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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Nosso Agregado Familiar 31.12.2010

A Saúde...é minha convidada,
Mora neste lugar.
Por vezes, foge, assustada,
Não quer regressar.
Eu peço muito,
Rezo atordoada,
E sem contar,
Ela retorna ao lar.

O Amor...é meu convidado,
Mora neste lugar.
Por vezes, sai, zangado,
Evita falar.
Eu vou lá buscar.
Embora, amuado,
Volta a entrar.
Digo-lhe "É este o teu lugar!"
Num beijo sinto-o amar.

A Tranquilidade...é minha convidada,
Mora neste lugar.
Tem dias, em que, acanhada,
Esconde-se, a chorar.
O desespero é grande
E tudo a perturba.
Continuo a procurar.
Mostro que a quero,
Que tem de lutar.
Com calma aparece,
Sorrindo, liberta,
Vem me abraçar.

A Fé...é minha convidada,
Mora neste lugar.
Chegou para ficar,
Tímida e calada,
Nem damos por ela.
Por vezes, sem a notar
E de mundo embriagada,
Esqueço de alimentar.
Mas quando preciso,
Ela dá-me aconchego
E mimando-me...
Deixa-se estar.

É este o nosso agregado familiar.

(de  Conceição Sousa )


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ocupados com o "nada"

Andamos todos demasiado ocupados
 com o "nada"
 para escutar o grito de desespero
 do "estar",
 por vezes, do nosso...
podemos estar rodeados
 de mil e um afazeres,
de mil e uma pessoas...
é quando a "noite" cai,
 que a solidão e o vazio
 nos servem de lençóis .
 De que vale o existir,
 se um gesto de afago,
 quando dado,
não se deixa afagar ?
De que vale o "estar"
 se há tanta falta de "toque"
 no amar?
 É só um instante,
 parar de "nadar"...
 e direccionar
 das aparências a época
 para a real vontade
de autenticar o amar.
 Haja mar !

(de Conceição Sousa )

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Shooting star by Conceição Sousa


Upon shooting stars I look
Wishing them to be quiet and still
Wondering where is my Captain Hook
Longing to say what I truly feel
Disappointed I keep asking myself
Whether my "being" is an awkward one
Lately all seem to put me on a shelf
Or accusing me of wrongly done
The black hole opens before the existence
Inviting her to jump into sleep
Temptation is huge and hard the surveillance
Of fighting for justice...it's just a leap...

(by Conceição Sousa)

domingo, 26 de dezembro de 2010

Heart Loan by Conceição Sousa

Senses is she in the valley of shadows
Touching her bones and mighty deep scars
Aching the pains of the dead in the meadows
Sewing the thread of life up till Mars
Ashes in forests she finds all alone
Home is a concept completely awaken
Endeavours the spirit of a heart loan
Light and magic are spread and mistaken
Enchantment arises in a full Moon
Neverending stories are coming soon
Characters mischievous enlighten the power
Hosts are considered, in hotels remain
Respectful leaders speak up in the tower
Inflicting confidence the love they sustain
So now she believes, and frightens her pain.


( by Conceição Sousa)

sábado, 25 de dezembro de 2010

Desengane-se 25.12.2010

Desengane-se quem pensa
Que estamos aqui por acaso
Em tudo se observa presença
Do ser que nos dá o braço.
As pontas outrora soltas
Juntam-se na perfeição,
Era preparado o caminho
E dele nos mostra a mão.
A dor tem uma lógica
Que aguarda percepção,
Há que ter paciência
Um dia será a hora
Da devida compreensão.
A cruz e os espinhos
Fazem parte da demanda
Sem sofrimento que doi
Imperceptível é a estrada
E o Amor não entra nem sai.
Há um fado traçado
Um tempo destinado
Ao amadurecimento...
Do verde ao amarelo
Retém-se o momento.
Mas aquele que sabe
Está sempre lá
Vê sem ser visto
Por vezes, mostra-se cá.
E as portas vão se abrindo
Tudo fica mais claro
Tranquilos compreendemos
A lógica do existir.
O Amor que nos faz falta,
Que tanto nos permite sorrir
É uma pequena amostra
Da alma a eternidade,
E a prática do Bem
É a única verdade.
Eco e Reflexo
Som e Espelho
O que damos ao universo
Regressa, mesmo velho.
Mais dia, menos dia
Cá ou lá
Vivos ou mortos
O retorno teremos,
E neste ciclo luz/sombra
Encaixaremos.
É como um parto
E as dores menstruais
Tanto receio temos
Do momento da parição,
Mas quando chega a hora
Descobrimos perplexos
Que dessa já tínhamos laivos
Não é assim tão complexa.
E o receio apaga-se
Dá lugar à felicidade
À bênção de um nado
Ao Amor gerado.
Tudo o que dói tem sentido
Esse o de gerar Amor
É só ser um pouco paciente
E aguardar Dele o sabor.

