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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sítios

Em todos os sítios por onde passámos

ainda estamos,

vejo-nos lá,

com outros gestos,

com outras cores,
com outras palavras

e outros silêncios

e outros odores.

Olha-os, lá.

Amam-se.

Amam-se

como se não houvera amanhã -

e não há.

Olha-os, lá.

Beijam-se.

Beijam-se

como se a saliva secasse -

e seca.

Olha-os, lá.

Abraçam-se.

Abraçam-se

como se os braços caíssem -

e caem.

Olha-os, lá.

Caminham de mão dada,

como se as mãos murchassem -

e murcham;

como se o trilho ficasse por fazer -

e fica.

Olha-os, lá.

Encostam o rosto

como se a pele escolhesse -

e escolhe.

Olha-os, lá.

Aprendem a cor dos olhos

um do outro,

um sem o outro,

como se a vida cobrasse -

e cobra.

Olha-os, lá.

Sorriem os dias intermináveis

como se os dentes apodrecessem -

e apodrecem.

Olha-os, lá.

Confiam-se palavras e silêncios,

esgares, amuos, deslumbramento,

como se só a cumplicidade os compreendesse -

e compreende;

como se só o que são fora eterno -

e é.

Olha-os, lá.

Em todos os sítios por onde passámos

ainda estamos,

não vês, meu amor.

Só falta... cumpri-los:

aos sítios, ao tempo,

a eles

e a nós.

Fazes-me muita falta.

É. Amor.

E mais qualquer coisa que não sei definir.

(Conceição Sousa)

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