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domingo, 26 de maio de 2013

rasguei


Rasguei tudo o que de ti veio,
os livros, os jornais, os emails, os uis e os ais.
Queimei tudo, em lume brando,
e fiquei ali,
de olhos secos e especados e lábios cerrados
a ver as cinzas subir;
e fiquei ali,
a sentir o negrume a entrar,
a vida que não me quis a ir.
Rasguei e queimei tudo o que de ti veio,
senti o teu coração a estilhaçar-se
e o fogo no teu olhar a consumir-me.
Rasguei-me e queimei-me no mundo
só para que sentisses
a tua mão no crepúsculo do meu cabelo rubro a esvair-se.
Uma fagulha de fricção leve,
dois incêndios em leitos de torrentes imparáveis,
margens apostas nas vidraças boreais:
o arco-íris só para os demais.
Falto eu
para que nada de ti sobre.
Falto eu, rasgo e labareda,
o beco sem saída da pobre.

 (Conceição Sousa)
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