(de Conceição Sousa )

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Lançamento do livro "Eu ou Ela ?" em 15.12.2010

Foi, está a ser, é e será... um momento inesquecível !
Obrigada a todos aqueles que me brindaram com a sua presença !
Espero ter correspondido às expectativas.
Com carinho
Conceição Sousa.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"Penso que minto" 31.08.2010

Choro o remorso de um egoísmo nato,
Sangro na iminência do derradeiro acto.
Esboço um sorrir em memórias com cheiro,
Penso que minto quando conto por inteiro.
Pormenorizo em detalhe a questão adiada,
Consinto no ponto a resignação datada.

Pedes-me con(dor) um beijo de fé,
Mimas teus lábios em jeito de até .
Atreves a dúvida em súplica existencial,
Silencias-te conceito e descobres-te mortal.
Confrontas-te humilde anjo perdido,
Atemorizas um adeus em aceno contido.

Busco alento no olhar apagado,
Amo a infância no corpo cansado
Exijo-a de volta, de regresso à lida
Sonho-a feliz e repleta de vida.
Anseio o divino, o milagre do bem
Rezo, segundo (a segundo), (a)o ventre de minha mãe...


 ( de Conceição Sousa )

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"Francisco" in "Eu ou Ela?"

Premiaste o universo com tua semente
Abalaste o deserto a caminho do ventre
Usurpada escorregas na dor do insano
Lastimas a usura do sonho profano
Aceitas o fado abraçando o menino
Libertas o estado em defesa do mimo
Uivas solene no teu eremítico recanto
Rematas o torpor que te causa o pranto
Divagas confusa longas horas a fio
Esqueces-te de ti e matas o temido cio
Síndrome de Down dizem-te com desdém
Amparas a angústia do que aí vem
Respeitas a mente do corpo franzino
Mudas as fraldas moendo o destino
Ajeitas  a roupa em teu nado crente
Nomeias palavras em ânsia demente
Desdenhas olhares vidrados  ferida
Abandonam teu filho com ar de fingida
Contemplas perdida teu rosto de mãe
Ofereces em manto invisível teu bem
Numeras os dias, os meses, a lua e o chão
Confortas  demais quem come teu pão
Enfeitas nosso mundo de paz e amor
Imerges no lago do acaso  em suor
Cativas teu filho em calor desprendido
Aluis perante ele e seu sorriso querido
Oras sua existência e agradeces a data
Em que foi concebido e to deu a bata!

(de Conceição Sousa )

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ode à Mulher in "Eu ou Ela ?"

Simples, contida é esta mulher
Ama a vida e sabe o que não quer
Levanta o ânimo dos que a escutam
Enfrenta o pânico daqueles que lutam
Tece o bem em linha de renda
Testa o desdém de quem está à venda
Emenda, emenda e emenda...
Atura paciente a dor alheia
Remata contente na hora da ceia
Morde a injustiça e apega-se às letras
Age sem pena, não tolera tretas
Nasce a cada dia, embora sempre lá
Duvida por norma, mas permanece cá
Acalma, acalma e acalma...
Nada como peixe no rio do dó
Anima assim mesmo na garganta o nó
Tudo sonha e tudo perde
Aspira o chão mas até esse cede
Lastima a vida que não teve
Inflige nos queixosos o poder da resistência
Ataca, ataca e ataca a neurótica anuência
Afasta íntegra o lado negro do estar
Lança de luva branca o verbo amar
Inspira, na perfeição, o dar a outra face
Canta alegre os momentos em que renasce
E cresce, cresce, cresce...
Encaixa o dom de saber ser
Lapida no espírito um toque de mulher
Intui no porte daquele que sabe
Sofre pelo outro sem fazer alarde
Actua, actua e actua...
Cativa pela constância do doce lidar
Usurpa o trabalho que não quer o par
Sustenta no doméstico  a aura do coração
Torce o estendal da eterna devoção
Oferece a mão-de-obra no aspirar da alma o pó
Desvenda no brunir um acarinhar do que está  só
Incrusta no espírito a receita do incondicional Amor
Amamenta, amamenta e amamenta todo o tipo de dor...

( de Conceição Sousa)

domingo, 28 de novembro de 2010

"Ao tempo um prazo " in "Eu ou Ela?"


Concedo (a)o tempo mudo um prazo
Demarco neutro um ábio território
Ordeno a renúncia ao vil ocaso
Imponho a pausa do abonatório
Careço humilde d’ aborígene reflexão
Abafo o fôlego importuno da vitalidade
Mereço um hiato em cada ponderação
Abjugo a essência …pura saudade!

Aviltas-te de ti e do ânimo vigor
Abandalhas o espaço enérgico dado
Enxovalhas a morte em ténue torpor
Difamas a azáfama inerte do fado
Presumes-te (De)idade no atalho veloz
Relaxas os ímpetos mortais, mentes.
Sussurras gritando embargo na voz
Sabes pois que a derrocada consentes.

