Como narradora desta história,
o meu desfecho seria outro,
mas o raio da personagem sublevou-se
e retirou-me das mãos o destino da tinta -
e até a tinta se rebelou.
Agora, vejo-me encarcerada neste papel.
Acercada do precipício,
solto um eco medonho
"Consuma-me, ente diabólico.
Devolve-me o que nunca possuí: tu.";
e, na volta de página
( sem saber se haverá volta),
aguardo a tua decisão:
a minha vida na tua mão.
Até a tinta se recusa a escrever-nos,
mas é nos espaços vazios que nos temos.
Eu, personagem muda,
continuo a sussurrar-te nas entrelinhas
"amo-te, vê lá se te avias."
*
(Conceição Sousa)
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