Ela não suportava o pedestal da outra -
da que, a todas as horas, exibia, triunfante, a coroa de espinhos;
da que, com um sorriso pérfido, se equilibrava no trono que era ele
( e repetia as palavras que eram ele).
Ela não suportava saber-se a boba da corte -
a boba mais amada da corte, diária, do seu rei;
a boba mais querida da lágrima esquiva do seu ninho.
E, de cada vez que a rainha ( no seu pedestal) questionava o espelho, este respondia:
- Vai lá, vai lá ao sítio onde a boba mora, e vê.
- Vai lá, vai lá ao sítio onde a boba vive, e ouve.
- Vai lá, vai lá ao sítio onde a boba ama, e sente.
- O que é que viste, ouviste, e sentiste?
E, agora, a boba pergunta-te:
- Por que razão continua a vir aqui todos os dias, Sua Majestade? Ah!,ah!,ah!,ah!
(Boba da Corte, lembras-te?)
(Conceição Sousa)
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