Era evidente o desejo que aquele vulto, encarcerado naquele corpo deveras estranho, lhe despertava. Queria chegar lá, ao que intuía mas não conseguia alcançar com o que os seus próprios olhos lhe davam a ver; queria tocar lá, fisicamente, no que é (dizem!) impossível de tocar fisicamente - e até sabia que, por muita carne que devorasse, por muita pele que percorresse e desgastasse, por muitos fluidos que em seu próprio corpo, daquele outro ( o de lá) se entranhassem, não havia forma de o indelével viajar junto e se deitar, num sono compartido e quimicamente (factualmente!) reactivo, com a espécie de névoa sem poiso certo presa nos caminhos da matéria do corpo de cá. E como o seu grau de satisfação está nessa fronteira ainda por inventar, pode-se dizer que o seu desejo será sempre algo por matar. Desistir tem sido o caminho dos sensatos. Do outro lado estão os loucos. E ela, embora goste, não quer ser louca.
(Conceição Sousa)
(Conceição Sousa)
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