Por que me perguntas, mãe, o que tenho,
se não me apetece falar?
Olho para ti,
os teus olhos a quererem dizer que me amas,
e os meus a não conseguirem acreditar.
Se me amasses de verdade,
não terias discutido com o meu pai,
não terias lhe dito que gostas de outro,
não terias casado com ele,
e não estaria o meu irmão a caminho -
mas dessa parte até gosto, confesso;
não to digo.
Por que me perguntas, minha mãe,
o que tenho,
se sabes que não irei falar?
Falar o quê?
Aquilo que já estás farta de saber?
Já nada posso fazer para que tudo volte a ser como antes,
já nada te posso dizer que faça
com que tu e o meu pai voltem a amar-se.
Lembro-me, muitas vezes, de quando éramos felizes,
de quando sorríamos juntos,
de quando éramos uma família.
O Natal. O Natal é sempre o que custa mais.
Por que me perguntas, mamã, o que tenho,
se sabes que tudo o que te diga
não trará de volta o meu mundo, a minha vida?
Por que me perguntas, minha mãe,
se sabes que não queres ouvir o que tenho a dizer-te?
Por que me perguntas, mamã?
Sabe bem a pergunta, mãe.
Sabe bem saber que te tenho.
Sabe bem ouvir:
Não queres falar, pronto.
Dás-me, pelo menos, um abraço?
Mas ainda dói muito, mamã. E abraço-te.
(Conceição Sousa)
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