-E o que é uma mulher que se abstrai do tempo, do espaço, de tudo e de todos e escreve, de forma apaixonada, sobre o íntimo de tudo e de todos, o seu íntimo pois?
-Alguém que de paixão não tem nada, que busca incessantemente não desistir do seu tempo ( vazio, atrás de vazio e mais vazio...) e ocupa-o com a criação obsessiva de paixões umas atrás das outras, corre na direcção da paixão perfeita, e... enquanto arquitecta os alicerces da casa, do jardim, do céu e da cascata, esquece que o vazio acontece.
- Só isso?
- Sim, só isso. Apenas a maior das contadoras de histórias a si própria. Achas mesmo que se estivesse a viver uma grande paixão - e olha bem para a palavra que apliquei: viver -, estaria a escrevê-la? As paixões ou se vivem ou se desistem, não se escrevem. O que se escreve é a ocupação do tempo vazio.
(Conceição Sousa)
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