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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

E o menino cospe,
grita,
esbraceja,
arremessa o que vem à mão para qualquer lado,
numa fúria que não olha a quem,
nem ao quê,
nem ao quando,
nem aonde...
o menino mima o gesto do choro
(coloca as mãos em frente ao rosto, baixa a cabeça)
e diz,
numa linguagem que não reconhece ainda o som "rrrrrr": 
- Vou cholále! nheeeee, nheeeee, nheeeee!
Não chora de verdade,

não se vêem lágrimas de verdade, mas...
chora mesmo,
e chora repetidas vezes,
e chora com intensidade -
com a intensidade de quem conhece bem as rotinas
(pois sabe que naquele shopping específico,
que visitou apenas uma vez,
ainda bebé,
a mesa dele não é aquela onde se sentaram,
mas aqueloutra,
a que está ocupada -
e não deveria estar),
chora com a intensidade de quem sabe que naquele dia,
todas as semanas,
àquela hora,
o pai deveria vir buscá-lo,
o pai deveria levá-lo com ele p'ra sua casa,
o pai, que muitas vezes falha e,
especialmente em dias de grandes jogos,
não vem.

(Conceição Sousa)

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