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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

chora. faz parte. chora muito.

estás a chorar? não chores.
ou melhor: chora. chora muito.
rápido.
procura.
procura o canto mais escuro, o canto mais recôndito, o canto
mais canto da tua casa.
fecha-te aí.
aninha-te aí. aninha-te sobre ti próprio.
enconcha-te em ti mesmo. abraça-te.
e chora.
está escuro? tem de estar tudo escuro.
há silêncio? tem de haver silêncio.
estás aninhado? estás abraçado?
no escuro? no canto mais canto da tua casa? fechado?
no silêncio dos outros? no teu choro?
escuta: ainda o teu choro?
não. cantas.
cantas aquela canção de embalar. embalas-te a ti mesmo no berço.
balança-te.
abraça-te. afaga-te. beija-te.
e canta aquela canção de embalar.
então? sentes-te melhor? já passou?
respira fundo. mais uma vez. respira fundo.
agora: levanta-te e...
mundo!
estou a mandar. és tu que mandas:
mundo!
vai ver o sol. vai ver a lua.
vai ser do dia. vai ser da noite.
vai respirar o vento. vai congelar na lima.
vai mar adentro. vai montanha acima.
estou a mandar. és tu que mandas:
mundo!
sorri ao vizinho. acena à criança.
pisca o olho ao tal.
na rua, um passo de dança.
dá um grito para o ar. ecoa no verde do vale.
põe o pé no rio. não. mergulha todo sem brio.
sente o calor na pele. prova o doce do mel.
arrepia na aragem da madrugada.
atenta no latir da canzoada.
arranha no miar do gatil.
estranha. mas não te abatas no canil.
chora. faz parte. chora muito.
mas salva-te, e a outros mil.

(foto tirada ao poema no livro "ai.como dói. esta dor", edição de autora, Dezembro 2011)

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