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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

As sombras

Hoje, olhaste-me com mais cuidado.
Senti-te precisado.
Senti-te desamparado e precisado do meu abraço.
E eu quis olhar-te com mais cuidado.
Ai!, como quis olhar-te com mais cuidado.
Tu sabes que, mesmo não me demorando naquele olhar,
mesmo de cabeça baixa e pálpebras cerradas,
te apertei nos meus braços.
Tu deste-me o teu peito naquele olhar
e eu beijei-te o rosto todo.
Beijei-te o rosto todo no nosso inquebrável silêncio.
Sempre que nos fechamos as pálpebras ao de leve,
o ombro sobe;
são braços em que nos abrigamos do frio,
são beijos que restolhamos nas dores que não merecemos.
Contamos um ao outro a vida, as alegrias também.
Contamos um com o outro.
Abdicamos dos corpos.
Sabemos que a felicidade existe:
é quando silenciamos a carne,
é quando cerramos as pálpebras,
a luz entra e o corpo aquece.
E tu sorriste, cabeça baixa.

E eu desembrulhei-te.
E deixei-te ir: o meu presente.
Sempre mais forte do que quando chegas.
As sombras vivem-se, amam-se, e são felizes.

Se não, pensa:
por que razão existem as sombras?
(F)

Conceição Sousa


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