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domingo, 13 de janeiro de 2013

penas

A menina, que conhecia o mundo ia p'ra 9 anos, carregava, como de costume, nas duas mãos, duas sacas bem pesadas de mantimentos, que trazia da mercearia do bairro onde a avó morava. Lá, a D. Josefa, deixava pagar fiado - e a avó, quando recebia a reforma, abatia a conta que alimentava os netos. Ainda eram cerca de dois km até casa, e as sacas pesavam nas articulações dos ombros, mas tinha de andar, os irmãos precisavam de comer. Então - lembra-se -, dava por si a fazer fintas à mente " Imagina que o que trazes nas duas mãos são duas penas de galinha muito leves, levezinhas, e que vais a brincar com elas. És uma bailarina do Lago dos Cisnes, e danças em bicos de pés. Dentro de umas sabrinas de algodão doce, deslizas, em pleno Inverno, no reflexo envidraçado do lago, onde vês muitas penas a esvoaçar." Sem saber como, chegava a casa e nem se apercebia do peso que havia carregado, nem das paisagens que havia visto pelo caminho, nem das pessoas com quem tinha falado, nem sequer do tempo que tinha passado. Só quando pousava as sacas, as dores nas costas lhe diziam "É aqui a realidade. Voltaste."
(Conceição Sousa)

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