Aborto a rampa da pretensa solidão
Contemporizo as tréguas do Cáucaso triste
Compactuo na barragem finda contenção
Efervesço no olhar de tudo o que existe
Estremeço um passo na berma da estrada
Sei que espreito o rio menear em seu leito
Censuro-me na ode do tudo e do nada
Babo e choro na lama onde me deito.

Resignas-te enfim aos imediatos sentidos
Apeias-te descalça nas águas te molhas
Acatas o toque (a)o som dos gemidos
Conformas-te rugir do vento e das folhas
Tempo ao tempo não podes ablactar
Nem tempo ao tempo ousas sequer abonar
O mais em que arriscas insana arpoar
É junto ao afago das pedras humana desaguar.

 ( de Conceição Sousa )

O Fim ( 27.11.2010)

Por vezes sinto a morte chamar
Em pânico meu peito aperta
Resignada ao instinto do Tudo acabar
Gelo na consciência da cova desperta
Apática nas cinzas estremeço...fria
Por mais Tempo o que daria ?
Aconchego, Afecto, a Alma
Parece-me que Não.
Em que ficamos então ?
Acordo sufocada em suor
Adormeço estremunhada enfim
Só o Amor apaga esta dor
A dor intuída do fim em mim!

( de Conceição Sousa )

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ecodalma: "Ode à Mulher" (01.09.2010)

Ecodalma: "Ode à Mulher" (01.09.2010): "Simples, contida é esta mulher Ama a vida e sabe o que não quer Levanta o ânimo dos que a escutam Enfrenta o pânico daqueles que lutam Tece..."
Lançamento do livro "Eu ou Ela?" da autoria de Conceição Sousa, ilustração de Dária Dzyuba, nos dias:

14 de Dezembro, a partir das 21h, no Auditório da Biblioteca Municipal Raul Brandão em Guimarães.

15 de Dezembro, a partir das 21h, na Biblioteca da Escola EB2,3/S Santos Simões em Guimarães
( neste local é necessária inscrição através do número 253439090)

Aguardo a vossa companhia. Saudações !

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O vazio...

O vácuo, o vazio, está frio
O tédio, no rio, confio
A seca, aborrece ,acontece
A culpa, a dor, esquece
É monótono, adormece
É pálido, falece
É oco, encolhe
É cinzento, escolhe
Empurra, descansa
É nada, difuso
Na estrada barragem
Sem água na margem
É negro confuso
É buraco sem fundo
Descrença no mundo
É tudo !
Tem dias...
Confias ?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Porquê "Ecodalma" ?

"Ecodalma"...tal como ecológico está para o ambiente "ecodalma" está para a natureza da alma. Só ecoando, ou reflectindo (este último,  acto de pensar sentindo e de observar em efeito de reflexo) é que preservamos e dignificamos a essência da nossa alma, da nossa luz, da nossa escuridão. Ecoar pressupõe a noção de retorno e reflectir obriga-nos a enfrentar o espelho. Ecoar o som instrumental que resulta da "vibração das cordas" que percorrem as várias dimensões (dizem alguns que são onze) do que é visto e do que não é perceptível ao olhar humano. Sim...porque temos de pressupor que não somos detentores de todo o conhecimento.  Mas como dizia, a vibração das cordas, qual instrumento musical, causa a todo momento um impacto ondulante em tom de avalanche nas estruturas físicas e outras, atinge o âmago do nosso ser/estar a toda a hora e é reflectida para o cosmo já como parte apenas do eco inicial.  O que  se ecoa em som/silêncio e reflecte em luz/escuridão retorna pelo mesmo trajecto. O tempo dita o momento da devolução, que pode ser de dádiva ou não...
Em linguagem simples e directa, se partilhares Amor, Verdade, Coerência e Respeito a ti mesmo/a, essa vibração que por ti passa, a ti regressa. Se a barrares na tua alma e abafares esse eco no vale da dor, ele dificilmente retornará a ti como tu o desejas, virá sempre como reflexo do que mostras. Se alterares a forma do eco e o relançares em invólucro de Ódio, Mentira, Incongruência e Desonestidade relativamente a ti mesmo/a, sentir-te-ás, a dada altura perdido/a no seio de uma série de sons confusos e ruidosos e imagens desfragmentadas, compreenderás a dificuldade de te encontrar a ti próprio/a, à parte que ocupas no eco oriundo da voz prima, a criação.
Por vezes, as cordas, que também somos todos nós, desafinam, o reflexo na água é turvo, mas se estivermos atentos aos sinais e quisermos, a afinação e uma imagem límpida da essência de cada um/uma são novamente possíveis...aí dá-se o nosso renascimento enquanto divindades, e no nosso percurso de vida renascemos várias vezes.
"Ecodalma" porque quanto mais a ecoarmos em profundo respeito a si mesma, mais a preservamos, mais a divinizamos, mais próximos estamos de nós, em íntimo acto de aconchego e constante afecto. E embora o processo vá sendo doloroso, é sem dúvida, neste momento, a meu ver, a maneira de caminharmos mais tranquilos e mais felizes nesta estrada que é a vida. Tentarei ecoar e reflectir o que vai na minha alma, primeiro por mim mesma, depois porque, embora saiba que muitos/as não têm a sua atenção direccionada para estes lados do existencialismo ou da filosofia, ou de outra coisa qualquer que lhe queiram chamar, há outros/outras a quem realmente estas palavras dizem algo ( desculpem a presunção), e para mim é importante partilhá-las ! Por fim, porque gosto mesmo muito de escrever...deliciem-se ( se for caso disso) !

