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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Aqui jazem

Sinto falta do teu calor, meu pedaço de carne viva.
Sinto falta daquele fogo que me mordisca a pele
e me diz que sou aqui, que sou agora,
que sou sangue que ferve e se demora no interior das veias...
sem rupturas, sem fugas de líquido a jorrar de quente,
a esvaziar o denso da temperatura que o sustém.
É a febre no bafo a gotejar ausência de palavras,
no rubro do tom cálido da tua voz agra,
que me diz o sorver gemido em me quereres,
em nos saberes do tempo dos fluídos que se derramam
(ainda mornos),
do tempo dos ossos que se estilhaçam
(ainda quebram)
nas frágeis cascatas do lume que avisa -
sintoma da chaga que não fecha o limite pungente da morte que vem,
que não quer sorrir ao tempo dos corpos que fluem e se molham nas termas , nos termos, do que ainda se é, do que ainda se tem.
Vem, meu pedaço de carne húmida, quente e rubra.
Vem, meu pedaço de gente não hirta, não pálida, não morta.
Vem, meu pedaço de ar inspirado,
e suga-nos até que nos coloquem numa mesa, rijos, enegrecidos e velados.
Aqui jazem...
(é pena, enquanto puderam nem sequer se consumiram em consumirem-se.

Agora é tarde.
Agora? Não há agora.)

(Conceição Sousa)    *

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