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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

ninho

Só porque acredito que, lá, algures em mim mesma,
num sítio que não consigo definir,
me velas e fazes velar.
Às vezes creio-te aqui, entre as costelas, o pulmão e o coração, no peito,
à espécie de uma mola a comprimir e a comprimir;
há alturas em que te atravessas na garganta, mais ou menos a meio,
e inchas como uma bola de neve, o ar não entra e a voz não sai,
ou expandes-te como um incêndio e as carótidas quase rebentam;
também já te senti nas pernas, ali pelos lados das canelas,
uma dor fininha que me tira a força e faz vergar os joelhos;
ou por toda a pele, quando se eriça,
aí acho que te alastras que nem um vírus ou uma bomba nuclear;
mas quando bates na nuca, que nem uma tacada de golfe,
a seguir a um arrepio pela coluna acima,
uma corrente de ar num corredor a quem não vedaram o acesso,
meu Deus!, aí tenho a certeza...
Viajas por toda eu, depressa ou devagar,
não tens poiso certo, mas conheço cada esquina onde te encostas;
mingas até ao tamanho de uma pontada de agulha que espeta e escarafuncha,
minto, até ao tamanho do vazio quando te evaporas e me sei anestesiada;
estendes-te, inundação, por todos os poros que consegues ocupar
e em todas as fendas te derramas, sem que nada te consiga parar;
penetras no âmago dos ossos, não há dureza que te impeça a entrada,
se tens de ir, num passe de mágica, lá mostras a tua espada
e quebras o ritmo de quem te traz no andar.
E só por te saber, mesmo sem te ver, continuo neste caminho,
a confortar quem, nas minhas palavras, procura o aconchego de um ninho.

(Conceição Sousa)


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