Com carinho Conceição Sousa

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O cálice

Entre muitos textos que tenho lido neste percurso terreno retive algumas idéias...por talvez estarem próximas de circunstâncias de vida muito específicas. O facto de ter nascido mulher, no ano de 74, em Portugal...o facto de ter vivido toda uma vida numa cidade pequena que foi crescendo, alargando os seus horizontes, e que se foi transformando, renascendo, como eu...a circunstância de ter conhecido de perto a doença, e encarar a morte na pele de uma irmã ao entrar na fase da adolescência... cair assim abruptamente à porta de um outro mundo, sonhando a infância feliz, descalça e despreocupada como uma história imaginária lá longe, muito longe...a luta pelo reconhecimento como ser com direito a tudo de forma inata sem ter de pedir licença e  desculpa por existir e por ser mulher.  O "Santo Graal" e a demanda do rei Artur por aquele cálice de vida, o segredo valioso da existência que mais tarde Dan Brown descreve como tendo a forma do ventre feminino, o sagrado feminino...o "Santo Graal", o cálice, o útero, a resposta, o amor...gerar vida, refrear a morte, renascer. O cálice, o ventre, símbolos do acto de fé, de que com amor geramos essa benção que é "viver", com amor permitimo-nos renascer ...não esqueçamos o sagrado masculino, pois virando o cálice ao contrário o ciclo fecha-se e fica completo, temos assim a ampulheta do tempo onde as areias da existência se movem e agitam e o masculino dá lugar ao feminino e o feminino ampara e cai sobre o masculino...indefinidamente....

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Arriscar ir mais além...

Tantas vezes me privo de fazer o que tenho vontade por recear o desconhecido...mas, pensando bem, compreendo agora os nossos navegadores quinhentistas que, apesar de desconhecerem o que estaria para além mar, para além daquela imensidão de água , em que o horizonte, por muito que se navegue, está sempre longe, arriscaram ir mais além ! Há um momento ou vários na nossa vida em que pensamos : "- Porque não ?" E vamos à luta. Não adianta ficar à espera, aguardar... se queremos muito algo, temos de ser nós os empreendedores, temos de ser nós a desbravar caminho, ninguém o fará por nós. Mas é certo que quando observam a nossa força, o nosso acto de fé, essa onda contagia quem nos rodeia e somos ajudados um pouquinho aqui, um bocadinho ali, e a linha do lápis, em vez de se esbater, começa a ser reforçada pela tinta da caneta, e o traço apresenta-se forte e decidido, sem tremuras. O meu desenho está praticamente completo, e o mais interessante, é que deixou de ser meu e passou a ser nosso ! Obrigada.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

"Quando tem de ser"

Quando tem de ser
Tem de ser
Não há nada a fazer
Cerramos os dentes
E olhamos p'ro céu
Enfrentamos o bréu
Fechamos os olhos
Por breves segundos
Contemplamos fundos
Marcamos presença
Sem lá querer estar
Sonhamos a ausência
Vazios no olhar
Já está...

domingo, 7 de novembro de 2010

"Labirinto" (10.05.1996) / Labyrinth

Labirinto…
Olho em várias direcções
Faíscas de alvos que não o são
Levanto as mãos….
Um som arredio retrai-me
Olho para trás…nada vejo.
Torno a levantar as mãos.
Meus pés colados ao chão.
Para trás não consigo ir
Para a frente também não.
Olho em várias direcções
E não sei qual seguir
Elas não olham para mim.
Por vezes aparentam retorquir
Mas de imediato se tornam em vão
E eu continuo…
Colada ao mesmo chão.

( de Conceição Sousa )


Labyrinth...

I look into several directions
Sparks of targets which are not targets
I raise my hands...
A withdrawn sound contracts me
I look behind in that direction...nothing can I see.
And again I raise my hands.
My feet are stuck into the ground.
Backwards I cannot go.
Forwards I cannot move.
I look into several directions
And I don't know
Which of them to follow
They don't look at me
Sometimes they seem to whisper...
But immediately they disappear.
And there I remain
Stuck into the same ground.

(by Conceição Sousa)

sábado, 6 de novembro de 2010

Se eu fosses tu ?

