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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

as lágrimas

as lágrimas, que insistem em abraçar os olhos,
embaciam a dura realidade – neblina
de protecção à dor da verdade.
as lágrimas que queimam nos cantos da carência,
e ardem nos sem ar: bustos da ausência.
as lágrimas, com vida própria,
que caem soltas gemendo o rosto,
que nem cicatrizes de água,
afundam: permanente mágoa: desgosto.
as lágrimas que me acariciam
no âmago de a ti chegar,
que me lavam as preces
carpidas em cada dormir,
em cada por ti acordar.
as lágrimas que, em água e sal,
na alma se fazem,
algures, por dentro da carne –
e, no corpo, lá, onde não se vê,
em água e sal consubstanciam o sentimento,
a dor de existir no quase por vir.
as lágrimas que, de Deus escorrem,
deidade chuva,
em cada idade aligeiram
o pesado estar de todos quantos morrem.
as lágrimas, que me beijam a toda a hora,
são cansaço de amar, resignada demora,
amantes de mim e de ti,
lacrimejar de tudo e de nada,
vivência adiada, sonho que chora.
as lágrimas que, gota a gota, contadas,
desilusões, tristezas , alegrias,
e vida
somam, pela vida fora.


(Conceição Sousa in "ai.como dói.esta dor.")

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