9*
Só porque tu
Acredito nesta vontade que passa de mim para ti e de ti para mim.
Acredito no silêncio quando a porta se tranca no limite da fúria indomável.
Acredito nas lágrimas que tecem o rebordo do que se quer enlaçar mas não encontra o ponto de amarra, apenas de elos que se encandeiam na direção da cabeceira extenuada.
Acredito na voz do que nos roga um caminho e nos dita reinícios atrás de reinícios, em cada ranger de madeira, em cada sussurro de “diz-me… diz-me…”, dedos a comprimir bocas extasiadas, incansavelmente a saliva “diz-me…”
Acredito nos teus braços quando me soltas o cabelo e seguras os olhos, à luz de velas, guardião do nosso templo, ao sabor do incenso indiscreto.
A vergonha fugiu quando lhe dissemos que há luzes a dar horas em despertadores que não se apagam. De duas em duas tacadas quiseram acordar-nos, ingénuos… Como se acorda a insónia dos amantes?
E foi às apalpadelas que os lençóis granulados nos embrulharam. A ternura é doce, sabias? Tivemos de sacudi-la. Há instantes que exigem ferocidade. E nós somos arrebunhar lento de roupas dispersas e rasgos calejados. Resgatámo-la em pleno voo e trouxemo-la para a nossa almofada, não sem antes lhe ensinarmos o depenicar dos pombos, desde o sacro até ao nunca, via lacrimal no despudor das nossas costas.
Acredito nos teus braços quando me soltas o cabelo, sabias?
E me seguras os olhos.
Há um beijo que me dedicas de cada vez que te cubro de nós, só porque tu, só porque tu…
E pergunto mil suspiros em que esplanada desertaste o orgulho.
“Leva já longas férias, velhinha…”, respondes de língua comprometida, a torcer o rubro de um mundial que ninguém esquece, embora todos ignorem. Abraças-me. E adormeces na minha nuca o sono dos felizes.
Respeito o nosso sorriso.
Acredito que todas as mágoas trabalham no indizível e servem o amor que cresce no silêncio das barbas grisalhas. Acredito que o que não se explica é a resiliência, nascente de um imparável rio.
Conceição Sousa
Só porque tu
Acredito nesta vontade que passa de mim para ti e de ti para mim.
Acredito no silêncio quando a porta se tranca no limite da fúria indomável.
Acredito nas lágrimas que tecem o rebordo do que se quer enlaçar mas não encontra o ponto de amarra, apenas de elos que se encandeiam na direção da cabeceira extenuada.
Acredito na voz do que nos roga um caminho e nos dita reinícios atrás de reinícios, em cada ranger de madeira, em cada sussurro de “diz-me… diz-me…”, dedos a comprimir bocas extasiadas, incansavelmente a saliva “diz-me…”
Acredito nos teus braços quando me soltas o cabelo e seguras os olhos, à luz de velas, guardião do nosso templo, ao sabor do incenso indiscreto.
A vergonha fugiu quando lhe dissemos que há luzes a dar horas em despertadores que não se apagam. De duas em duas tacadas quiseram acordar-nos, ingénuos… Como se acorda a insónia dos amantes?
E foi às apalpadelas que os lençóis granulados nos embrulharam. A ternura é doce, sabias? Tivemos de sacudi-la. Há instantes que exigem ferocidade. E nós somos arrebunhar lento de roupas dispersas e rasgos calejados. Resgatámo-la em pleno voo e trouxemo-la para a nossa almofada, não sem antes lhe ensinarmos o depenicar dos pombos, desde o sacro até ao nunca, via lacrimal no despudor das nossas costas.
Acredito nos teus braços quando me soltas o cabelo, sabias?
E me seguras os olhos.
Há um beijo que me dedicas de cada vez que te cubro de nós, só porque tu, só porque tu…
E pergunto mil suspiros em que esplanada desertaste o orgulho.
“Leva já longas férias, velhinha…”, respondes de língua comprometida, a torcer o rubro de um mundial que ninguém esquece, embora todos ignorem. Abraças-me. E adormeces na minha nuca o sono dos felizes.
Respeito o nosso sorriso.
Acredito que todas as mágoas trabalham no indizível e servem o amor que cresce no silêncio das barbas grisalhas. Acredito que o que não se explica é a resiliência, nascente de um imparável rio.
Conceição Sousa
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