Quando alguma atitude ou alguma palavra me parece desadequada ou incompreensível
Eu penso " Se eu fosses tu ?"...
Durante algum tempo imagino-me tu, levanto-me tu, raciocino como tu, visualizo os teus diapositivos de vida, laboro no teu local de trabalho ou na falta dele, tenho as tuas doenças ou a ausência delas, tenho os teus filhos ou a ausência deles, amo o teu marido ou a tua esposa ou ninguém em especial, adquiro os teus vícios e interiorizo as virtudes, visto a cor política ou a falta dela, pratico a religião ou não, deito-me tu, sonho-me tu, amo-me tu...faço as devidas contas +-x/+-x/+-x/... e 99% dos casos a atitude passa a ser adequada e a palavra compreensível...modero-me e arrumo o assunto por ali ! Circunstâncias de vida ! Cada um tem as suas e não podemos colocar na mente dos outros o nosso raciocínio...se assim for ficaremos sempre desiludidos, garanto !

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ainda sobre o silêncio dos outros

Estar convencido de que
não vale a pena
a consciência mostrar
e contra as injustiças lutar,
impotência...
Estar proibido de
a opinião revelar
ou de os sentimentos espelhar,
prepotência...
Achar por bem
sensatamente
a voz não usar,
sapiência...
Ser impedido
pela morte
de falar,
inclemência...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O silêncio dos outros

A meu ver há cinco razões para o silêncio dos outros (simplesmente porque não me lembro de mais):
gostam tanto de nós, física e intelectualmente, criaram tal imagem no seu cérebro, que nos consideram intocáveis, e , por receio de se desiludirem, ou por entenderem não ser importantes ou até mesmo visíveis( uma questão de auto-estima ) preferem nem sequer se pronunciar e continuam platonicamente com a admiração à distância  ou...as coisas que dizemos e fazemos são idiotices tamanhas que os outros optam, por uma questão de caridade social, por se calar,desprezando interiormente e completamente o nosso ser ridiculamente abjecto ou...na verdade, somos nós os invisíveis e inaudiveis porque, apesar de estarmos ali todos os dias e gritarmos bem alto as nossas alegrias e dores, simplesmente para esses outros não estamos, as suas circunstâncias de vida direccionam a sua atenção para o polo completamente oposto do nosso ou... os outros estão de tal forma embrenhados na sua própria tristeza e dor, sofrimento e depressões,que nem sequer conseguem arranjar forças para se interessar por algo quanto mais por nós e...por fim, a vida desses outros vai tão boa, tão preeenchida, tão feliz, tão arrumada que não precisam de comentar o que quer que seja. São estas as razões do possível silêncio dos outros e do meu !

P.S. Lembrei-me de mais uma : dizerem-nos que "pela boca morre o peixe" !

terça-feira, 2 de novembro de 2010

P'ra quê não viver o real valor do momento ?

Há dias pensei...o que posso fazer,na minha pequenez, para mudar as coisas que não gosto neste mundo? O que posso fazer, no meu cantinho, para que os nossos "rebentos" tenham a perspectiva de uma existência mais tranquila, mais feliz ? Poderia optar por continuar quieta, calada, fingir ser "surda" e "muda", que é bem pior do que realmente o ser ( suponho eu). Um aparte , aqui fica todo o meu respeito por quem de facto é surdo e mudo, pois sei que, por circunstâncias específicas de vida, são, por norma, pessoas excelentes, lutadoras, "vivas", almas que despertam muito mais cedo para a plenitude do ser/estar e contribuem com a sua força para o bem ser/estar geral.
Mas voltemos à questão. O que posso fazer, assumindo as minhas fragilidades ( e tenho muitas) para que as novas gerações e as actuais consigam co-existir num ambiente de maresia iodada serena ? Que tal colocar no ecrã as minhas convicções ? Que tal mostrar ao mundo o ser no qual me vou transformando? Isto porque acredito que os valores pelos quais me pauto não prejudicam ninguém, e , a meu ver, vê-se tanta coisa nefasta escrita e dita por aí que tem que haver um polo sul. Acredito no Bem, no Amor, em Deus...acredito na Partilha, na Dádiva, no Espírito de Inter-Ajuda, no Querer estar Atento, no Contribuir com o espelho da Alma. São orientações que podem até despertar novas realidades no coração de alguns, experimentem... E se esses , em cadeia, assumirem quem "são", talvez consigamos uma existência global melhor...diferente desta assente no "ter, ter, ter, ter" ou no "eu, eu,eu,eu" !
Por isso, perante este magnífico dia de sol ( bem poderia ser de chuva, neve, granizo, nevoeiro, ...) P'ra quê zangas ? P'ra quê amuos? P'ra quê desprezo? P'ra quê ofensas? P'ra quê fingimento? P'ra quê desespero? P'ra quê perder, deitar fora TEMPO? P'ra quê tanto sofrimento? Esplendoroso dia de sol! Estamos vivos !...Respiramos !
Em mim, uma zanga, um amuo, uma ofensa, um fingimento, um desespero duram 5 minutos ! Faço tudo o que posso e não posso para restabelecer a serenidade à minha volta, até porque sei que alguns de nós podem cá não estar no segundo seguinte ! É verdade que , por vezes , o outro não contribui, até complica... O que fazer então ? Ocupar a minha mente com algo de positivo, algo que me dê prazer, nem que seja uma simples caminhada comigo própria. Isto até a tempestade passar ! Quando dou por ela, é mais importante para mim o objecto positivo ao qual decidi dar a minha atenção...tempestade? Alguém falou em tempestade ? E assim vou andando.
Façamos por direccionar a nossa atenção para bem longe do que nos causa dor ou sofrimento. É sempre possivel, nem que nademos num oceano turbulento com a bandeira vermelha sempre lá no alto ! Deixemo-nos ir com a vaga que nos empurra lá para cima, pode ser que, de um salto, aterremos na areia fofa. Por isso pergunto...p'ra quê não viver o real valor do momento! Haja alento !

