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sábado, 10 de novembro de 2012

mereço

Mereço que me fales ao ouvido,
e que me afagues o olhar;
mereço que me dispas com a ternura
de um traço a começar...
Mereço que teus lábios dancem
o tom exacto da minha pele,
e que a tua língua percorra
toda a distância do papel: o nosso.
Mereço o gemido solto do rubro da rosa ahhhhhh!,
o êxtase fundo do crivo na prosa.
Mereço o poema onde escrevo a nossa eternidade,
a ausência de fôlego no extenuar do arrepio,
o suor que não corre nem tapa o frio,
a unha romana de felino: mio.
Mereço a total entrega
sem frete nem asco,
o amor que se não nega na golada do frasco.
Mereço o rompante que não trava
e o uivo que erege auuuuuuu!,
o caminho que não nos pede nem perde -
o que rasga e crava a letra que se escreve.
Mereço não precisar de pensar nem de sentir
a palavra mereço.
E é tão somente isso: (a)pagar.

(Conceição Sousa)

*

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