Quando escrevo,
não há quem me consiga manter no chão,
simplesmente porque não há "quem".
Por muito que me esforce
e treine o meu raciocínio ao dizer
" da próxima vez que começares a escrever,
vais forçar o pensamento a não desviar-se da tua rota factual,
da tua realidade,
e vais tocá-la, de vez em quando, enquanto escreves",
até à data, não recordo um único segundo em que,
depois de iniciado o processo de escrita,
a gravidade da vida me prendesse à mesma.
Entro numa espécie de amnésia transitória,
só me lembro de ter pegado na caneta e de a ter pousado.
Durante o acto, a anterior e a posterior
àquela tinta que escorre da caneta evaporam-se.
Depois do acto, uns dias mais tarde, quando vou reler, pergunto-me
" Mas fui mesmo eu quem escreveu isto?" - é estranho.
(Conceição Sousa)
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