Tu vives, muito tempo, dentro de um círculo.
Habituas-te a movimentos rotineiros e mecânicos
que todos fazem dentro desse círculo.
Durante muito tempo,
desconheces que há mais p'ra lá desse círculo -
e que há mais p'ra cá desse círculo.
Chega uma altura em que alguns (só alguns...) resolvem inventar novos movimentos,
dentro do círculo.
E começam...
é aí então que o círculo começa a apertar,
a abafar, a estrangular.
Desses alguns, poucos, insistem em manter os novos movimentos.
Outros acabam num minúsculo ponto
(de tanto que o círculo aperta)
no centro do círculo,
e, com o tempo, evaporam-se,
desfazem-se, apagam-se.
Ainda dos poucos que continuam a insistir nos movimentos novos
(que, para eles, já deixaram de ser novos!),
alguns, raros, encetam um passo temerário para fora do círculo.
Desconhecem se o que está fora do círculo é melhor, pior, ou igual,
mas sentem que, se não arriscarem, morrem.
E vão.
Descobrem, deliciosa e penosamente, que há muitos mais círculos,
muito mais a explorar,
a sentir - e que até pertencem, desde sempre, a alguns desses outros círculos;
que lá existem movimentos, que sempre foram seus, mas que rareavam no círculo anterior.
Identificas-te.
Tentas aproveitar o melhor de todos os círculos.
A questão é:
será que os outros círculos tentam aproveitar o melhor de ti, círculo?
(Conceição Sousa)
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