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Idalina"

E a ternura com que as calejadas mãos
Ajeitam as flores que choram
Aos primeiros raios gélidos de sol...
O coração aperta de saudade
Sorrindo no exacto momento
Em que os olhos petrificam
Aquela imagem junto à lápide
Que já foi sangue e vida...até...

O cântaro na cabeça amparado
Por um pano húmido bem dobrado
O pé encaixa um soco fugidio
Os cabelos enrolam em toco arredio
A anca que balança cima-abaixo
O estrugido a aguardar no preto tacho
A cebola em sal grosso e azeite
Passo ligeiro e branca rede de enfeite
Amendoins amolecidos pelo tempo
E o som gemido do combóio leva o vento
Uhuhuuuuuuuuuuuuuuu....

( de Conceição Sousa )

domingo, 31 de outubro de 2010

E porque é hora de “celebrar”com saudade os que já foram "vivos" … HAJA FÉ !

Não és fraca se recuas nas tuas resoluções. É porque tinha de ser assim; e mesmo quando sentes que é forçado o teu comportamento, que não é natural; é porque também já tinha de acontecer assim.Aqui, na terra, há um nascimento, uma evolução e um fim;há uma realidade que conhecemos, ou que pensamos que dominamos, mas na verdade somos "marionetas" numa linha já traçada - rumo a um desfecho desconhecido para nós, mas compreendido e objectivado pela "Energia",”Deus”,”Deusa”, “Divindade”(ou o que lhe queiram chamar) que tudo criou. Acredito que somos constantemente observados nas nossas acções, e que não existimos por acaso; por isso "rezo", à minha maneira, e além de agradecer por tudo o que me faz sentir feliz; também peço "força", e um maior esclarecimento, para entender as situações que me causam extrema infelicidade. Tenho sempre comigo esta ideia de que o que de "mau" nos acontece é com o propósito de nos fazer crescer, amadurecer; ver com maior abrangência e clareza o que sempre esteve à nossa frente e não conseguíamos atingir. O "mau" surge para valorizarmos o "bom", e tenho esta certeza comigo de que é o AMOR a chave das nossas interrogações.
SIM...a resposta para todas as interrogações está no AMOR. E tenho outra certeza: quem não (se) questiona, não vive; apenas existe. Por isso, é impossível ser feliz ou infeliz; porque "existe" na base da "cegueira, surdez, mudez, pasmaceira, superficialidade ,ignorância completa ,etc ". Está apenas, não "É" ! E reafirmo:tudo está escrito; até mesmo o "Livre - Arbítrio" que pensamos ter, e isso não significa que tenhamos de estar à espera.Está escrito que os caminhos por onde andei, bons ou maus, me trouxeram até aqui - mas também precisei do "mau" p'ra cá chegar e continuar a gostar ou não daquilo que sou hoje. A transformação continuará com as minhas ACÇÕES, porque SIM sou uma pessoa que AGE e MUITO;mas isso é o que está escrito para mim neste momento.Agora o "SER HUMANO" é apenas um elemento em toda a CRIAÇÃO e o seu grande erro é pensar que DOMINA tudo, e que é o/a CRIADOR/A.Isto que nós conhecemos ou não conhecemos não é um acaso,ESTÁ ESCRITO.Os desafios que nos são colocados, as possíveis escolhas, ESTÁ TUDO ESCRITO. Se decidirem ficar sem nada fazer é um problema vosso, mas é porque assim tinha de assim ser.É uma opinião muito pessoal e é aquela que me dá mais tranquilidade no dia-a-dia; é uma convicção, por isso falo diariamente com a "divindade" que existe dentro de mim, e que está ligada, por laços de AMOR, à "Energia" que tudo criou e tudo observa. Essa divindade é o que habitualmente se chama de Alma, e quem dialoga com a sua Alma, é com certeza muito mais feliz porque é mais "aware", mais conhecedor, saboreia a vida em todo o seu esplendor, o bom e o mau.
E o caminho de, no, e em direcção ao Amor está no verdadeiro sentido da palavra Dádiva . Não sei o que está para além da Morte do Corpo, pois de acordo com o conhecimento de que sou detentora no momento, penso que nunca “morri”; mas se a alma da minha avó Idalina me acompanha cá dentro há cerca de vinte anos é porque algo se consubstancia numa outra dimensão que os meus sentidos não apreendem. Faz todo o sentido, por isso, celebrar o Dia de Todos os Santos; pois tal como a minha avó, essas almas estão todas muito próximas, do outro lado da cortina, apenas não as conseguimos ver. Um pensamento esotérico este, também é preciso… Haja Fé !

