Está sempre a acontecer.
Acredita que não vi, não ouvi, não cheirei, não toquei, não saboreei.
Acredita que nem p'raí olhei.
E num mesmo hiato de tempo, falamos a mesma língua, as mesmas palavras,
as mesmas imagens, os mesmos odores, os mesmos sons,
os mesmos paladares, o mesmo toque.
Acredita: sei que aí não estive -
pelo menos da forma comum que estar é.
Há algo a aproximar-nos, algo a sintonizar-nos, algo no cosmos -
ou uma porta diferente que se aprumou e abriu em nossos cérebros,
uma espécie de fibra óptica que faz com que o pensamento chegue até nós
(de ti para mim e de mim para ti)
antes de o ser na ponta da língua, dos dedos, da pele.
Estou em crer que quando acabar de registar estas palavras, já tu as disseste,
e quando abrir a janela p'ra te ouvir,
só me sussurrarás, o que já sabemos, porque to estou, agora, a pedir.
Explica-me.
(Conceição Sousa)
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