Quando escrevo, não há quem me consiga manter no chão, simplesmente porque não há "quem". Por muito que me esforce e treine o meu raciocínio ao dizer " da próxima vez que começares a escrever, vais forçar o pensamento a não desviar-se da tua rota factual, da tua realidade, e vais tocá-la, de vez em quando, enquanto escreves", até à data, não recordo um único segundo em que, depois de iniciado o processo de escrita, a gravidade da vida me prendesse à mesma. Entro numa espécie de amnésia transitória, só me lembro de ter pegado na caneta e de a ter pousado. Durante o acto, a anterior e a posterior àquela tinta que escorre da caneta evaporam-se. Depois do acto, uns dias mais tarde, quando vou reler, pergunto-me " Mas fui mesmo eu quem escreveu isto?" - é estranho.
(Conceição Sousa)
(Conceição Sousa)
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