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domingo, 18 de novembro de 2012

Vais para um sítio bom.

- Descansa, vais para um sítio muito bom.

De repente, em redor daquela mesa, instalou-se um silêncio estranho. Todos os olhares estáticos e todas as bocas semi-abertas conduziram o movimento de rotação do pescoço na direcção daquela voz.

- O que foi? Disse alguma asneira? Foi com a minha voz habitual que ouviram as minhas palavras habituais, não?

- Não é isso. Foi estranha a forma como disseste o que disseste no timing em que o disseste - alguém se pronunciou.

- Dizer " Descansa, vais para um sítio muito bom" é estranho?

- Sei lá. Senti um arrepio. Acho que sentimos todos quando, assim do nada, te debruçaste sobre a tia, puseste-lhe a mão no ombro, olhaste-a fixamente nos olhos, e o disseste.

- Esta gente está louca! Então não é fácil de ver. Alguém que passa uma vida inteira a dedicar-se ao bem-estar dos outros, e se sente feliz assim, só pode ir para um sítio muito bom. Não tem nada que saber. Aliás, já lá está, tem estado lá, desde sempre, apenas ainda não o sabe.

- E eu? Também vou para um sítio muito bom? - questiona alguém do outro lado da mesa.

- Sei lá eu? Mal te conheço, como é que vou saber se vais para um sítio muito bom. Tu lá sabes o que tens feito a vida toda.

Novamente um silêncio estranho, como se aquela voz tivesse ditado uma sentença de morte má a quem se atreveu fazer a pergunta.

- Olhem! Desisto. Já ninguém pode abrir a boca hoje em dia. Cruzes!

(Conceição Sousa)

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