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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

sentir-te, ó minha cidade

Sentir-te, ó minha cidade, nos pés descalços
que correm um rio de suor inocente,
monte deslizante em folhas vencidas pelo tempo
e galhos quebrados pelos sonhos íngremes das intermináveis horas.
Sentir-te, ó minha cidade, nos pés fustigados,
encosta de rochas transpiradas pela água da vida
e poços verdoengos onde chapinham girinos à sua sorte
e larvas de homens que desconhecem ainda o seu gigante.
Sentir-te, ó minha cidade, nos pés gretados,
por debaixo dos saltos altos e das lajes da modernidade,
o pó de cada estio ao crepúsculo a ser desenhado na macaca,
a lama de cada monção de censura a ser surrada no tricolé.
Sentir-te, ó minha cidade, nos pés calejados,
a busca das serpentes enroladas nas bermas do carreiro,
o estalar de língua no rubro dos sinos em flor,
as badaladas exatas de cada chegada e partida de estação -
sempre acocorada nos braços estremunhados de uma alva avó.

(F)
 (Conceição Sousa)

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