sempre e os horizontes de sempre, decidi fechar os olhos. Ouvi
" Bem-vinda! Finalmente, chegaste."
E, de repente, a pele o calor da ventania a escancarar a porta d...a pele. A volta de chave na fechadura, cerrar os olhos, a pele, a porta que sempre ali esteve sem que a visse, abrir os olhos, fechou-se, sumiu-se, cerrar os olhos, nova volta de chave na fechadura, a pele, e o empurrão do vento a lançar-me num salto dentro
" Isso, adiante, é p'ra frente! Vamos juntos, como sempre, eu levo-te."
Abrir os olhos, fechou-se, sumiu-se, não há, cerrar os olhos, mais uma volta de chave, a porta, a pele, o conforto dos teus ombros fortes nas minhas omoplatas, cercas-me as pálpebras com o afago do esvoaçar do meu próprio cabelo, as tuas mãos a conduzir, a cobrir os meus olhos, o teu beijo ao de leve na minha boca (um ligeiro formigueiro em redor dos meus lábios), o teu sopro na minha nuca, e o suspiro sibilante no meu ouvido esquerdo, uivas
"Amo-te. Já me vês, agora?"
Sim.
Abro os olhos, não estás. Fecho os olhos, nunca deixaste de estar. A chave. A porta. A pele.
Aos olhos foi incumbida a tarefa da distração. Ver é outra coisa.

Conceição Sousa

Sem comentários:

Enviar um comentário