sábado, 30 de outubro de 2010

Uff !!! Vida difícil esta...

É  sopa para fazer
 roupa para lavar
 roupa para secar
 roupa para estender
 a refeição para preparar
 roupa para dobrar
o TPC para orientar
as matérias para ensinar
 as aulas para preparar
 as casas de banho para limpar… Uff !
é o pó para aspirar
as varandas para lavar
as camas para mudar
 a roupa para brunir
 o chão para lavar e a pano passar
 a acta para acabar
 a planificação para finalizar
os critérios de avaliação para rever
 os testes para corrigir
os filhos para levar a brincar
 e com eles brincar
a reunião para preparar… Uff!
 é o plano de apoio para inserir
 a cozinha para arrumar
os filhos para banho dar
os papéis do abono p’ra preencher
os pais para visitar e mimar

 o companheiro a trabalhar… Uff!
E eu nem tenho de que me queixar.
Já foi…
viagens para fazer
Fraldas p’ra mudar
Biberões a esterilizar
Horas certas p’ra acordar
Bebés p’ra adormecer
Colos para dar
Músicas de embalar
Canções para entreter
Papas a fazer
Bocas p’ra alimentar
Mamas a gretar
Gotas para aplicar
Xaropes p’ra medir
Vapores a aliviar …Uff!
Bonecos p’ra brincar
Passos a amparar
Birras a desesperar
Choros a dobrar
Cólicas a massajar
Letras a aprender
Números a treinar
Feitios a aturar
Puzzles p’ra encaixar
Legos a construir
Sonhos para adiar
Espelho a aguardar… Uff!

E o Amor a crescer…

mas hoje,
não me fiquei só pela "intenção de escrever"....
ESCREVI MESMO !
 Vida difícil esta de mãe, de professora,
 de escritora e de MULHER !
(de Conceição Sousa )

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

" Palavra" 07.04.1993

Palavra ….é o olhar, mudo, mágico,
Desatento, vestígio de sons intensos.

Palavra…são os lábios entreabertos,
Renitentes, suplicantes.

É sua a forma que eles modelam.

Palavra…é expressão facial,  em silêncio
Que pressupõe letras infinitas
E cala-as no instante
Em que já foram ditas.
(de Conceição Sousa )


domingo, 24 de outubro de 2010

"Se eu pudesse..." 04.09.2010


Se eu pudesse…
Chamaria a mim os incautos das leis
Arrancaria dos dedos os falsos anéis
Sopraria ao ouvido velha regra em vigor
Seria banido quem traísse o Amor…

Se eu pudesse…
Apagaria do discurso a palavra banco
Arrumaria o dinheiro todo  a um canto
Atear-lhe-ia lume e aqueceria o pobre
Com as cinzas pintaria de negro luto o cobre
Do capital e do lucro nada restaria
E o homem o colarinho branco despiria…

Se eu pudesse…
Eliminaria as armas da face da Terra
As brancas, as pretas, as doenças, as tretas
Seduziria até casa os soldados da guerra
Cortinas de fumo lançaria para o efeito
Afecto, afago  e arte de sumo  em proveito…


Se eu pudesse…
Reuniria padres, mestres, espíritas e pastores
Tornaria  desprendidos humanos condutores
Destilaria nas cavernas o interesse inoportuno
Mataria com o olhar as hipócritas questões
Enraizaria o verdadeiro sentido do Uno
Alteraria por completo a alma das religiões…

Se eu pudesse…
Confessaria as minhas mágoas e as dos outros
Cobriria o planeta de pão e água pura
Destronaria a poluição e toda a fartura
Alimentaria de fé os humanos aos poucos.
Libertaria do jugo a domesticada consciência
Enterraria toda e qualquer tipo de prepotência.

Se eu pudesse…
Desmascararia as hipocrisias sociais
Baniria do toque as mentes superficiais
Encaminharia para as vulcânicas termas
Gentes e criaturas de toda a espécie
Sairiam de lá apenas as que amadurecessem.


