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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Não te amo, confesso.


Eu tinha frio, amor. Entrei na cama, gelada. E tu estavas lá. Fervias. Devagarinho, coloquei as costas do meu pé no teu pé.Devagarinho, para que não sentisses o choque térmico, mas tu logo me embrulhaste entre o calor dos teus braços e das tuas pernas. Escaldavas - e eu tão gelada. Doeu-me a tortura a que te submetias, pois sei que o contrário não aconteceria. Não te amo, confesso. Sem ti, não sobreviveria. Estava gelada, pois; e tu ofereceste-me, naquele instante, a melhor parte de ti, enquanto a trocava pela pior parte de mim. Não te importaste, e até o quiseste, desde que me sintas gelada e, lentamente, a deixar de tremer, respiras o meu precisar-te - disseste - e isso sabe-te a viver. Não te amo, confesso. Sem ti, não sobreviveria. É tanta a dádiva que me concedes, sem que eu o retribua, que, agora, assim à distância de uns anos, te digo: Não te amo, confesso. Sem ti, não sobreviveria. És um carinho ameno que foi, devagar, entrando e, sem que me apercebesse, lentamente me ocupando. Não te amo, confesso. Sem ti, não sobreviveria.
As minhas entranhas não suportariam ver sofrer quem depositou nelas o meu ser.
Não te amo, confesso, tal como não amo a minha pele, os meus ossos, o meu sangue, o meu respirar, porque nem sempre os vejo, nem sempre me lembro deles, nem sempre os penso, mas a verdade é que sem eles seria impossível estar.
O que quero dizer-te é: vivo e sou quem sou porque o amor maior está no que está sempre e por estar sempre olvida-se.
És da minha natureza, amor.

(Conceição Sousa)

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