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Quando me dizem " Falamos muito em ti lá em casa, Conceição.", sinto um misto de susto e de felicidade. Normalmente, o susto ocupa um espaço maior dentro de mim - " é tanta a responsabilidade", penso -, e tenho tendência para me esconder, para não mostrar mais, dado que assim deixo de invadir lares. Não vou ser falsa modesta, é lógico que tenho noção do impacto, apenas se não mo relembrarem, esqueço. Escrevo porque é o meu dia-a-dia, escrever ( sempre foi) - só que agora há o facebook e a tecla do publicar- e continua a ser o meu dia-a-dia, e passou a ser o vosso também, o nosso. Ainda me assusto quando percebo que é mais nosso do que meu, ainda fujo, ainda me escondo... Dizem-me " Fico uns minutos a pensar. Abres, ali, umas perspectivas diferentes. Sinto-me mais aliviada, mais feliz", e eu volto, venço o medo, venço a reserva, e volto sempre. Não prometo que continue a voltar sempre. Há quatro anos que não o prometo, mas vou ficando e vou voltando e vou gostando. Não me digam que as pessoas inseguras não são fortes. Não me digam que as pessoas inseguras não são de confiança. As pessoas inseguras são as mais fortes, as mais confiáveis, as mais vencedoras de medos, porque vão e vêm, vêm e vão, lutam e tentam. As outras, as que se arrogam de certezas, nunca foram nem nunca voltaram, nunca venceram medos, nunca sairam do lugar: não sabem o que são dificuldades, o que é temer por si e pelo outro, o que é o respeito e a coragem. Só conhecem o lugar seguro e confiável da ignorância, do egocentrismo e da falência da auto-sabedoria. Não buscam o outro, no outro, em si - nem querem buscar. Aguardam toda a vida, no mesmo lugar, que tudo venha ao seu centro: melhor, com certeza - pensam eles -, do que todos os ignorados centros dos outros.
Sou insegura, sim; sou temerária, sim; sou complicada, sim; sou profunda, sim; invado lares, sim; faço muita gente feliz, sim; fazem-me muito feliz, sim; sou confiável e bondosa, sim; e tenho a mania de etiquetar com prioridades várias todos os amores à minha volta; e tenho a mania de pensar que tenho todo o tempo do mundo e " se hoje não estou p'ra ti, estarei amanhã, já te tenho colado na porta do meu frigorífico". E não tenho culpa de só me sentir bem a amar os outros: é assim que me amo a mim.
Conceição Sousa
Quando me dizem " Falamos muito em ti lá em casa, Conceição.", sinto um misto de susto e de felicidade. Normalmente, o susto ocupa um espaço maior dentro de mim - " é tanta a responsabilidade", penso -, e tenho tendência para me esconder, para não mostrar mais, dado que assim deixo de invadir lares. Não vou ser falsa modesta, é lógico que tenho noção do impacto, apenas se não mo relembrarem, esqueço. Escrevo porque é o meu dia-a-dia, escrever ( sempre foi) - só que agora há o facebook e a tecla do publicar- e continua a ser o meu dia-a-dia, e passou a ser o vosso também, o nosso. Ainda me assusto quando percebo que é mais nosso do que meu, ainda fujo, ainda me escondo... Dizem-me " Fico uns minutos a pensar. Abres, ali, umas perspectivas diferentes. Sinto-me mais aliviada, mais feliz", e eu volto, venço o medo, venço a reserva, e volto sempre. Não prometo que continue a voltar sempre. Há quatro anos que não o prometo, mas vou ficando e vou voltando e vou gostando. Não me digam que as pessoas inseguras não são fortes. Não me digam que as pessoas inseguras não são de confiança. As pessoas inseguras são as mais fortes, as mais confiáveis, as mais vencedoras de medos, porque vão e vêm, vêm e vão, lutam e tentam. As outras, as que se arrogam de certezas, nunca foram nem nunca voltaram, nunca venceram medos, nunca sairam do lugar: não sabem o que são dificuldades, o que é temer por si e pelo outro, o que é o respeito e a coragem. Só conhecem o lugar seguro e confiável da ignorância, do egocentrismo e da falência da auto-sabedoria. Não buscam o outro, no outro, em si - nem querem buscar. Aguardam toda a vida, no mesmo lugar, que tudo venha ao seu centro: melhor, com certeza - pensam eles -, do que todos os ignorados centros dos outros.
Sou insegura, sim; sou temerária, sim; sou complicada, sim; sou profunda, sim; invado lares, sim; faço muita gente feliz, sim; fazem-me muito feliz, sim; sou confiável e bondosa, sim; e tenho a mania de etiquetar com prioridades várias todos os amores à minha volta; e tenho a mania de pensar que tenho todo o tempo do mundo e " se hoje não estou p'ra ti, estarei amanhã, já te tenho colado na porta do meu frigorífico". E não tenho culpa de só me sentir bem a amar os outros: é assim que me amo a mim.
Conceição Sousa
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