11* Diz-lhes
Diz-lhes que deviam ler ou reler mais livros para crianças. Diz-lhes que não é fácil escrever para crianças. Diz-lhes que não é fácil reabrir todas as portas e janelas e voltar lá, à simplicidade da infância. Diz-lhes que há todo um imaginário que resiste à volta da chave. Diz-lhes que leva muito tempo a relembrar como era. Diz-lhes que a criança continua lá, adormecida, nos confins da arca do tempo, a aguardar o tilintar da fechadura, o brinde do sol. Diz-lhes que é frio só porque querem que continue a ser frio, porque se esqueceram de brincar diariamente com as crianças adormecidas dentro de si. Diz-lhes, aos adultos, que deviam ler ou reler mais livros para crianças para que se lembrem da inocência dos dias e das horas; da alegria que se tem na partilha das quedas, no surrar dos rostos e dos pés, no ver um animal lamber uma ferida. Diz-lhes, aos amnésicos crescidos, que deviam ler e reler mais livros para crianças para que retornem à essência de um toque; à gargalhada de uma viagem de carrocel; ao lacrimejar colectivo da tristeza de um que se torna viral no coração de todos - e cada um chora mais alto do que o outro no seio de uma corrente de abraços. Diz-lhes, aos cerimoniosos grandes, que deviam ler e reler mais livros para crianças e remarcar nas suas agendas como prioritário o retorno à sua infância; cumprir com toda a sua vida tudo o que cresceram a ouvir, mas apagaram-se.
Conceição Sousa
Diz-lhes que deviam ler ou reler mais livros para crianças. Diz-lhes que não é fácil escrever para crianças. Diz-lhes que não é fácil reabrir todas as portas e janelas e voltar lá, à simplicidade da infância. Diz-lhes que há todo um imaginário que resiste à volta da chave. Diz-lhes que leva muito tempo a relembrar como era. Diz-lhes que a criança continua lá, adormecida, nos confins da arca do tempo, a aguardar o tilintar da fechadura, o brinde do sol. Diz-lhes que é frio só porque querem que continue a ser frio, porque se esqueceram de brincar diariamente com as crianças adormecidas dentro de si. Diz-lhes, aos adultos, que deviam ler ou reler mais livros para crianças para que se lembrem da inocência dos dias e das horas; da alegria que se tem na partilha das quedas, no surrar dos rostos e dos pés, no ver um animal lamber uma ferida. Diz-lhes, aos amnésicos crescidos, que deviam ler e reler mais livros para crianças para que retornem à essência de um toque; à gargalhada de uma viagem de carrocel; ao lacrimejar colectivo da tristeza de um que se torna viral no coração de todos - e cada um chora mais alto do que o outro no seio de uma corrente de abraços. Diz-lhes, aos cerimoniosos grandes, que deviam ler e reler mais livros para crianças e remarcar nas suas agendas como prioritário o retorno à sua infância; cumprir com toda a sua vida tudo o que cresceram a ouvir, mas apagaram-se.
Conceição Sousa
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