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sábado, 24 de maio de 2014

6* Por amor?

6*
Por amor?
Toda a minha vida escutei esta pergunta:
– O que serias capaz de fazer por amor?
(Tudo?)
Questionava “Tudo?”, mas será que?... 
Uma réstia de dúvida, nada de muito significante, nada de muito significante.
Há pensamentos difíceis, sensações extremadas que não devem nunca ser soltos. Intuem-se, sabem-se, guardam-se e reza-se para que nunca aconteça aquela circunstância, aquela intersecção do acaso que accione a necessidade: tudo?
Um filho.
Um filho que nasce de nós. Um filho que, sôfrego, abocanha o mamilo e sossega. Um filho que dobra o choro e sente os dedos a acalmar as cólicas: silêncio. Um filho que baba a urticária da dentição e rói o queixo até à exaustão. Um filho que enrola as letras na busca do colo. Um filho que cambaleia pela casa e balança o equilíbrio por entre os nossos braços.
Um filho.
Um filho que procura pela cadela que já não está. “É hoje que volta do veterinário, mamã?”
Um filho que olha para o ninho e olha p’ra mim: não fala, olha, indaga, percebe.
Um filho que diz que dói o braço e tu ouves “ vou morrer como a cadela, mamã?”
Um filho que procura pela avó que não está. “ É hoje que volta do hospital, mamã?”
Um filho que olha para o avental e olha p’ra mim: não fala, olha, indaga, percebe.
Um filho que diz que dói a barriga e tu ouves “vou morrer como a avó, mamã?”
Um filho a quem tu tocas e perguntas “ Doeu? Iupiiii! Parabéns! Estás vivo!”

Quando um filho precisa, a hora é sempre a certa.

 – O que serias capaz de fazer por amor?

Quando um filho precisa, a hora é sempre a certa.

Quando um filho precisa, a hora é sempre a certa.

Conceição Sousa

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