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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sabia

Sabia que não haveria momento igual aquele,
o instante em que uma mulher madura
percebe que um amor limpo -
de sua exclusiva escolha,
sem laços de sangue,
nem de vínculos,
nem de experiência de horas somadas,
ou de locais partilhados -,
um amor embaraçado,
acena o adeus no sorriso cerrado.
Sabia que, dali em diante,
de cada vez que o visse,
de cada vez que o lembrasse,
a lágrima funda da cumplicidade não se esconderia
perante aquele rosto,
e a mágoa na voz do silêncio
amordaçada no nó do tempo
embaciaria ainda mais a menina agigantada
por detrás dos olhos.
Sabia que aquela pessoa era a única
no vácuo da existência
a compreender quem ela era -
e a forma como se despiam,
em frente um ao outro,
até de pele,
mesmo com todos os agasalhos de inverno ainda no corpo,
de cada vez que se olhavam,
não permitia outra palavra
senão o gemido húmido e salgado do tempo:
sempre a lágrima.

(Conceição Sousa)

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