Se eu pudesse…
Exigiria ao tempo que parasse um segundo
Silenciaria as populações de todo o mundo
Mostraria o real valor do momento
Mordiscaria um a um até o jumento
Faria com que retivessem estas simples ideias
Passado e futuro não existem no Agora
E o Presente partilhem a meias…

 (de Conceição Sousa )

 If I could...
I'd call the incautious laws legislators
I'd extract from their fingers the false rings
I'd blow into their ears an old still valid rule
Those who betrayed love would be banned soon.

If I could...
I'd erase from human speech the word bank
I'd store all the money from the world at a corner
I'd set fire to it and keep the poor warm
With the ashes I'd paint in black mourning the copper
From the capital and the profit nothing would be left
And Man the white collar would undress.

If I could...
I'd eliminate the weapons from the face of the Earth
The white, the black, the illnesses, the prattle
I'd seduce home the soldiers from war
Smoke curtains I'd launch for the effect
Affection, tenderness and sumo art would be shared.

If I could...
I'd gather priests, masters, spiritual leaders and shepherds
I'd make them uninterested human heart drivers
I'd distil into the caves the inopportune interest
I'd kill in a glance the hypocrite issues
I'd root the true meaning of union
I'd completely change the soul of religions.

If I could...
I'd confess mine and the others' pains
I'd cover the planet with bread and pure water
I'd dethrone pollution and all excess
I'd feed humans with faith bit by bit
I'd free from yoke the tame conscience
I'd bury all and every kind of conceit.

If I could...
I'd unmask the social hypocrisy
I'd ban from touch the superficial mind
I'd lead to the volcanic hot springs
People and creatures from all kinds
Only those who got mature would leave the place.

If I could...
I'd demand time to stop for a second
I'd silence the populations from the world
I'd show the real value of the moment
I'd nibble one by one even the dummy
I'd make them retain these simple ideas
Past and Future aren't here in the NOW
And the Present share it( while you can) around.

By Conceição Sousa


sábado, 23 de outubro de 2010

"Francisco" 03.09.2010


Premiaste o universo com tua semente
Abalaste o deserto a caminho do ventre
Usurpada escorregas na dor do insano
Lastimas a usura do sonho profano
Aceitas o fado abraçando o menino
Libertas o estado em defesa do mimo
Uivas solene no teu eremítico recanto
Rematas o torpor que te causa o pranto
Divagas confusa longas horas a fio
Esqueces-te de ti e matas o temido cio
Síndrome de Down dizem-te com desdém
Amparas a angústia do que aí vem
Respeitas a mente do corpo franzino
Mudas as fraldas moendo o destino
Ajeitas  a roupa em teu nado crente
Nomeias palavras em ânsia demente
Desdenhas olhares vidrados  ferida
Abandonam teu filho com ar de fingida
Contemplas perdida teu rosto de mãe
Ofereces em manto invisível teu bem
Numeras os dias, os meses, a lua e o chão
Confortas  demais quem come teu pão
Enfeitas nosso mundo de paz e amor
Imerges no lago do acaso  em suor
Cativas teu filho em calor desprendido
Aluis perante ele e seu sorriso querido
Oras sua existência e agradeces a data
Em que foi concebido e to deu a bata!

(de Conceição Sousa )

"Ode à Mulher" (01.09.2010)


Simples, contida é esta mulher
Ama a vida e sabe o que não quer
Levanta o ânimo dos que a escutam
Enfrenta o pânico daqueles que lutam
Tece o bem em linha de renda
Testa o desdém de quem está à venda
Emenda, emenda e emenda...
Atura paciente a dor alheia
Remata contente na hora da ceia
Morde a injustiça e apega-se às letras
Age sem pena, não tolera tretas
Nasce a cada dia, embora sempre lá
Duvida por norma, mas permanece cá
Acalma, acalma e acalma...
Nada como peixe no rio do dó
Anima assim mesmo na garganta o nó
Tudo sonha e tudo perde
Aspira o chão mas até esse cede
Lastima a vida que não teve
Inflige nos queixosos o poder da resistência
Ataca, ataca e ataca a neurótica anuência
Afasta íntegra o lado negro do estar
Lança de luva branca o verbo amar
Inspira, na perfeição, o dar a outra face
Canta alegre os momentos em que renasce
E cresce, cresce, cresce...
Encaixa o dom de saber ser
Lapida no espírito um toque de mulher
Intui no porte daquele que sabe
Sofre pelo outro sem fazer alarde
Actua, actua e actua...
Cativa pela constância do doce lidar
Usurpa o trabalho que não quer o par
Sustenta no doméstico  a aura do coração
Torce o estendal da eterna devoção
Oferece a mão-de-obra no aspirar da alma o pó
Desvenda no brunir um acarinhar do que está  só
Incrusta no espírito a receita do incondicional Amor
Amamenta, amamenta e amamenta todo o tipo de dor...

( de Conceição Sousa)