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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

E o menino cospe,

grita,

esbraceja,

arremessa o que vem à mão para qualquer lado,

numa fúria que não olha a quem,

nem ao quê,

nem ao quando,

nem aonde...

o menino mima o gesto do choro

(coloca as mãos em frente ao rosto, baixa a cabeça)

e diz,

numa linguagem que não reconhece ainda o som "rrrrrr":

- Vou cholále! nheeeee, nheeeee, nheeeee!

Não chora de verdade,

não se vêem lágrimas de verdade, mas...

chora mesmo,

e chora repetidas vezes,

e chora com intensidade -

com a intensidade de quem conhece bem as rotinas

(pois sabe que naquele shopping específico,

que visitou apenas uma vez,

ainda bebé,

a mesa dele não é aquela onde se sentaram,

mas aqueloutra,

a que está ocupada -

e não deveria estar),

chora com a intensidade de quem sabe que naquele dia,

todas as semanas,

àquela hora,

o pai deveria vir buscá-lo,

o pai deveria levá-lo com ele p'ra sua casa,

o pai, que muitas vezes falha e,

especialmente em dias de grandes jogos,

não vem.

(Conceição Sousa)

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